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Pódio da 40-49 100% Floripa ! |
Uma prova de
trail run com 100 km, 2600 metros de subida aculumada, 7500 calorias consumidas, 12h25min ininterruptas. Oito litros de líquido ingerido, 1 bolha no pé, primeiro lugar na categoria e oitavo geral, duas horas a menos do que no ano anterior. Talvez essa tenha sido minha obra prima de corrida até o momento. Track do GPS
aqui e resultados oficiais
aqui.
Bom, vamos ao relato que vai ser longo. Quem não tiver paciência já viu o resumo acima haha.
Depois da inscrição, praticamente desliguei da prova até setembro, pois houve no meio o Ironman Floripa e 70.3 Rio, que foram os objetivos até então. Porém a Indomit era o objetivo de longa distância do ano, e queria voltar pras trilhas como nunca.
Depois do rio já começamos os treinos focados na prova, com uma rampa ascendente no volume de corrida porém ainda com as outras duas modalidades como apoio e complemento. Um volume total razoável, semelhante a época de ironman mas ainda assim totalmente assimilável.
Os longos específicos foram 4, um de 28 na cidade e três nas trilhas, sendo um de 40 km em Urubici, outro de 45 no sul da ilha e mais um de 23 em Urubici, todos com muita altimetria. Isso foi tudo, após agosto e setembro focado no 70.3 do rio. Ainda estavam lá os treinos longo na quarta, de ritmo e tiro na corrida, algo surpreendente e que foi bastante útil na prova. O pico foi 92 km na segunda semana. Na verdade também teve outro treino sinistro. Um intervalado de 25 km 15 dias antes da prova. Acabei acabado mas entendi que era pra terminar cansado. Foram 8 km moderados, 4 x 2 km muito forte e 8 km forte. Os 8 finais foram de arder, difícil mesmo manter, mas simulou um fim de prova.
Dito isso, estava muito confiante em fazer uma boa prova, mas sem imaginar que daria pra terminar num top 10, ainda mais quando soube que eram 200 na distância e 42 na categoria.
E então veio a semana da prova, pra gente entrar em polimento e dar origem a algumas dúvidas. Corro ou não na chuvarada na quarta ? Que equipos usar, alimentação e toda a tralha. Levar trekking poles ? Uma confusão mental que só piorou com o aguaceiro que castigou a região a semana toda e as notícias da organização de mudanças de percurso.
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El Cruce 2014 pré Indomit 2015 |
Na quinta vivi um dos privilégios de fazer essas corridas, que foi jantar pizza com vinho e cerveja com três espécimies do El Cruce 2014, Anastácio, Marco e Fábio, que veio do Rio pra fazer a prova. Muito papo e discussão sobre corridas e palhaçadas, como sempre. Saí de lá com a cabeça aliviada de ficar arrumando detalhes de equipamento, foi ótimo.
Na sexta estava totalmente zen. Bem diferente do ano passado, consegui dormir umas 4 horas a tarde e fui pra lá depois de jantar comida de verdade, não comer pão com suco de laranja. O Adriano me levou e fiquei por lá comendo mais um misto quente e esperando a galera pra largar.
Pedi pra Taty pegar meu kit e então fui procurá-la. Peguei o número e chip, ajeitei a mochila finalmente e estava pronto às 23:30. Daí comecei a ficar com sono. Encontrei o Fábio, o Carlos Doc, Daniel Meyer, Felipinho, Débora, Gian, galera toda de Floripa, parece que todos se conhecem nessas provas e conhecem mesmo. A camaradagem não tem paralelo em outros esportes. É competitivo claro, mas sob certa ótica não é Todos se ajudam, é outro mundo esse
ultra trail.
Depois de umas fotos fomos alinhar e concentrar pra partir exatamente às zero hora de sábado 7 de novembro. Noite calma, sem vento e até bem aberta, 18 graus.
Diferente de 2014, dessa vez largou com 1 km por dentro da cidade e logo entrou numas subidas fortes em estrada de terra. Estava tão fácil correr que comecei a rir ali, comentei com um atleta que passava que se não soubesse o que acontecia com a gente lá no km 60, 70, com certeza sairia mais forte. Ele parece que se assustou porque ficou pra trás rápido.
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Pra que a pressa, tem 100 km pela frente :-) |
Desde o longo de 40 km em Urubici resolvi correr na percepção. Levei o GPS para ter o registro, altimetria e tempo, mas deixei o tempo todo na tela de relógio (que coincide com a duração da prova, se você largar a meia noite) e só olhava as parciais de km muito raramente.
