domingo, 25 de outubro de 2009

Trilhas da Ilha - Praias & Trilhas 2009

Mais um Praias & Trilhas e o resultado não poderia ser melhor. Largamos às 7:30 lá na caieira da barra do sul depois de madrugar às 4:00 . Trotamos no asfalto até pegar a trilha pra naufragados onde a coisa começa a ficar boa, aí então rumamos para o pântano do sul por trilhas bem íngremes e fechadas. Na vila do saquinho o primeiro posto dágua ajudou a aliviar o que seria um dia quente para a estação. Passei a solidão e encontrei o William que estava na praia dos açores e seguimos por um tempinho, até ele voltar pra acompanhar o pessoal

Depois disso a corrida no pântano do sul foi um alívio e a possibilidade de progredir rapidamente, deu pra mandar uns Kms a 5:30 e então chegamos no primeiro posto de alimentação. Lá o Aracajú e a Cínthia esperavam o Varela para trocar no trio e eu segui bem nutrido rumo à Lagoinha.

A Lagoinha do Leste é sempre especial, não me canso de admirar aquela praia lá de cima do mirante. Areia boa, mas vento terrível no nariz. As areias vinham voando rasteiramente e lixavam as canelas, o boné não podia ficar na cabeça. Quando começou a trilha para o matadeiro um carinha comentou que não aguentava mais pedras no caminho. Fiquei pensando se contava pra ele a realidade ou o deixava descobrir sozinho: essa trilha é a mais técnica de todas, pedras o tempo todo. Neste ponto eu estava me sentido tão bem que estava até preocupado.

Quase na praia ouvi uns passos e era o Aracajú que vinha turbinado, corremos juntos até o PC da armação onde a Cínthia se mandou e eu fiquei pra abastecer. Quando saí nas areias cruéis para o morro das pedras já quase não a avistava. Andei e xinguei bastante aquelas areias, até que cheguei no asfalto e tomei um caldo de cana e me enchi de vontade de detonar até a joaquina.

O primeiro Km foi uma festa, inteiro, abastecido e correndo sobre areias duras. Aí veio a constatação: maré cheia, ventão nordeste. A coisa se transformou num arrasto de dar dó, andar demorava e cansava muito, tentar correr era muito difícil e causava dores por tudo que é lado. Tudo realmente é relativo, pois os trios passavam fortes em pernas novinhas, as nossas é que estavam podres. Perto da praia do campeche a coisa sempre melhora, até me animei mas ao abastecer no posto dágua o fiscal me desiludiu: "a areia tá uma bosta até a joaquina".

Fui do jeito que consegui até a joaquina, lento que só, mas perseguindo uns da individual e tentando fugir de outros. Os trios passavam levantando poeira a despeito da meleca onde corríamos. Cheguei na joaca em 6h06min. Não quebrei, estava muito bem, mas a natureza contrabalancou a fisiologia com aquela areia e vento. De qualquer forma, estava intacto para mais um dia. Conferi na pesagem que o mundo livrou-se de 2,5 Kg de mim.

Logo depois chegaram os demais, Taty em 6h24min, Tiago em 7h05min e o Hélio e o Anastácio em 7h11min. Muito bem para um primeiro dia tão dureza. O trio chegou em 5h45min, a Cínthia voou nas areias, acho que catou uma vela de kitesurf no meio do caminho :-)

Toda a função de finalizar uma prova é duplicada pelo trabalho de se preparar para outra, pois assim que chegamos a idéia é recuperar o mais rápido possível para largar de novo em menos de 18 horas. Assim, segue-se massagem na fisioterapia, gelo nas partes doloridas, alongamento, muita comida, se mandar pra casa, lavar as imundices principais, descansar, dar sinal de vida pra família e preparar os equipos pro dia seguinte. Neste meio tempo ainda saí pra jantar com a Daiane e me atrevi a pedir um vinho, mas só tomei uma taça. Boa coisa resultaria disso, pra contrariar os céticos.

Aí então lá fomos novamente. O Rodrigo nos acompanharia neste dia e seguimos em dois carros até a joaca. Chegamos em cima da hora, pesagem obrigatória, checagem de equipos e larguei depois de alongar 30 segundos a perna esquerda, foi na estica.

O Anastácio correu descalço nas dunas, eu fui de tênis molhado do dia anterior e logo tinha duas milanesas nos pés. A despeito da avançada tecnologia goretex, vi uns corredores com uma idéia sensacional: amarraram saquinhos de supermercado nos tênis, assim livraram-se de todas as areias que entrariam nas dunas. Simplesmente arrancavam aquilo lá no campo de futebol no beco do surfista e pronto, pés novinhos em folha.

Segui na trilha junto com o Varela, atravessamos o costão da mole totalmente desprotegido. Quando chegamos na praia é que a organização veio correndo pra por as cordas, baita vacilo. Corri com o Varela direto até o topo do morro da barra, quando ele resolveu engatar a quinta e seguir alucinado morro abaixo, não consegui acompanhar nem querendo. Aí passamos na ponte da barra e chegamos no PC alimentar. Lá o Aracajú se mandou e fiquei a abastecer, levei umas bananas e bisnagas para enfrentar a grande praia.

