Um fim de semana cheio e sensacional, esse é o resumo do Challenge Florianópolis 2014 na sua primeira edição. Dessa vez o relato vai ser um pouco fora de ordem cronológica, vamos ver como fica.
Sabe aqueles pesadelos que a gente tem de acordar e a largada de uma prova já ter sido dada ? Pois é, eu sempre tenho, e na verdade sempre acontece de eu chegar na transição para arrumar a bike a e buzina da natação já estar apitando. Só que dessa vez foi de verdade :-). Não, quase.
Acordei 4:52 e estava em casa, em coqueiros, a 29 km da área de transição. Em 10 minutos estava dirigindo com duas bananas e uma garrafinha de chá no banco do passageiro. Nada do pão com geléia, café com leite ou castanhas duas horas antes da prova.
Consegui ajeitar tudo a tempo dos staffs aparecerem mandando ir pra praia que a transição iria fechar. Foi por pouco. Qualquer coisa que tivesse errado acabaria com a prova já antes de começar. Bastaria um congestionamento pela colocação dos cones na pista, uma blitz policial, etc.
O dia anterior foi longo e cansativo. No sábado acordamos às 5:45 para estar cedo em jurerê para a largada do Challenge Women que a Daiane faria. Fui dormir tarde na sexta depois de ficar das 14 às 22 em jurerê para o excelente congresso de ciências aplicadas ao triathlon (outro evento paralelo muito bom) e jantar de massas, de onde vim de carona com o Edu. Aí sábado foi aquela festa, a prova da Daiane e depois a do Arthur, deixar a bike no checkin e zarpar pra casa.
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Largada do Challenge Women |
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Chegada do Challenge Women |
A corrida da mulherada foi de 5 km e muito disputada. Vários sprints na chegada deixavam dúvidas se aquele povo era mesmo familiares dos atletas ou atletas disfarçadas. A Débora estava lá e levou o 5º lugar geral, direto das ultra maratonas para uma prova de 5 km.
A Daiane saiu em ritmo constante e chegou no melhor tempo das sua carreira de corredora, muito legal.
Aí fomos lá para a praia ver o mar. Não estava com cara boa, mas confirmaram a natação infantil. O Challenge Kids era outro evento paralelo que eu esperava muito. O Arthur tinha pedido pra participar e depois tinha ficado com medo da natação, então eu estava curioso pra ver o que aconteceria.
Primeiro houve uma prova demonstração com a criançada da escolinha de triathlon da fetrisc, e durante esse tempo a meninada da prova kids ficou lá na praia brincando no mar. Depois alinharam para a largada de maneira exemplar, todos atrás da faixa.
E saíram feito loucos, parecia uma largada de adultos mesmo. De 7 a 12 anos, dezenas de crianças correndo feito tartarugas recém saídas dos ovos para o mar. Muito, muito legal ver aquilo. Só que logo fiquei apreensivo, o Arthur saiu nadando muito rápido e os caiaques estavam mais à frente, de modo que larguei câmera e óculos com a Daiane e fui pra água.
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Foto sensacional. Olha só essa foto ! Sério, olha ! |
Alcancei o cardume quando eles já estavam na boia, daí fui pelo outro lado e depois de uns segundos o Arthur apareceu junto com o Jadoski e o filho. Olhinhos arregalados dentro dos óculos, perguntando pra onde tinha que ir. "Vai pra praia filho, pra praia", e lá foi, fui do lado e quando alcancei o fundo comecei a andar do lado dele até sairmos da água. Correndo rumo à T1.
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Molecada preparando a T1 |
Lá o pequeno ficou bravo por se atrapalhar com o processo de transição e fui eu junto correndo do lado dele na bike. Descalso. Argh. Aí na volta da bike ele não quis correr por achar que já era o último, então de novo saí correndo junto com ele até que uma menina nos ultrapassou, quando então ele resolveu andar porque não adiantava mais correr e nada fazia sentindo kkkk. Assim o baixinho terminou seu primeiro triathlon, bravo e choramingando (por pouco tempo, logo já queria saber quando teria outro).
