quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Vídeo do Powerman 2015 Florianópolis

Uma prova sensacional... vale a pena ver de novo :-D !

terça-feira, 6 de outubro de 2015

IM 70.3 Rio de Janeiro


Nem sonhando eu sonharia com esse resultado no IM 70.3 do Rio. No dia da prova vendo as fotos do meu irmão em Yosemite eu comentei que ele estava realizando um sonho de infância, e eu um de adulto. O que é fantástico, pois o que melhor do que construir e trabalhar por um sonho transformado em objetivo e então em meta ?

Quando ouvi falar deste 70.3 decidi fazer na hora. Sempre quis competir no rio e nunca tinha feito isso, nem maratona, meia, nada. Depois do primeiro semestre de Ironman, Desafrio e férias, o foco dos treinos foi essa prova desde agosto, com apenas dois duathlons no meio. Foi um objetivo colocado, e quando vi que haviam 4 vagas achei realmente muito difícil conseguir a classificação, não dei muita bola e toquei o bonde. Mas no finalzinho dos treinos, vendo a evolução e a forma como estava me sentindo, a confiança foi aumentando até aumentar para o que deveria na véspera da prova.
 
Pré-prova

Viajei de Floripa para o Rio na sexta-feira. Fui com o Marcelo Quint e ficamos num hotel bem próximo a expo e área da prova, de frente para a praia da macumba onde aconteceria a natação.

Na feira consegui emprestado um adaptador para CO2, peguei o kit e depois montei a bicicleta. Ainda no fim de tarde de sexta fiz uma natação leve mais pra mexer os braços e conhecer o mar, sem roupa de borracha. O mar pareceu 'grande' e a praia era do tipo inclinada com areia fofa.

Praia do pontal. Uma largada era possível em ambos os lados, baita logística.
Detalhes pro MDOT na pedra, que por sinal deve ter sido um ótimo local pra ver a natação.
Sábado cedo o Manente apareceu para fazermos um treino de aquecimento, saímos de bike junto com o Haile pra rodar uns kms na orla e testar os paralelepípedos recém asfaltados. Depois uma corridinha levíssima e então fui mergulhar no mar. Nadar, já tinha nadado no dia anterior.

Almoçamos com o Jorginho num shopping e depois fui pro check-in da bike, onde encontrei o Arthur e trocamos umas ideias, o irmão dele faria a prova.


Transição
Como combinado o Marcos Pavarini apareceu na expo, fazia dois anos que não o via. Fomos de carro reconhecer o percurso no fim de tarde. Primeiro a corrida, que se mostrou bem azeda. Um percurso de 5 km de ida, metade em subidas e descidas, vai e volta duas vezes. Nada muito alto mas com inclinação significativa. Depois fomos à serra da grota funda, que não pareceu muito terrível mas serviu para conhecermos o asfalto e planejar melhor a prova.

Realmente me impressionei com o percurso da corrida. Imaginei que não daria pra correr tão rápido e depois de uma troca de mensagens com o Roberto, decidi a realmente gastar o que pudesse na bike e ver o que aconteceria na corrida. Mas na verdade mesmo só decidi isso nos instantes antes da largada, sentado na areia sozinho esperando a minha onda de largada. Devo ter algum medo ancestral de ter que andar numa prova e acho que sempre resolvo segurar na bike.


Pré-Largada e Natação

Acordei na hora certa, café da manhã dominado por atletas no hotel e logo saímos sob tempo nublado e sem vento. A previsão dizia que haveriam ondas de 2 m mas o mar era uma piscina, embora a chuva parecesse questão de tempo.

Combinei de encontrar o Alexandre, que estaria trabalhando de fiscal no ciclismo, mas não consegui. Arrumei tão rápido as coisas na transição que fiquei em dúvidas e voltei pra conferir, quando então vi uma cena triste. Um atleta parece que teve uma crise de pânico na tenda, tendo acontecido uma leve confusão até o médico chegar. Não sei se ele largou, imagino que não, uma pena.

Tudo conferido, fui pro tradicional banheiro e então pra praia. Assisti a largada da elite e fui para a praia ao lado aquecer. Aqueci, boiei e pensei. Então fui pra areia e fiquei lá sentado até achar o Quint que já estava indo largar.

