Então eu deveria ter me preparado direito. Só que não. Acabei encaixando a maratona como a terceira de uma séria de provas, o mountaindo costão com 22km de trilhas e um duathlon extremamente ardido. E aí uma semana de treinos leves e uma pré-prova de guloseimas farináceas que deixam qualquer um estufado. E ainda assim o resultado foi bom. Muito bom. Eu passei algumas horas depois da prova pensando se gostei ou não e a conclusão foi que gostei muito. Embora bem longe do alvo, o resultado foi fruto de uma estratégia arriscada (e portanto incerta) e do máximo esforço para a situação. Assim, vamos à Maratona SC 2014 !
Alinhei à frente depois de algum aquecimento dinâmico e larguei controlando o pace o tempo todo. Logo de cara passamos pelo túnel e aí tasquei o lap no garmin, de forma que nunca mais a marcação de kilometragem bateu, mas tive como controlar o pace no início. E então foram-se os 12 primeiros km, uma ida e volta até o trevo da seta no final da baia sul. Ritmo dentro do previsto. Na verdade, não muito. A sugestão do Roberto foi tentar fazer uma prova progressiva, algo entre 4:25 a 4:15 até uns 15 km, aí apertar para 4:15 e ver o que dava pra fazer depois dos 32 km. Aí eu pensei: 4:16 é um pace para sub-3. 4:15 é melhor ainda, mas se for fazer 4:25 até os 15 nunca mais vai sair 4:15 de média. Fiquei matutando isso, se deveria botar um foco em sub3 mesmo sem treino específico nenhum. Bom, quem não arrisca não petisca. Como eu iria saber se dava sem tentar ? Eu achava que não dava, mas que poderia ser 3h bem baixinho. Não é toda hora que se faz uma maratona, então resolvi tentar: saí em 4:15 e tentei manter isso o mais constante possível. O progressivo foi deixado de lado para fazer algo constante, mas que saiu regressivo no ritmo e progressivo no esforço e desespero para chegar.
Ainda assim não foi constante, pois tinha vento e algum sobe e desce muito leve. Encontrei um cara de Blumenau e fomos revezando a marcação do ritmo e quebra do vento. Alguma perseguição para pegar um outro grupo à frente e logo estava correndo entre dois grupos grandes, um à frente e outro bem longe lá atrás. Isso até o 32, porque na terra de ninguém depois dos túneis a densidade populacional de corredores diminuía drasticamente.
Bom, antes de chegar no 32 tem que passar pelo 22, que fica lá na UFSC depois de tooooda a beira-mar. E aí a coisa começou a ficar estranha. Meu pé direito começou a esquentar. Rapidamente estava queimando, uma bolha estava vindo. Lá pelos 25 km o ritmo ainda estava bom e até acelerando um pouco com o vento a favor, mas o pé estava realmente doendo. O esquerdo também, mas era no direito que eu conseguia sentir o líquido se mexendo e espetando tudo na sola do pé a cada passo.
Encontrei o Marco Scarduelli de bike perto da ponte, reportei o estado do pé e perguntei se ele não tinha um pra me emprestar. Ali eu estava seriamente pensando em parar na tentar furar a bolha, mas essa ideia sem noção durou pouco tempo.
Passando na área de chegada no km 32 o ritmo estava perfeito em 4:15 mas o esforço já tinha causado estragos: a FC estava bem alta e o estômago estava muito estranho. Eu sentia a água chacoalhando lá dentro mas tinha que tomar outro gel. Com mais água, claro, o que aumentou o chacoalhamento. Entramos pela terceira vez no túnel e aí no campo desolado da enormidade do mundo paralelo que existe no além túnel (palavras do Palhares). Deserto, corredores espalhados esparsamente e nenhum publico ou movimento, só a ida sem fim. Xinguei um pouco aquele retorno que não chegava nunca, o Jacó estava ao meu lado de bike filmando e rindo de alguma coisa. O ritmo foi despencando, mas ainda apresentava alguma decência. Finalmente o retorno apareceu e foi só fazer a volta e começar a ir contra o ventinho mínimo que o ritmo implodiu de vez. Foi piorando, piorando... fiquei imaginando algo parecido quando alguém que tinha um monte de ações da OGX viu o valor derreter ao longo de pouco tempo.
Após o retorno eu comecei a virar um cone. Quem não estava quebrado me passava na maior velocidade, eu até tentei acompanhar um mas o Jacó me aconselhou a ficar quieto pra não quebrar de vez.
Uma leve vontade de vomitar e finalmente o túnel final. O Décio estava pedalando no lado e me deu uma baita força naquele final sofrido. Fazia tempo que não tinha tanta vontade de andar numa prova. Não teve jeito de voltar algum ritmo nem com a descidinha para a chegada, foi terminar do jeito que deu, completamente embrulhado. Parei feito um toco na chegada, mas logo consegui me recompor depois de me jogar no chão e vomitar um pouco. Fiquei novo !
Coisa realmente horrível é esse pé |
Buenas, o resumo foi que o ritmo despencou de 4:16 pra 4:26 em 10 km, os pés pegaram fogo e eu tentei o melhor que pude. Não quebrava desse jeito há tempos, certamente faltou glicogênio e reposição (só entraram 3 GU). Saiu 3h11min25seg de tempo oficial, um recorde pessoal. Menos de 5 min mais rápido do que Curitiba, que com aquela altimetria continua sendo minha melhor maratona em 2010 com 3h16min15seg.
Entonces é isso, o legal é que saiu um 23º geral numa maratona oficial, o que é muito bom ! Categoria não deu nada, 6º, pois os três primeiros eram possuídos e chegaram abaixo de 2h50.
Agora é um breve descanso e volta aos treinos com foco em triathlon de novo, aí vem o Duathlon de Blumenau, Olímpico de Jaraguá, Challenge e Short de Garopaba. Bora lá.
Ali pelos 30 km |
Essa meia... corri com ela a primeira vez uma prova longa de asfalto. Senti CALOR na perna. E ela destruiu a minha sola do pé, mesmo já tendo sido usada no Desafrio. |
Os restos terminando a prova... Foto do Daniel Carvalho |
Quando reconheci o Daniel fiz de conta que estava tudo bem !! |