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Depois da brincadeira da manhã de sábado |
Mas durante esse sábado eu ainda tinha uns treininhos pra fazer, pra deixar o corpo acesso. Uma corridinha de 4 km moderada e umas braçadas pra sentir a água. Só que não levei óculos, tive que pegar um emprestado com o Alexandre e acabei correndo mais do que deveria e o pior, uma parte descalço.
Depois da provinha Kids a Daiane foi pra casa e fiquei pra deixar a bike. Fiquei no apartamento que o Alexandre alugou até almoçar e aí fomos deixar as magrelas pra pernoitar na transição.
A sorte foi que jantei bem na noite de sábado, senão aquele café da manhã de duas bananas teria causado estrago.
E agora chegamos à prova principal finalmente. Um mar muito revolto, dos mais estragados que eu já vi em jurerê, fez a organização mudar o percurso. O Roberto anunciou a mudança e logo a elite largou. Já dava pra ver a dispersão, tinha muita correnteza para a esquerda.
Largada em ondas com categorias separadas e uns 20 minutos depois largamos. Alinhei junto do Palhares e Alexandre e mais um povo bem à direita.
Pulei no mar e me diverti como nunca. Sério, gosto muito de nadar em mar revoltado. Umas ondas furadas em perfeita sincronia e segue... pra onde ? Uma boia gigantesca e raramente dava pra enxergá-la. Mas eu nadei retinho, aí fui contornar e boia e vi estrelinhas. Uma patada bem no nariz e dentes superiores. Um iluminado estava agarrado às cordas da boia, só que batendo as pernas. Pra quê ??? Grudado na boia e batendo os pés na cara dos outros, que coisa feia. Levei uns segundos pra me recompor, vi que não estava vazando nada dos orifícios nasais e segui pra outra boia. O sol estava no caminho e acabei navegando por ele. Lembrei do filme apolo 13 onde o Tom Hanks tinha que manter a nave alinhada deixando a terra ficar enquadrada na janelinha. Pensei essas e outras bobagens e vi que estava nadando muito leve, aí fui encaixando as braçadas com as ondas e saí num jacaré muito legal. Baita natação.
Transição lenta e desastrada, entalei o dedo no chip do tornozelo e tive que sentar antes que caísse pra tirar a roupa de borracha, e aí saí alucinado pela longa transição. Subi na bike e vi o Palhares, que logo sumiu de vista. Comecei a pedalar com o circuito em mente, sabendo exatamente onde aproveitar o vento e onde tentar brigar com ele. Saí forte e logo estava no morro do estado subindo rumo ao retorno. Vi o Palhares de novo e fiquei com medo de estar forçando demais. Mas estava me sentindo muito bem e resolvi observar apenas a respiração e ardência nas pernas. Soquei a bota contra o vento e não senti muito, fiquei empolgado e voltei de canasvieiras alucinado. Aquilo teria que acabar em algum momento, mas eu estava aproveitando. Nunca tinha andado kilometros planos a 50 km/h na bike. Pra ver a força do vento.
Aí na segunda volta alcancei o Pedro, o Palhares me passou e fomos próximos até que ele sumiu, aí o Heverton também passou e eu comecei a pagar o pato na última perna até canasvieiras. A percepção eólica aumentou - não sei se o vento mesmo ou o desgaste, o ritmo caiu e sensação de esforço triplicou. Mas mantive algum ritmo e começamos a voltar com vento a favor de novo até a transição. Na minha opinião o pior trecho era da SC0401 até jurerê, com vento transversal. A bike chacoalhou como nunca experimentei ali.
Entrei na T2 junto do Pedro e Heverton e saí rápido, ritmo descompensado como sempre. Nem olhei pro garmin e só vi o primeiro lap, 3:53. "Ok, eu não faço meia maratona solo nesse ritmo, então tá forte". Bem nessa hora os quadríceps começaram a espetar. Reduzi e cuidei da técnica pra não dar caibras e segui na sensação de esforço máxima e ritmo decadente.