A largada em ondas foi legal e eficiente. Tão eficiente que reforçou as habilidades dos atletas. Praticamente não vi esteira, nada de bolo de gente, grupos nadando juntos. Todo mundo espalhado, exceto depois da terceira boia já no retorno, onde começamos a passar o pessoal das largadas anteriores. Às 7:15, larguei 30 minutos depois da elite e no penúltimo grupo.

Nadei aparentemente reto e sem nenhum enrosco com outros atletas. Pela falta de gente do lado acho que poderia ter nadado mais forte na primeira perna, a segunda fiz mais firme. Saí da água com 30 min e 1980m, distância praticamente exata. A transição é longa e cansativa, areia inclinada e fofa, de forma que corri devagar até lá. Foi só pegar o capacete e óculos, enfiar a roupa de borracha e óculos aquáticos na sacola e sair pra bike.

Encontrei o pit-stop que o Alexandre conseguiu deixar encaixado no aerodrink e fui mais tranquilo pro pedal. O assunto do momento era a condição do asfalto e a possibilidade de furar pneu. Já estava com duas câmeras mas o pit-stop realmente não tinha. Foi mentalmente reconfortante tê-lo. Embora tenha sido um conforto apenas mental mesmo, pois tendo colocado no bolso do top, em algum lugar ele resolveu ir embora, provavelmente na vibração da descida da serra.

Ciclismo

Comecei o pedal muito forte, acima do que deveria, mas por pouco tempo até a coisa assentar. Daí então segui pedalando apenas forte o suficiente para ficar assustado. Até a entrada da serra vinha fazendo mais força do que achava que aguentava, mas dentro da faixa de potência planejada.

Fizemos uma primeira volta de 20 km plano no trecho da reserva, voltamos passando pela largada e seguimos para a serra rumo a Grumari. Com um trecho de asfalto perfeito e levemente ondulado, chegamos na subida e então chuva apareceu. Bem na hora da serra :-).

Ali pensei umas duas vezes nos treinos que fizemos em julho aqui. Num deles, fui só eu e o Fabrício pra Anitápolis e pegamos uma chuvinha chata. No outro, com a galera em peso em São Bonifácio, foi mais chuva. Fora estes, foram inúmeros treinos de pedal na varginha e urubici, todos em terreno inclinado. Deu uma certa tranquilidade saber que não iria sofrer na subida.

Subi controlando tranquilamente o ritmo, fui ultrapassado pela primeira vez na descida pro outro lado. Tudo molhado e o piso ou era ruim ou recém asfaltado com aquela aparência de coisa lisa. Desci bem devagar, fiz o retorno e subi de volta.

Aí então começavam as duas voltas curtas na reserva. E o vento também apareceu, embora fraco. Contra na ida e a favor na volta, não chegou a atrapalhar.

A segunda volta eu poupei um pouco e comi dois gels, pois só tinha tomado malto e um gel logo após a natação. Tomei os dois em sequência mesmo, devo ter esquecido devido a atenção na serra, só pode.

Apenas na terceira volta consegui ver alguns atletas da 40-44 (pelo número). Ali um deles me passou e eu logo ultrapassei de volta e não vi mais. Até então eu não lembrava de ter sido ultrapassado por ninguém e estava achando aquilo estranho.

Perto da transição eu achei que a bike estava acabando e descalcei a sapatilha, mas o percurso seguiu em frente. Seguiu, passou na frente do hotel e foi rumo a serra novamente. Cheguei a ficar em dúvida, mas olhei a distância em 86 km e vi lá bem longe uns dois ou três atletas. Quando vi o retorno, calcei a sapatilha de novo e soquei a bota pra fechar o ciclismo logo.

Saí da bike com as pernas duras, bem pesadas. Estranhei aquilo, não vi isso em nenhum treino. Mas também não fiz nenhum treino naquela intensidade...

Na transição encontrei o Beto Nitrini que vi ser da categoria. Imaginei que estávamos bem e saí da transição o mais rápido que pude, arrumando as coisas nos bolsos e esquecendo de fazer xixi.

