domingo, 1 de agosto de 2010

Atacama - Licancabur !

Indo aos Andes

Resumo de uma viagem sensacional para o Atacama. Saímos de Floripa na sexta a noite para pernoitar em São Paulo, lá arrumamos um hotel por 6 horas até pegar o vôo para Santiago do Chile no sábado cedo. O hotel ficava num local sinistro bem no centro de SP, perto de uma praça. Para jantar a pé não havia nada perto, acabamos numa lanchonete de tipos exóticos comendo sanduíche engordurado.

Partimos para o chile num 767 lotado no máximo. Durante a viagem tivemos visível toda a cordilheira nevada, com uma breve visão da face sul do Aconcágua. Consegui ver o Cerro Cuerno e o local o acampamento base Plaza de Mulas. Saímos para andar por Santiago nas 4 horas de intervalo até o vôo para Calama, 900 km ao norte. Pegamos um bus e acabamos num centro comercial afastado do centro para almoçar. Depois retornamos em cima da hora para seguir viagem.


O cenário vai mudando de montanhas nevadas para planaltos ondulados marrons, ocres e cinza. Chegando mais perto de Calama conseguimos identificar algumas minas de lítio e de cobre lá embaixo. Pousamos em Calama e arrumei o transporte até San Pedro de Atacama numa van da empresa Licancabur.

San Pedro

San pedro é o que eu imaginava, uma cidadezinha simpática que passaria totalmente oculta se não fosse o turismo extremamente bem bolado e divulgado. Saímos num frio danado pra achar um lugar pra jantar. Fiquei impressionado com o movimento. Acabamos num restaurante com fogueira no centro e comi um salmão muito bom.

A cidade tem 2 mil habitantes e gira toda em torno do turismo. Agências, hotéis e restaurantes de todos os níveis parecem absorver toda a população. Para o tamanho da cidade, a estrutura até é grande, com museus, prefeitura, bombeiro, central de polícia, alfândega (fronteira com a Bolívia), etc. As construções são todas do mesmo padrão, praticamente tudo feito de adobe. Como não chove, é bem comum achar restaurantes com teto de palha por onde se vê o céu, o que é bonito e gelado.

Atrações

Domingo cedo foi o dia de conhecer a cidade, em 2 horas tínhamos girado tudo e fotografado todos os monumentos. Ao longe já dava pra ver o Licancabur e a cordilheira. Alugamos umas bikes e saímos rumo a Pukara de Quitor, uma antiga fortaleza inca usada para resistir aos espanhóis. Lá exploramos umas caverninhas e então fomos tentar ir até um lugar mais ao norte, mas tinha que passar várias vezes pode dentro de um rio, e gelado e ventoso como estava, sem chance.


Pegamos um atalho por uma estrada em construção e chegamos ao vale da morte, um lugar que mais parece marte. Terra e areia avermelhadas, e dunas escuras e fininhas. Saímos para andar pelo verdadeiro deserto, cenário sensacional. Uns malucos arriscavam um sandboard que empalidece perto da Joaquina, mas lá era atração. Nós ficamos perambulando e voltamos para San Pedro ao anoitecer, com uns 28 km rodados por terra a 2600 mts de altitude.




Tem muita opção de agências na cidade, e no domingo à noite mesmo fechamos o aluguel de uma pickup para fazer uns roteiros na segunda. Combinamos de pegar o carro às 8 na agência. Também fechamos o transporte e o guia para o Licancabur em outro lugar. As agências fazem grupos grandes e cobram uns U$ 350 por pessoa. Fechamos tudo por menos de U$ 100 por cabeça num roteiro particular.

Acordamos cedo, café da manhã e o Nilson e o William foram até a agência pegar o carro, fiquei acertando uns detalhes na pousada. Voltaram logo sem o carro. Parece que haviam alugado e as turistas irlandesas não tinham devolvido na noite anterior. Enrolamos e saímos pra fazer pressão lá na agência, e percebemos que o sujeito estava mentindo logo de cara, na verdade a hora pro carro retornar era 10 da manhã, e ficamos lá esperando. Meio indignados com aquilo a já temerosos, pois tínhamos fechado o tour para os geisers na mesma agência (atacama connections), rumamos para o altiplano ao sul, rumo as lagunas Miscanti e Miñique. Seguimos pela auto-estrada por 90 km passando por algumas cidades-vilarejos e chegamos até a terra batida que começava a subir, 1200 mts de subida em 15 km, até chegar nos lagos e vulcões, não sem antes ter algumas dúvidas sobre qual caminho tomar.