Corri o moçambique todinho, a menos de uns 500 mts talvez. Estava muito bom no início e no final, com trechos ruins no meio. Mas engraçado como o desgaste pega, no início ia fácil a 5:30-5:40, no trecho final não baixava de 6:10-6:20. Vi o Aracajú entrar na trilha e só depois de 10 min cheguei lá. A trilha da ponta das aranhas mesmo bem seca tinha aqueles trechos de lama preta típicos, o que me fez chegar lá no santinho bem podre depois de corrê-la quase toda (fora as subidas, que àquela altura já eram proibidas por lei).

Falei com o William e me fui depois de tomar até sopa no PC. A trilha cruel que liga o nada a lugar nenhum, aquele morro entre o santinho e os ingleses, é o requinte do segundo dia. Subimos e descemos 160 mts em 1,5 km para avançar apenas 300 mts. Depois os ingleses, exatos 5 Km de areias perfeitamente planas. Ali percebi algo engraçado: entrei em regime permanente, a FC só ia até 152 e o pace não melhorava além de 6min/km, mas neste esquema dava pra ir embora...

Entrei na trilha da brava já aos 72 Km (fica mais legal reportar a distância acumulada total :-) e passei mais um cara de um trio, aí foi correr o que dava e chegar na praia. Parei um pouco no PC e segui pelo asfalto até o início da trilha para a lagoinha do norte. Sempre achei que aquela trilha era ferrada, impossível correr. Isso é relativizado pelo estado de exaustão em que eu sempre tinha chegado ali, mas dessa vez consegui correr bastante, até subidinhas leves, e descer melhor ainda. Quando saí do PC achei que estando em 5 horas com certeza dava pra fechar em menos de 6h30. No meio da trilha fui fazendo conta e quando vi já estava na descida, aí comecei a achar que dava pra reduzir o tempo do primeiro dia. Fui indo o mais rápido que podia, até chegar nas areias da lagoinha do norte. Lá era perto, mas não era o final.

Seicentos metros de praia depois outro costãozinho e uma trilhinha totalmente corrível e finalmente a praia da chegada. Corri tranquilo e finalizei em 6h4min, um split negativo no praias e trilhas, coisa linda. Berrei, soquei o pórtico de chegada e pulei no mar. Aí fiquei gelado, porque estava ventando, chuviscando e minha mochila estava no carro com o William, o melhor apoio de corridas que existe. O resultado foi 2 na categoria e 19 no geral, melhor do que a encomenda.

Dessa vez a alimentação foi perfeita. Nada de enjôos, vômitos, zonzeira, buraco no estômago. Tudo na medida certa. Acho que tô aprendendo. Já a dosagem do esforço não poderia ter sido melhor. É muito fácil exagerar nessas provas longas e sair muito forte, além de ser muito difícil não pensar em tudo o que falta lá no início. O segredo é a dosagem. E vinho na noite anterior :-p.

O Aracajú foi embora com a Cínthia e o Varela, chegaram novamente em 5h45min. Mantiveram o tempo no percurso mais difícil e ficaram em 4o na categoria, excelente estréia. Fui pra massagem tentar desemperrar as costas, a lombar estava um lixo. Também fiquei com uma dor no joelho esquerdo que sumiu depois de 20 min de gelo e alongamento. Nisso chegou o William e logo depois a Taty, conquistando o terceiro lugar geral no feminino.

Pra fechar com chave de ouro chegou um quarteto-único, composto pelo Hélio, Anastácio, Tiago e o Rodrigo. Os quatro fizeram o percurso todo juntos, muito show de ver na chegada, fizemos o maior barulho. Foi a primeira maratona do Rodrigo :-) Mais uma vez uma corrida pra ficar na história. Valeu pessoal !!!! Parabéns a todos os que se propuseram este desafio impressionante.

Assim que sairem os resultados oficiais e fotos eu publico aqui.

3 comentários:

  1. Legal pra caramba Pina, quem sabe um dia chego lá, to treinando devagar, mas de bike do que de corrida, mas vendo o teu blog é um incentivo a mais!! Um abraço, Clécio.

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  2. que relato bacana!!!

    como é esse negócio de corda no costão?
    pra que precisa da corda???
    ui, medinho:)

    e esse saco nos pés pra proteger da areia?
    funciona mesmo?

    parabéns pelo super desafio!
    fiquei animada, com mais vontade ainda de fazer essa prova, mas sabendo que vou ter que caprichar nos treinos!
    pelo que li, cada trecho desses é mais difícil que Bombinhas...

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    Respostas
    1. Elis, esse trecho da corda foi eliminado. Mas tem outro que tem uma corda de corrimão lá na praia mole, onde o cara bateu a cabeça. Nada demais não, só ir com calma. Super tranquilo, sério.

      Sim, funciona. Não precisa trocar o tenis e não tem que ir com o pé lotado de areia fina.

      Sobre bombinhas, acho que lá tem uma trilha mais azeda, aquela primeira forte que desce de uma vez pra uma praia, com valas de erosão no meio. Mas o resto aqui é pior sim, o primeiro dia tem as pedreiras no início e o segundo no final.

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