Incrível como a gente vai aprendendo a perceber o desgaste, as sensações. Em nenhum momento segurei deliberadamente o ritmo, mas corri leve o tempo todo. Parece que a cabeça sabia exatamente o que fazer, o que havia pela frente.
Depois do primeiro morro de estradão, entramos na primeira trilha em descida forte. Totalmente enlameada, logo levei um tombo bonito e lambuzei tudo de barro. Muita gente caiu também e logo todos se acalmaram.
Comecei a descer mais rápido quando o terreno ficou mais cheio de pedras e aderente e daí virei feio o pé esquerdo. Assustei bastante mas não parei um segundo, continuei correndo apavorado pra ver se estava tudo em ordem.
Por alguma razão depois disso virei o pé várias vezes ainda. Só que em todas, a perna afrouxava na hora e o tornozelo não torcia. Não entendo esse mecanismo mas fico feliz dele existir.
No final da descida encontrei o Felipinho e seguimos juntos um bocado de tempo, pegamos um asfalto longo e saímos na beirada da BR 101, que atravessamos por cima da passarela. De lá mais um par de km e então o primeiro posto grande de apoio no km 23. Parei lá e o Felipe seguiu.
Bebi bastante e comi meia banana, ajeitei as coisas e saí embolado com mais dois atletas e com um monte de gente chegando no posto. Não vi mais o Felipe. Aqueceu, ligou o turbo e foi à caça dos líderes.
O trecho a seguir foi cansativo mentalmente, uma estrada mimimamente ondulada sem fim, 9 km indo e então voltava. Até ali um cachorro acompanhou por um bom tempo, bicho divertido.
Chegando no retorno comecei a contar os atletas na frente. Primeiro o Giliard, logo depois o Magno, daí então vi o Daniel Meyer com o Gian e Douglas, aí então veio mais alguém que não sei quem era e o Felipe já em sétimo. Cheguei no posto de controle e vi que era o 11º. "
Ok, é o começo, daqui a pouco sou atropelado pela cavalaria". Segui tranquilo mas comecei a acelerar na leve descida, voltei rápido pro posto e peguei a sacola de apoio.
Dessa vez tivemos duas sacolas, no km 38 e no 78. Ali no 38 antes das 4 da manhã, não poderia deixar nada de material noturno mas tive que pegar boné e óculos de sol e passei um tico de protetor na cara e pescoço. Vai que sai um sol... Peguei também o restante da alimentação e saí de lá bem pesado com a água reabastecida.
Toquei pra BR, e passei pelo Batman. Sério, um cara com máscara e capa de Batman correndo no meio da noite... Tenho quase certeza que vi isso. Sim, eu vi. Alguém precisa confirmar.
Atravessei novamente pela passarela e fui pro sertão de santa luzia, de agora em diante o percurso era igual ao do ano passado. Passei no posto de largada da prova de 50 km e entrei nas trilhas intermináveis do sul de bombinhas.
Foram 16 km e muito tempo de trilha, totalmente sozinho. Absolutamente sozinho, incrível isso. Encontrei o Gian com o joelho machucado, uma pena. Fiquei triste, mas estamos expostos a isso e temos que aceitar que faz parte da prova, embora seja um pé no saco. As provas continuam e ele vai se recuperar logo.
Encontrei dois socorristas do bombeiro e avisei, segui pelas trilhas amanhecendo, um espetáculo. Céu laranja e a bola subindo do mar. Que privilégio sem tamanho poder presenciar aquilo. Mais de 6 horas correndo, a madrugada toda. Friozino, e então o sol aparece.
Segui mais um pouco e as sete horas tomei uma bomba calórica que tinha levado, 2 1/2 medidas de GU em pó, de uma vez só. Comi mais uma mariola pra arrematar e saí 'satisfeito' :-). Na falta de um café da manhã, foi o que tínhamos para sábado.
Depois de muita trilha, praia deserta de areia grossa e rios, cheguei finalmente à praia de Zimbros. Tive que parar para esvaziar a lama e areia do tênis num rio de águas cristalinas, tomei uns bons goles e parece que acordei de vez. Já tinha tomado uma cápsula de cafeína de 100 mg mas o sono pegou novamente como no ano passado, na alvorada.