Chegamos na primeira laguna, deixamos o carro e entramos na trilhinha de turistas onde era permitido caminhar. O lugar é espetacular, um vulcão fica ao lado de cada lago, e umas manchas de neve, vicunhas pastando e um tico de vegetação compõe o cenário.


Decidimos andar um pouco pra aclimatar, pois estávamos a 4200 mts, então saímos da trilha marcada e subimos uma pequena colina ao lado. Muito vento e respiração ofegante misturadas, então chegamos no topo. Fotos, descanso e logo vem uma guarda-parque subindo correndo nos dar uma bronca. Descemos até o carro e fomos até mais adiante, demos uma carona pra guarda voltar até a entrada do parque e retornamos à estrada.

Seguimos para as lagunas Cejas, e depois direto para o Salar de Atacama para ver os flamingos vermelhos. Passamos pelo Ojos del Salar, um ponto turístico que é um buraco antigo de extração de sal, e aí então seguindo as vans de turismo chegamos na laguna espetacular onde a cordilheira se reflete ao por do sol. Ali todas as excursões terminavam o dia, e nós também fechamos a tarde na nossa excursão solo 4x4. Esse foi um por-do-sol espetacular, de um dia fantástico. A sensação de pequenez que se tem naquelas bandas, naquela enormidade de lugar, bem no meio entre o nada e o lugar nenhum, é incrível. Vale qualquer esforço só pra estar ali.

Voltamos para a cidade à noite e conseguimos nos perder, mesmo com o GPS e o William dentro do carro. Depois de achar a agência, devolvemos o carro, confirmamos a saída na madrugada seguinte e fomos jantar esfomeados, o dia tinha sido todo movido a quatro sandubas por estômago.

Acordamos às 3:30 da madrugada, o Nilson foi o primeiro a ir para o freezer, ficou lá na porta do hostel esperando. Quando fomos pra lá, o termômetro marcava -7 graus, e ficamos ali vendo as vans passar e nada da nossa. Nada mesmo, esperamos o que era pra ser às 4 até às 5:15, depois voltamos putos da cara para dormir de novo. A agência não apareceu, e perdemos uma manhã.
Às 8:30, quando tomávamos café e confabulávamos os desaforos que iríamos soltar na atacama connections, uma guia apareceu apressada nos chamando para ir para o tour às lagunas altiplânicas. As toupeiras trocaram o destino do nosso passeio. Ficou apavorada de tanto que reclamamos e ligou pra agência. Logo fomos nós pra lá, preparados para soltar o verbo, o que não foi de todo necessário, pois reconheceram o erro, devolveram a grana e ainda marcaram outra excursão sem custo por conta do transtorno, para sexta-feira. Perdemos o dia de aclimatar, pois os geisers ficam a 4300 m, mas saímos para um tour no vale da lua.

Muito show, esse realmente lembra o nome. Paisagens lunáticas pra caramba. Ficamos até o sol se por no topo de uma duna e depois retornamos pra cidade para preparar a ida para o Licancabur. Fomos até a Sol Andino conversar com o guia que nos levaria à montanha, o Bernardo Delgado. Sujeito franzino que não denunciava a idade, experiente e de fala mansa, bom guia, e paciente na descida.

Licancabur

Marcamos às oito na agência, chegamos às 8:15 e esperamos com o Bernardo abrirem o lugar. Mochilas preparadas e cheias, principalmente de roupa. O frio fora do comum, associado a um vento horrível tinha sido responsável por impedir cumes nos últimos nove dias. Nos advertiram na noite anterior, mas com as datas marcadas, tínhamos que ir ou ir.

Saímos pra fronteira e fizemos os trâmites de saída do chile, depois rumamos pra cima e a 4100 mts chegamos na aduana boliviana. Um quadrado de alvenaria com um sujeito dentro, mandando todos esperarem no tufão gelado que soprava lá fora. Burocracia feita, fomos para a sede do parque nacional Eduardo Avaroa, onde fica o Licancabur. Paga-se uma taxa de U$ 30 para adentrar o parque, para depois então sermos liberados para ir ao refúgio.

Este refúgio na verdade é um hotel com serviço, pois é usado nos tours que vão de san pedro a uyuni na Bolívia. Lá nos instalamos num quarto com 8 camas, mas como o hotel estava vazio e tinha vários quartos, espalhamos tudo pra dominar o território.

Almoçamos um macarrão e saímos para caminhar para aclimatar. O William falou de uma dor de cabeça, eu disse pra ele andar que melhoraria e saímos. Aquele vento era terrível. Usávamos os bastões pra andar no plano, bom pra apoiar quando vinham as rajadas. Andamos por uma hora indo contra o vento só com o nariz de fora, subimos um pouquinho nas encostras do Juriques (5700) e rumamos de volta ao refúgio, passando pela borda da laguna blanca, que estava quase toda congelada.

