sábado, 13 de julho de 2019

Mundial Challenge Samorin 2019

Uma prova surpreendente. Nunca esperei tão pouco de uma prova e raras vezes tive uma surpresa tão boa. Além da viagem que foi sensacional (não tenho blog de viagem então sigam a Laís no instagram :-), os dias de prova na Eslováquia foram absurdamente fantásticos.

The Championship. Um nome nada modesto para uma prova que tem tudo para crescer. Apenas na sua terceira edição, este ano teve algumas emoções fortes com o rio Danúbio ameaçando arrastar e congelar as pessoas nos dias que antecederam a prova.

Viajamos para Vienna na quarta-feira depois do Ironman Brasil. Eu ainda estava bastante cansado e sequelado de domingo. A saída de Guarulhos atrasou por problemas técnicos (tiveram que resetar os computadores do A350) e ao chegar em Madri era certo que perderíamos a conexão. Entretanto havia uma senhora acenando com cartões vermelhos de emergência logo no desembarque. Nos mandou correr, e corremos. Quer dizer, tentei. Literalmente andamos rápido e trotando por 20 min até entrar por últimos no avião. Imaginei que as malas não conseguiram correr no mesmo pace.

No desembarque, só a minha mala apareceu. Nada da da Laís ou a bike. Registros e reclamações e elas viriam num vôo 5 h depois. Havia a opção de esperar no hotel até as 13 de sexta, mas a Laís jamais perderia esse tempo de turismo numa cidade desconhecida. Decidimos pegar o carro alugado e esperar, jantando coisas de supermercado dentro do aeroporto até às 23h. Pegamos as tralhas e saímos pra Bratislava a meia noite. Uma chuvinha leve e chegamos na Eslováquia depois de 70 km quase as duas da manhã.

Na sexta pela manhã montei a bike e fui deixar a Laís no centro da cidade para turistar antes de seguir para o X-Bionic, o incrivelmente fantástico complexo de hotel, restaurantes e centro de treinamento olímpico em Samorin, a 20 km de Bratislava e centro da prova. Na verdade, provas. Haveriam provas de distância sprint e olimpica no sábado, além das corridas curtas e outros eventos. 

Peguei o kit rapidamente, explorei o local de bike mesmo e saí para pedalar no percurso ali pelas 12h sob um sol de torrar e vestido de preto. Lembrei de pegar a meia garrafa de água que estava no carro antes de me perder do caminho e sair pra uma rodovia errada. Mas estava tranquilo e segui 30 min até começar a voltar. Pernas absurdamente estranhas e potências ridículas. Guardei a bike no carro e fui nadar no complexo aquático. Que troço legal, várias piscinas e um mundo de gente nadando, não só atletas, mas crianças, velhinhos e muita gente que certamente não estava ali para competir.

Ao saír comecei a ver umas notícias da natação estar sob risco. Havia chovido muito na semana e o nível do rio estava muito alto e com muita correnteza, junto com detritos (basicamente pedaços de madeira e árvores), além da água estar muito fria. Aparentemente a natação das provas de sábado seria na piscina olímpica.

Almocei por ali mesmo e fui pra cidade encontrar a Laís. Deixamos as tralhas no hotel e fomos perambular pela cidade. Depois de bater perna por quase 3 horas, jantamos as 22. Fui dormir com um cansaço sistêmico. Tudo estava cansado, até os olhos estavam cansados de tanto ficarem abertos.

Sábado acordamos cedo e fomos direto pra Devin visitar o castelo - ficava a 15 km de Bratislava, então seria 'rápido'. Ficamos a manhã andando pelas colinas e escadas do castelo, bom pra soltar as pernas (os músculos dos ossos, talvez). Precisei, do verbo necessitar, tomar uma cerveja na base da colina, olhando pras muralhas de 1000 anos e pros campos verdes cheio de ovelhas. Voltamos pro hotel e dormi uma hora antes de ir pro X-bionic deixar a bike.

Lá o Sebastian Kienle me encontrou e pediu pra tirar uma foto. Extremamente simpático, tentou falar comigo em português (tudo bem e obrigado) e então me deixou em paz. Depois a Lucy Charles tentou me achar mas não conseguiu. Uma atmosfera muito legal no pré prova, com um sol espetacular e atletas do mundo todo preparando as bikes pro dia seguinte. Estrutura perfeita e simples: cabides para as sacolas ao ar livre e bikes em capa.

Fomos circular no complexo e então ali pelas 18 entramos no jantar de massas. Muito bom e ficou melhor ainda quando Laís descobriu que tinha cerveja. Não deu outra, comi demais e tomei uma cerveja. Às 22:00 botei as pernas pra cima e fiquei vendo atualizações no celular por 45 minutos, até parar de sentir a ponta dos pés de tão dormente que ficaram.

A prova não começava cedo, então tomamos café às 6 e seguimos pra Samorin. Lá ajeitei a transição e fui ver a largada dos profissionais. Tinha uns 800 metros até lá, então o tempo passou rápido entre voltar pra ver a transição e ir pro rio de novo pra largar. Tinha uma placa com "14C water / 18C air". Bom, não tava frio no ar, então entrei na água pra aquecer. Consegui ficar 2 minutos e saí. Aqueci pulando no mesmo lugar. Ali vi que as pernas estavam bem melhores do que sábado. Bom sinal. Fui pro curral de largada faltando 3 min.