Ali mais ou menos nos 60 km vi que estava em 9º e comecei a acreditar com mais força num bom resultado, top dez e quem sabe levar a categoria. Dos que vi à frente sabia que todos ou iam pra geral ou não eram da categoria... Saí de zimbros correndo fácil na praia dura e mais ou menos nessa altura comecei a correr trechos com o Cleverson Polhod e o Marcelino. Num ponto o Cleverson perguntou da categoria e concluímos que provavelmente um de nós ganharia. Muito legal competir dessa forma... mais legal ainda quando os atletas se tropeçam a prova toda, foi ele que encontrei com o olho machucado por uma queda no PC do km 23...
Depois de correr até canto grande encontrei de novo o Marcelino no fim da praia, começamos a subida cruel do morro do Macaco. Um visual estonteante pra todo lado, trilha fantástica, mas que cobrou o que restava das pernas. Parece que a organização achou todos os morros do mundo e colocou no percurso.
Falando em organização, que prova ! Não sei do que reclamar, peguei tudo perfeito, fazia questão de agradecer aos staffs, conversar. Muitos deles elogiando e impressionados com a gente correndo. Nota dez com estrelas. Ficar a madrugada toda parado feito poste pra indicar o caminho, preparar toda a alimentação e hidratação, cuidar dos postos de controle. Um trabalho que realmente temos que dar valor. Num determinado momento quando vi onde estava enfiado um posto de controle, tive que achar que a inscrição foi até barata.
Voltando ao Macaco, pegamos a segunda pulseira lá no topo e despencamos morro abaixo. O Marcelino tomou a frente e logo começamos a ver muita gente subindo, uns 6 ou 8 e a líder do feminino junto, todos a menos de 10 min.
Como estava
acreditando, fui forçando o que dava, claro que isso não se traduzia em ganho de velocidade, mas em redução de lerdeza, o que é produtivo da mesma forma. Se alguém fosse me passar tudo bem, mas não seria por falta de esforço da minha pessoa ;-).
Encontramos o Cleverson nas trilhas pra praia da Tainha e seguimos os três conversando pouco e revezando. Na praia saímos para as estradas empinadas que nos levariam até mariscal. Parecia um monte de morros do sertão. Um sol de rachar e um desespero de calor e sede já com o resto de água quente. Não terminava nunca, até que saiu na praia e segui até posto de apoio no km 78, onde havia uma sacola.
Deixei tudo o que pude de material lá, bebi um litro de água de coco de uma vez, comi e bebi mais coca cola, enchi a mochila de água e gelo e me fui pra praia de quatro ilhas passando por um trecho de asfalto fervente e muito inclinado.
De lá pra bombinhas, cheia de gente curtindo o mar e sol. Os morros não tinham acabado mas as praias já eram maioria no percurso. Dava pra correr legal mas estava com uma leve dor no iliotibial esquerdo, certamente 'estirado' pelas viradas de pé constantes. Nas descidas doía, nas subidas parava e no plano ficava indeciso.
De bombinhas fui pra bombas e ali veio o Thiago mais ou menos no km 90. Mereceu, passou firme depois de um tempo e se foi. Logo depois disso, passando ao lado de montes de restaurantes praticamente em cima da areia, parei para um pit stop fisiológico de alta complexidade. Em 4 minutos estava de volta na areia correndo.
E então veio a trilha pra porto belo. Uma pirambeira que parecia ter mais lama do que as da madrugada. Impressionante a falta de agilidade com que eu me movi lá. Não achei mais ninguém desde canto grande e o ipod resolveu pifar, durou muitas horas de música que distraíram bastante. Comecei a cantar sozinho e veio um casal caminhando no final dizendo que eu era o primeiro que passsava ali sem cara de quem tinha levado uma surra. Comecei a rir e logo saí na estrada e então asfalto final.
De lá até a chegada é uma estrada asfaltada ondulada por uns 5-6 km e então mais 2 km planos até a chegada. Ali comecei a olhar pro relógio e pra trás de vez em quando pra ver se não vinha ninguém. Incrível correr sozinho tanto tempo assim, coisa tão dura mental como fisicamente.
Fui chegando e um nó foi se formando na garganta. Cheguei berrando e desabando, vontade de berrar até explodir os pulmões. Não sei se já fiquei mais aliviado de terminar uma corrida do que essa. Não por ter sofrido absurdamente, acho que também pela concentração sem fim o tempo todo, isso cansa. Foi tudo misturado, alívio, felicidade, muita satisfação e orgulho.