No refúgio bebi muito líquido e bateu o sono, então me enfiei no saco de dormir. Olhei rapidamente e o Nilson já estava apagado quando chegou um grupo enorme de franceses falantes e barulhentos. Cochilei e acordei com o Wiliam andando de um lado pro outro, irritado com a dor de cabeça

Fizemos uns sanbubas e o William passou mal ao tentar comer, piorou a dor de cabeça mesmo depois de ter tomado 3 remédios em 4 horas. Conversou com o Bernardo e se decidiu a descer pra San Pedro. Arrumou a mochila instantaneamente e logo se foi numa pickup que passou vindo da Bolívia. Lamentei a perda com o Nilson, uma pena enorme. Eu queria realmente que ele fosse pro cume.

Ficamos em dois agora. Preparamos um monte de comida, litros de chá preto (que provavelmente foi a culpa da minha insônia) e ficamos na sala principal do refúgio até umas 21 h. Como sairíamos às 4, acordar às 3:30 dava umas seis horas de sono, razoável. Fui dormir cheio de roupa, peguei o mp3 e fiquei tentando ter sono até as 22:30 quando apagam a energia do gerador e os franceses sossegaram. Aí comecei a rolar de um lado pra outro dentro do saco de dormir, que além de mim tinha uma garrafa de 1,5 l de chá, todas as coisas eletrônicas, pilhas, coisas líquidas que precisavam se manter líquidas. Uma tralha danada. Foi dando calor, até que tirei a garrafa de chá de lá. Abri o zipper dos pés e ainda estava com calor. Abri quase o saco de dormir todo, a culpa era do monte de roupas que dormi, o que fiz pra apressar a saída na madrugada. O resultado foi que dormi menos de uma hora seguida, e às 3:30 quando o despertador tocou eu já estava acordado. O Nilson também não dormiu direito, e às 3:50 já estávamos de café tomado (café mesmo, como desceu bem !) com tudo pronto pra sair.

O Bernardo apareceu às 4 horas e saímos. Um frio danado e um céu espetacular nos esperavam do lado de fora do refúgio. Entramos no carro, seguimos uns Km e pegamos outro guia com um chileno no refúgio menor pra então seguir por uns 10 km até a laguna verde e base do Licancabur, onde começa-se a escalada pelo lado Boliviano. No caminho o carro deu uns panes, parece que entupia algo que injetava a gasolina, mas era problema já manjado. Iniciamos a subida por volta das 4:50. A preocupação do Nilson, e minha, era com o frio. Eu só pensava nos pés, que mesmo a noite na cidade sempre ficavam gelados. Assim, achávamos que se desse pra aguentar até o sol sair, o cume era nosso.

Seguimos por 45 min com a luz das lanternas por um caminho que começou plano e ficou bem inclinado e com pedras soltas até a primeira parada. Fiquei impaciente por parar tão cedo, e depois em meia hora paramos de novo, o guia era um relógio suíço que nem pro próprio relógio olhava. Dizia que iríamos parar em 30 min e em 30 min parávamos.

Amanheceu a uns 4900 mts e entre congelar os dedos da mão e tirar fotos esqueci das pilhas reserva dentro da mochila (pagaria pelo erro). O sol veio e nada de esquentar, ainda marcava 12 negativos e os meus pés estavam muito, mas muito doloridos. O Nilson pegou uma luva extra comigo pois não sentia mais as mãos e seguimos pra cima. A 5300 paramos num ponto que é usado para acampamento alto, um lugar plano com muros de pedras. Fiz umas contas e achei que chegaríamos no topo em 5 horas, mas o Bernardo já foi dizendo que dali pra cima era 'mais caro', a altitude e o terreno iriam nos deixar mais lerdos do que já estávamos.

Fomos parando frequentemente para recuperar o fôlego, sem sentar ou tirar a mochila, até o começo dos grandes blocos. Aquele trecho é bem confuso pra orientar pois tapa o falso cume, que é onde se mira o tempo todo. Lá a coisa ficou mais lenta ainda e foi me dando uma letargia que nunca senti. Era sono mesmo, vontade de fechar os olhos e dormir. Fiquei preocupado em como é que desceria, mas concentrei em apenas por um pé na frente (ou acima) do outro e segui determinado a não parar de forma nenhuma. Tínhamos tido sorte com o frio (dias antes estava bem pior) e o vento vinha da outra face, então condições haviam, era só questão de sofrer o suficiente.