Corrida

A corrida seria na percepção como combinado com o Roberto. Evitei olhar o relógio até o primeiro km virar. Ali vi que a coisa ia ser sofrida, pois vinha num ritmo bem mais lento do que os treinos de transição. Os primeiros 2,5 km eram planos e logo cheguei na subida. Como estava continuei, mantendo o esforço alto mas suportável. Era muito evidente que eu ia quebrar, a sensação estava de coisa difícil, mas a estratégia pareceu certa quando vi o Virgílio, atleta muito forte da categoria, retornando. Não estava tãaao longe e no olhômetro eu estava dentro dos primeiros 50 mais ou menos. Todo mundo ia sofrer naquele percurso.

O visual era espetacularmente bonito. A estrada percorria uma encosta de morro e o mar lá embaixo salpicado de ilhas era fantástico. Espero que o Marcelo libere logo as fotos do focoradical ;-).

Voltei com um ritmo ainda decente, fiz a volta, encontrei o Marcos novamente e comecei a tomar pepsi. Ao chegar na subida novamente vi o estrago, me arrastei morro acima e comecei a ter dificuldade em correr nas descidas.

Final da corrida, foto do Arthur !
O retorno era numa subida, e no segundo eu tentava ver se identificava algum atleta da categoria e não vi o Beto. Sabia que deveria ter bastante gente embolada perto, mas não imaginei que fosse tanto.

Voltei na parte plana realmente bem estragado. Estava apertado pra fazer xixi e muito cansado, pensei em parar e logo me vinha na cabeça a prova do Desafrio, quando perdi a terceira colocação devido a um pit-stop líquido no km 46.

A largada em ondas também serve pra outra coisa além de aliviar a natação e evitar vácuo: serve pra cada um fazer a sua prova, pois não há referência. Aquele cara te passando morro acima pode estar em outra volta, ter largado antes ou depois, não dá pra saber.

Então segui o mais forte que pude. Não olhei praticamente o garmin exceto em algumas viradas de km, mas no último km comecei a olhar constantemente pra ver se conseguia manter um ritmo decente. A corrida passa dentro da transição e depois sai novamente e então havia um cotovelo para retornar e entrar no tapete azul e pórtico.

Pouco antes desse cotovelo eu ouvi os gritos do público aumentando e achei que vinha alguém no encalço. Apertei o passo, entrei no tapete acelerando o que conseguia e passei o pórtico totalmente oco. Desabei no chão.

Saca o sprint que rolou, embora eu não soubesse dele até poucos metros da chegada :-)


Depois foi curtir a chegada, massagem, macarrão e encontrar o povo. Achei o Manente que tinha destruído tudo e chegado em quinto na elite, o Haile e mais um povo que tinha conhecido lá. O tempo que tinha melhorado no final do pedal melou de vez com vento frio e chuva.

Fui pro hotel e só lá vi os resultados. Pedi pro Manente conferir aquilo, deveria estar errado. Olhei várias vezes até acreditar :-). Segundo colocado na categoria, atrás apenas do Virgílio, 33o geral.

O terceiro lugar chegou no sprint a apenas 2 segundos, o quarto a 37, quinto não sei quando e o sexto com dois minutos atrás. Cinco atletas da categoria com dois minutos de diferença numa prova de quase cinco horas ! Incrível o valor que o tempo tem. Qualquer bobeira, um xixi e provavelmente já era o pódio.

A vaga veio, junto com um pódio. Como eu disse lá em cima, nem em sonho eu sonharia com isso, e aconteceu. Bastou acreditar, fazer o melhor possível e não parar nem pra mijar.

Pódio !!!

Pós-prova

O Quint chegou tendo feito uma prova excelente. Sempre é bom ter amigos mais loucos que a gente, serve de álibi. Esse por exemplo, chegou do mundial de cross triathlon na itália apenas na véspera da viagem pro Rio :-).

Saímos para almoçar já bem tarde, eu estava praticamente desmaiando de fome. Foi um estrago gastronômico de grande porte. Depois fui pra escolha das vagas para o mundial de 70.3 em 2016, agarrei a dita-cuja e na hora de passar o cartão para pagar a inscrição, eis que o algoritmo de prevenção à fraude do banco resolveu atuar. Tive que ligar pro cartão, explicar tudo e pedir pra moça liberar o pagamento de uma vez. O Quint já estava quase indo pro hotel buscar o cartão pra me emprestar hahahah. Só mais um pouco de emoção.