De ter feito o melhor que podia o tempo todo, focado em cada detalhe. Tudo que pude controlei, não deixei nada ao acaso, alimentação, hidratação, suplementação, técnica até no final estava prestando atenção, peso mínimo. Cabeça tão exigida quanto as pernas.
Que prova sensacional ! A impressão é de ter feito uma das coisas mais difíceis que já fiz na vida, mas ainda assim curtindo muito, como tem que ser. Virar a noite, correr naqueles lugares, naquela confusão de terrenos... demais... magnífico.
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Teve até faixa dessa vez hahaha |
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Acho que cansei... |
Muito legal a dispersão dessas corridas. Logo veio o Cleverson e toda a galera, a Ana chegou 15 min depois baixando em duas horas o tempo feminino. A super ultra mega power Débora chegou em segundo lugar.
Encontrei a Luciana, noiva do Fábio. Me trouxe uma cerveja gelada que simplesmente estava perfeita. Tomei de dois goles. Fiquei em dívida eterna kkkk.
Parei na tenda médica, me perguntaram das dores e tentaram me dar
voltarem na veia. Sai pra lá :-). Deixa minhas dores aqui... Tomei banho, troquei de roupa e então a turma chegou ! A Daiane pegou o maior trânsito na BR e perdeu a chegada hahaha. Mas estavam lá, dessa vez com a Laís junto :-). Sem palavras... muito obrigado meus amores, por tudo. Amo vocês.
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Sem legenda... |
Vimos a chegada da galera das provas das outras distâncias e então fomos almoçar alguma coisa. Voltamos pra pegar a sacola de percurso e ainda não estava lá, fui embora já que voltaria no dia seguinte para a premiação.
Dormi uma hora no carro e das 18 às 20 de sábado. Então jantei e comecei a ficar esfomeado, fui dormir às onze depois de ter jantado de novo.
Acordei todo travado domingo, um trabalho dar os primeiros passos mas estava relativamente bem. Fui pra premiação em porto belo.
Uma baita festa, muito muito legal. Ganhei um óculos
mormaii, um kit e o troféu, que vai ter lugar especial até aparecer uma corrida melhor que essa.
A tarde pedalei 30 minutos ultra leve pra ver se aliviava as coxas, estavam doloridas. Alonguei um pouco e então tomamos café da tarde, 12 pães de queijo com suco e um monte de bolo de milho. Talvez tenha recuperado metade das calorias só nesse café kkkk.
Mais uma prova fenomenal, um resultado além do excelente em um ano que não para de me surpreender. Parabéns a todos que completaram essa prova, pra acreditar que é possível uma coisa desse tamanho tem que querer muito.
Obrigado por acompanharem, até a próxima.
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Dados técnicos
O treinamento foi perfeito. O Roberto simplesmente conseguiu resolver um quebra cabeças dos bons. Um 70.3 e um ultra de 100 km em 5 semanas com bons resultados e sem destruição do atleta. Sem meias palavras, o mestre é um gênio.
Fiz um trabalho legal com o Edu e a Mari, fisio preventiva e massagem esportiva, não poderia ter dado mais certo. Nunca mais não faço isso.
A alimentação foi boa. 8 GU, uma caixa de paçoca, um pacote de mariola, 10 bcaa, 4 capsulas de sal, 2 de cafeína, 1 chocolate e coisas dos postos. Não faltou nada, em nenhum momento. Só líquido num trecho, mas bebi uma caixa de água de côco inteira pra compensar. Sobraram 2 GU, umas paçocas amassadas e 6 mariolas.
De dor, só uma bolha no dedinho esquerdo e o iliotibial esquerdo. Também um pouco nas solas dos pés. Fui com o Skechers Go Run Ultra, bem flexível, e o pé percebeu bem o terreno. Mas foi ultra confortável, ótima escolha.
Mochila pequena da quechua, primeira pele comprida à noite e camiseta de dia, meia de compressão e bermuda de triathlon. Lanterna Petzl Tika XP e garmin 920. Material pra caramba, fora o kit de socorro, corta vento, etc.
Fotos !
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Trocentos rios de praia no caminho... |
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Quem diria que teríamos aquele sol pra torra sábado hein ? |
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Correndo com o vice-campeão ! Era só ter aguentado mais 80 km hahahah |
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Cume ! Morro do Macaco, Canto Grande |
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Início, tudo limpo... |
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Total falta de agilidade e MEDO pra pular os buracos com pé torcendo |
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Sei lá |
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Proteção. O mindinho virou uma bolha só mesmo assim |