Numa parada comi castanhas, fiquei bem enjoado, dali em diante o Nilson também já não comeu mais nada, eu ainda comi um gel. Tomamos todo o chá e 4 gatorades na subida. Uma garrafa dágua com sais congelou dentro da mochila e só saia um pouquinho irritante, pior que um camelback congelado.

No cume falso o Bernardo falou que só faltava um trecho, mas levou 40 min e duas paradinhas pra fazer aquele percurso minúsculo, até finalmente plantarmos os pés lá em cima ! Que visual ! 5950 mts de um desafio um pouco descabido em função da pouca aclimatação, mas foi muito recompensador botar a cereja no bolo da viagem. Que cansaço sistêmico eu sentia ! Subimos em 7h10mim, mas pareceu uma eternidade. Comemoramos, tiramos fotos com o que restou das pilhas e ficamos lá quase deitados no chão para fugir do vento. Deitar quase me fez dormir. Logo o Nilson lembrou que só acaba quando termina, e ainda faltava descer tudo. Eu queria descer até a cratera pra ver o lago de perto, mas todo congelado como estava e com a minha exaustão achei melhor não desperdiçar energia nenhuma, andamos até o ponto onde se inicia a descida e esperamos o Bernardo, que tinha caminhado até o outro lado da cratera para tentar ligar por celular a San Pedro pra dizer a hora em que o transporte deveria esperar na fronteira. O outro guia e o chileno já tinham se mandado.

O Bernadro queria descer em duas horas, pois era 'só uma descida trotando em rampas de cascalho'. A descida pela rota da subida seria realmente muito demorada até 5600, onde acabavam os grandes blocos. Mas o cascalho ali era diferente. Eu esperava umas pedrinhas, tipo limão. Mas as pedras eram variadas, todas soltas, indo da azeitona até uma melancia. Cansado como estava logo tomei uns tombos tentando descer aquilo rápido, um sério onde dei uma baita porrada com a canela numa pedra. O Nilson também vinha com cuidado, mas quando tentou correr tropeçou e quase foi de frente. A inclinação era muito grande, e uns passos pra baixo produziam metros de avalanchezinhas de pedras variadas. Foi lento descer. O guia dava uma corrida, pulava, tropeçava e parava uns 15 min esperando-nos, aí corria de novo, e nós fomos assim até 4700, uma descida direta de 1300 mts. De lá o caminho ficava menos inclinado e mais uma hora de caminhada nos levou até o carro que nos esperava. Descemos em 3h40. No carro fiquei realmente enjoado, mas também com muita fome. Secamos a água na descida e fui desesperado até o refúgio, 12 km em 40 min de deserto mesmo no carro era muito lerdo, que dirá fazer aquilo andando. Bebi muito, empurrei um sanduiche congelado e logo seguimos pra fronteira, onde chegamos como o motorista já impaciente de tanto esperar. Fizemos a imigração contrária e às 18 h já estávamos em San Pedro.

Na van de retorno, o Nilson comentou sobre a sensação boa de ter ido alé lá em cima. Fiquei muito feliz de fazer esta escalada com um sujeito tão gente boa e determinado como ele. Realmente foi uma pena o William não ter ido, vai ter que ir na próxima.

Pensado agora, foi o plano de aclimatação mais tapado que eu já fiz. E fizemos em equipe aqui ao nível do mar, e ninguém estranhou ;-). Em resumo, dada da furada dos geisers, acabamos por passar apenas 4 noites a 2400 mts, com uma manhã a 4200 de carro. Aí em 24 horas saímos de 2400 e chegamos a 5950. Foi um exagero, deveríamos ter colocado uma montanha no meio, mas a gula em ver todas as atrações e fazer um pouco de tudo não deixou.

Finalizando

Bom, missão esportiva realizada, saímos para comemorar finalmente com vinhos chilenos. Aí na sexta acordamos as três da madruga de novo mas dessa vez a agência apareceu e fomos aos geisers.

A viagem leva duas horas até lá, e eu dormi direto no ônibus. Chegando lá, frio absurdo, -15. Pés enregelados novamente. Esse tour foi uma aula, o guia era uma figura altamente poliglota e falante, repetia tudo em três idiomas. Lá no campo geotérmico visitamos os geisers conforme o horário de ativação. Isso é deveras interessante e ocorre pois a água que preenche as câmaras térmicas evapora durante o dia e pára de correr a noite, pois vem do alto e congela. Cedo quando o sol começa a bater lá em cima a água vem e enche as câmaras, que viram verdadeiras panelas de pressão, jogando a água e vapor fora pelos buracos do chão. Acho que era isso que foi explicado.