Primeira das três voltas muito forte, a conta viria. Segunda volta mais moderada como talvez devesse ter sido tudo. Como sempre correr ali em jurerê na muvuca é sensacional. A galera incentivando causa aumentos súbitos do
pace. Me controlei pra não agarrar aquelas garrafinhas de coca-cola antes da última volta. Lutei com a vontade de reduzir o rimo, apertei ao máximo até quase espanar a rosca.
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Só sobraram restos dessa corrida. Até agora descendo escada de lado |
E aí nos últimos km a casa caiu, dor aguda nos quadríceps e ritmo despencando. Forcei olhar no garmin pra tentar não deixar cair muito e segui estragado até a chegada. Atravessei aquele pórtico feliz por uma prova perfeita, dura como poucas, bonita como sempre em Floripa. Extremamente satisfeito, do jeito que eu fico quando sei que não sobrou muita coisa no tanque de gasolina. Pouca coisa a mais e eu teria quebrado, tenho certeza. Essa recompensa pra mim é a melhor, melhor que tempo ou resultado.
O pós chegada é sempre muito legal, principalmente com uma área de dispersão bem estruturada. Fui direto pra massagem e encontrei o Palhares. Quando saí ele estava lá se contorcendo com um pedaço da panturrilha querendo sair da perna. Eu tinha que ter filmado aquilo hahaha.
Descobri a pizza bem depois e comi vários pedaços com os pés na piscina de gelo. Deveria ter enfiados as pernas mas não consegui, começava a tremer. O tempo ficou meio louco quando eu cheguei, caiu uma chuva rápida e eu achei que esfriou (não esfriou, fui eu).
Arrumei as tralhas e me mandei pra casa pra almoçar, cansado até a alma e atravessado de fome mesmo depois de ter comido até cansar. Algo desregulou sem o
desayuno.
Baita prova. Acabei em 4º lugar na categoria, com
4h27min. As parciais foram swim 13:41, bike 2:32, run 1:35, o resto foram transições lentas. Pois se melhorassem talvez já ajudasse a beliscar o pódio hahaha.
Dados técnicos:
Corri com o Kinvara 4 ensaboado de vaselina por dentro, com meia. Depois da maratona de Florianópolis fiquei traumatizado. Consumi duas mariolas antes da largada. Na bike, 4 medidas de GU Roctane em pó, 3 gels GU e um gole de gatorade. Na corrida mais dois gels empurrados à força e uns 100 ml de coca cola e mais uns goles de gatorade. Na bike ainda foram duas cápsulas de sal. E água em boa quantidade, pois estava quente. Quente com vento é receita pra desidratação.
Sobre o vácuo !!! Sempre ele ! Vi alguns pelotões, poucos mas vi. O que mais irritava eram as 'duplas' trabalhando juntas. Vi por duas vezes dois caras trocando gel, um pegando água pro outro e revezando descaradamente a roda, o da frente até sinalizava para o de trás assumir a ponta. Espero que estes tenham sido punidos, caras de pau. Os pelotes que vi por duas vezes foram sinalizados pelos árbitros, e provavelmente aí saíram as punições. Como sempre há os inocentes que pagam o pato pela cambada de vaqueiros que não toma jeito, pois é muito difícil ultrapassar aquela maçaroca de gente. Mas espero sinceramente que a galera desonesta pense duas vezes antes de se inscrever ano que vem.
Como pontos a melhorar para a prova, o mais importante é o abastecimento de água. Peguei um posto sem (com gatorade e coca-cola) muito cedo. Além disso o checkin seria mais rápido se o número da bike viesse na sacola e não tivesse que ser localizado e colado na hora. Que seja uma prova consolidada em Florianópolis e no Brasil.
Fotos do Gai e do Saul. Obrigado !!!