:-D

Falando em vaga, Austrália é longe ? Sim. É caro ? Muito. Era hora de ir pra lá ? Bom, não sei, será só no ano que vem. Sempre esteve na lista, e nada melhor do que arrumar um bom motivo pra ir ao outro lado do mundo.

Depois de tudo fomos jantar pizza e finalmente tomei um chopp ! Daí foi só desmontar a bicicleta e empacotar tudo. Meia noite sosseguei, finalmente.

Não tenho como agradecer a cada um pelo apoio e torcida nessa prova. Muito, muito obrigado a todos. Como sempre a família é quem mais apoia essa mania de brincar de atleta. Daiane, de novo, novamente outra vez, muito obrigado meu amor !

Dados técnicos

O alvo do pedal era ficar entre 85-92% do FTP, a média saiu perto, 84% da normalizada. Não olhei médias durante a prova, só depois. Apenas evitei de subir de 100% e recobrava os esforços quando caia abaixo de 80. Na percepção, foi forte e suportável.

A corrida foi do jeito que deu. Pela primeira vez não me poupei no pedal e acho que o resultado foi bom. Vim regressivo é óbvio, mas deu resultado. Nada de dores, zero. Apenas um grande cansaço e calor exagerado na cabeça na segunda metade da prova, quando saiu um mormaço. Joguei bastante água e resolveu.

A natação foi boa, poderia ter sido melhor mas ainda assim foi boa e causou zero desgaste. Nada como nadar com palmar todo santo treino :-)

O percurso foi a melhor parte da prova. Desafiador na medida certa. Na verdade até bem rápido na bike, apenas com uma serra boa. A corrida foi excelente, não vi nada parecido em nenhuma prova de triathlon, falaram que pucón é mais fácil. O mar estava espetacular, transparente e quente, calmo. O clima foi perfeito, um sol de lascar mudaria completamente a dinâmica da prova.

Aqui a natação, bike e corrida. Resultados oficiais aqui. Alimentação foi simples: 3 medidas de maltodextrina na garrafa, 4 gels na bike e 1 na corrida, com pepsi. Tênis foi o skechers go run ride 4, excelente.

Essa prova foi diferente da maioria pois ao que parece a bike foi a melhor modalidade, fiquei positivamente impressionado. Talvez esteja começando a aprender a pedalar mais ou menos.

Saí da água em 17cat/105geral. Larguei a bike em 5cat/37geral e terminei em 2cat/33geral. Aqui geral é considerando a elite. E o mais interessante, olhando a listagem parece que foi o 25o pedal do dia. Tem algo errado aí :-)))).

E o vácuo ? Bom, não teve. Simples assim. Uma conjunção de fatores: largadas em ondas, serra no percurso e fiscalização eficiente e, talvez, uma maior consciência e menos cara de pau dos atletas. Claro, sempre tem exceções, mas dessa vez parece que foi apenas isso.

Sobre o IM 70.3 no Rio

Depois de tanto terror nas redes sociais, a prova saiu perfeita. Eu mesmo critiquei duramente (por email) a organização por não se pronunciar oficialmente sobre os boatos de conflito de horário com uma corrida do circuito atenas e da condição dos paralelepípedos. Mas a verdade é que desde o primeiro email eles atestaram que a prova iria acontecer do jeito que aconteceu, e aconteceu.

Sobre as possibilidades aventadas: haveria um arrastão das bicicletas na transição. Aconteceriam inúmeros acidentes nos trechos da orla devido aos paralelos. Toda a cidade do rio iria em ônibus de excursão pra a prainha e isso impediria a corrida, o sol iria derreter as pessoas (isso foi sorte nossa :-), haveria maremoto e os cariocas mal educados acabariam com a prova. E o mais aterrorizante de tudo: hordas de vaqueiros tomariam conta do ciclismo formando um único, grande e coeso pelotão.

Parece que a organização fez o dever de casa e realizou um grande evento, numa das provas de logística mais bacana que já vi (transição na rua, uma praia fechada, asfaltamento privado, percurso complexo). Estão de parabéns, assim como todos os atletas que encararam um 70.3 difícil e espetacular.