Muita gente passava mal pela altitude, e o William só teve levíssimas dores de cabeça. Alguns desavisados levaram crianças pequenas que passaram realmente muito mal.

Os geisers são de todo tipo, tem mini-vulcão de barro, panelões, buracos de vapor, etc. Não dava pra não pensar que ali logo abaixo o coração da terra pulsava, e se desse uma leve arritmia derreteria nós todos.

Uma piscina termal era um convite duvidoso naquele frio, mas dado o inusitado da situação, não resisti. Ao sol ainda eram 10 negativos quando fiquei de sunga pra nadar a 4300 m. Entrei na água que não era lá essa coisa quentinha anunciada, dei umas braçadas pra um lado e pro outro, nunca pensei que iria nadar àquela altitude e temperatura ;-). A saída foi terrível, pensei que o pé ia quebrar, a sorte foi que pude trocar de roupa e botar o pé na água pra degelar antes de enfiar nas meias.

O retorno foi também muito interessante, pois voltamos passando por uns locais muito bacanas, com destaque para a vila de Machuca, um povoado minúsculo localizado desde os tempos incas no meio de um vale úmido de visual ímpar. Lá tinha pastel e fanta laranja para alimentar os turistas. Também passamos num ponto de confluência de dois rios que estavam congelados, com alguns patos negros que devem ser feitos de neoprene e polartec, os tais de táguas que andam feito bêbados.

Retornamos à cidade, aquela canseira. Com uma tarde livre, dei um pulo na rua Caracoles e fui caçar uma agência que fizesse um downhill de bike. Achei rápido uma que fica num café tocada por um francês que habitava no Atacama há nove anos. Nos levou numa pickup com três bikes por 38 km até 4000 m, no caminho ao geisers.

Descemos no ponto mais alto da estrada, num clima agradável pra variar, sem vento algum. Equipamos e começamos a despencar. Umas pequenas subidas no caminho, mas no geral só descida limpa, uma delícia. Com 15 km mais ou menos percebi o pneu traseiro baixo, o Nilson confirmou. Furado. Bom, catei o kit que nos deram na agência, troquei a câmara e na hora de encher, nada. O Nilson tentou até cansar, o William até ficar sem ar que nem a bomba. Eu tentei encher aquilo até entijolar os braços. A porcaria não funcionava.

Eram 17:30 e o sol estava quase se pondo, o frio chegando. Não tinham passado muitos carros até ali, então o primeiro que passou e ofereceu ajuda, não tive dúvidas e pulei dentro. Eram uma família de alemães com dois filhos de 7 e 10 anos, viajando pelo chile de carro por três semanas. Deram carona de cara, pra um sujeito e uma bike imundas. Coisa de viajante, muito legal.

Em San Pedro saímos pra jantar e fechar a viagem. Como é bom sonhar com um lugar, um objetivo, planejar, labutar e ir lá ver tudo com os próprios olhos. Poderíamos ter visto tudo em fotos, mas não há nada como ver, sentir, pisar e cheirar e respirar poeira pra entender um lugar. Viagem realmente sensacional, companheiros excelentes. Só tenho a agradecer por tudo.

No sábado fizemos todo o caminho contrário, van para Calama, vôo para Santiago, vôo noturno com muito vinho sobre a cordilheira para São Paulo, onde fomos para o mesmo hotel (agora depois de jantar), dormimos umas horas, invadimos o restaurante para o café da manhã às 5:50, deixamos a atendente louca, corremos para o aeroporto, vôo para Floripa e finalmente casa ! Viajar é bom, ir é bom, mas voltar é melhor, chegar em casa e abraçar a família é indescritível. Pode-se não ir, mas aí não se pode voltar. E voltar é bom.

Julho de 2010.

8 comentários:

  1. Pô!.. viajei junto nessa aventura lendo o relato. Parabéns a todos esses loucos por aventuras, e agradecemos a Deus que deu tudo certo né.. é isso aí!

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  2. Rafael,

    Parabéns pelo relato!!! Viajei de novo no seu resumo...

    Que venha a NEXT!!!

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  3. Relato Maravilhoso!

    Infelizmente, o Tinho não pode viajar o Willian não foi ao cumbre.

    Já estou com pensamentos na próxima viagem.

    Um abraço e boas energias,

    Nilson.

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  4. BELO RELATO!
    SEMPRE É BOM LER SEUS RELATOS DE AVENTURA.
    ABRAÇOS!!!

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  5. Parabéns meu filho, pena que o Adriano não tenha podido ir.
    Belo relato.
    O PAI

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  6. O Adriano já leu?

    :)

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  7. Cara, parabéns pelo relato... vc escreve mto bem, me senti no atacama...
    Abraços!

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