Largamos de dentro d'água num frio de arder os ossos. O percurso era um retângulo com a ida contra  a corrente, e que corrente. Muita corrente mesmo, mas depois de muito bater braço e procurar uma esteira cheguei no retorno e aí fui um foguete pra voltar. Difícil foi fazer a curva de 90 graus para sair da água, simplesmente não ia reto de jeito nenhum.

Até que não foi ruim, 33 minutos para 2020m. Saí correndo para a T1 e cansei no caminho, quase andei, mas jamais faria isso num mundial, é falta de respeito :-). Peguei a bike e saí todo feliz pra pedalar sem nenhuma expectativa. Até começar. Assim que saí do hotel comecei a pedalar firme controlando pela sensação das pernas, sem olhar números. No mínimo, o máximo, sempre. Mesmo que sequelado. Quase corri sem o garmin mas eu queria guardar os dados... então não olhei nada até o km 30.

O circuito da bike era simples e bacana: um vai e volta todo plano, com umas vilas no caminho e um trecho de 10 km por cima de uma barragem do Danúbio, com o rio de um lado e a Hungria do outro. Sensacional aquela parte. O retorno tinha um pouco de vento mas nada demais, só o calor começando a pegar. E que prova limpa. Com largada em ondas e pedal sem voltas, daria pra colocar o dobro de atletas sem problemas. Com apenas 800, não se via nenhuma aglomeração e todas as ultrapassagens e atletas em linha respeitavam a distância de 20 m da zona de vácuo. Deu gosto pedalar nesse percurso, ainda mais pelo fato de ser 100% fechado para carros.

Olhei umas poucas vezes para a potência e vi que estava ligeiramente abaixo do normal para provas de 70.3. Um pouco mais fraco mas com sensação de moderado. Então segui só pela percepção, mas sem afrouxar, afinal era um mundial.

Entrando na cidade e no complexo olímpico comi mais um gel (o terceiro) e descalcei a sapatilha. Fiz a transição correndo e fui largar a bike. Fiz uma transição lenta e aproveitei pra beber bastante (iria me arrepender depois). Saí pra correr e vi a Laís fotografando na saída. Ela estava por tudo, na saída da natação, da bike e em vários pontos da corrida. Local perfeito pro público.

Olhei o km 1 passar a 4:09 e tirei o pé um pouquinho. Comecei a correr controlando a respiração sem ofegar demais e sem olhar mais pace até o km 3 quando achei o Jader. Corremos juntos uns 2 km e no 5 vi que o ritmo estava muito bom, até demais. Mas nada de segurar... era um mundial kkkkk. O percurso da corrida é único. São três voltas dentro do x-bionic, pegando todo tipo de terreno: areia, grama, terra, asfalto e concreto. Só tem uma subida minuscula por volta, para pegar o topo de uma barragem ao lado do rio.

A segunda volta foi firme e comecei a tomar coca cola e pegar esponjas com água gelada, pois o calor se fazia presente as 14:00. Nunca larguei tão tarde na vida, 9:40 da manhã, então nunca corri a meia de um meio tão tarde. Fez bastante calor mas nada insuportável, dado o suporte dos postos de hidratação. O segredo é molhar a cabeça.

A última volta foi mais dolorida mas ainda assim impressionantemente boa, tanto no ritmo como na sensação. E uma vontade alucinada de fazer xixi ficava cada vez mais forte. Mas sem chance joga um minuto fora num mundial.

A corrida estava tão boa que em certos momentos eu dava risadas em voz alta pensando em como estava sentido as pernas na sexta feira. Como é que pode aquilo ? Simplesmente não sei, só sei que 4 dias com as pernas empedradas, 24h de vôo e dois dias perambulando, dormindo e comendo não tão bem ainda assim deixaram as pernas prontas pra diversão.

Peguei a bandeira antes de cruzar o pórtico e cheguei feliz da vida, satisfeito de ter feito a força que consegui, sem me explodir e sem deixar sobrar muita coisa. Que baita dia ! 4h36min, corrida para 4:26/km, bike 38km/h e oitavo lugar na categoria.

Logo encontrei a turma de brasileiros na prova, ficamos nas piscinas de gelo e área de alimentação por um bom tempo antes de sair. Só fui pra Bratislava às 18h.

Ainda fomos conhecer a UFO bridge desde o topo do UFO. Saindo de lá não queria andar pelo centro pra jantar então fomos num shopping, imaginando que seria uma boa opção para jantar. Mas apesar do céu claro já eram mais de 22h e foi o contrário: só tinha um McDonalds aberto :-D.

Os quatro dias em Bratislava foram divertidos, intensos e cansativos. Para descansar, partimos numa viagem de 12 dias, 15 cidades, 5 países e 2600 km rodados já na segunda feira pela manhã. Mas isso já falei, é instagram da Laís :-).


O famoso cavalo de corrida do X-Bionic


Devin castle. Napoleão explidiu o lugar. Miserável... 
Não usam máquinas de cortar grama. Usam ovelhas. Sério.
  
Ooops

O campeão da prova. O de preto. Claro.

Natação paralela, público perto e segurança

2 minutos de aquecimento

Pequena torcedora, filha preferida :-) 

Largada 45-49

A distância era grande

E tinha escada....

Acho que gastaram todo o tapete vermelho da eslováquia nessa transição

Achei que a bike seria uma desgraça a foi boa !


Corrida na grama fugindo dos gringos

Trecho de concreto nos passeios dentro do x-bionic

Finish line

No mínimo o máximo
Visual do Danúbio desde a UFO tower 


UFO de disco voador mesmo. Tem um troço igual um disco voador no alto da torre da ponte, e lá tem um restaurante e mirante panorâmico 360 graus. Nada medieval.