sábado, 22 de setembro de 2018

Mundial 70.3 África do Sul !

Mundial é sempre especial, e num dado momento me peguei torcendo o cabo na corrida, apesar da dor maluca no tendão de aquiles e panturrilha direitos. Não é todo dia e tem que fazer valer !

Essa prova foi espetacular. Um dos ironman mais bem organizados que já vi, percurso 100% fechado e desafiador e um visual no ciclismo de embasbacar. Corrida plana e rápida exceto umas subidinhas nas extremidades e natação sensacional, gelada e transparente.

A África do Sul é um capítulo à parte e talvez eu faça um post sobre a viagem, mas por hora vamos ao dia 2 de setembro, mundial de Ironman 70.3 em Nelson Mandela Bay, África do Sul.

Port Elizabeth é uma cidade muito acolhedora para um evento desse porte, dois dias com tudo fechado para a prova (feminina sábado e masculina domingo). Povo acolhedor, torcendo na chuva (na masculina) e organizando tudo com esmero.

Minha largada foi absurdamente tarde: 9:29 da manhã e ainda por cima em rolling start. Depois de preparar a T1 voltei pro hotel, comi de novo, dormi, alonguei e descansei até cansar. Fui pra largada que era bem perto e alinhei bem na frente, me achando o esperto.

Largada animada com música local e eu lá nas cabeças. Seria a 4ª bateria a largar quando vi a plaquinha de SUB 25 min. Olhei pra trás e lá iam sub 26, 27, 28, 29, 30, ou seja, os locais pra largar pelo tempo que você acha que fará. Certamente eu não iria nadar abaixo de 25 min.

Larguei afobado e sem ninguém dos lados, 8 atletas a cada 15 segundos. Comecei a ver uns torpedos passarem na água cristalina e gelada do oceano índico. Ninguém à frente e só uns raios passando. Não consegui nadar em nenhum pé, todos que passavam eu não acompanhava, os do meu ritmo aparentemente largaram no lugar certo e só chegava nos mais lentos das largadas anteriores.

Então nadei bem reto pra compensar e saí da água em 31 minutos, com os pés insensíveis e tentando correr com a sensação de ter os tornozelos direto no chão. Corridinha longa, peguei a bike e vazei rápido.

Saída em subida, depois aliviava e então começava a primeira subida de 10 km, a maior da prova. Segui firme nuns 90-90% do FTP sendo ultrapassado como um cone por alucinados com bandeiras suíças, inglesas ou alemãs nas roupas :-) ! Inacreditável o ritmo dos atletas num mundial. Se você pensar, tem 150 ganhadores de categoria mundo a fora nessa prova, fora os 2, 3 (acho que deve ficar nisso a quantidade de vagas na maioria das provas classificatórias).

Comecei a descer forte e fui sacudido por uns ventos, e então a bike começou a vibrar bastante. Estava sem o edge então nem sei a que velocidade estava, só sei que resolvi não me arrebentar e passei a descer tudo fora do clipe com cuidado redobrado em função da chuva. O asfalto lá era muito rugoso e áspero, causando uma vibração estranha em alta velocidade.

Segui na auto estrada até entrar nas vias secundárias no sobe e desce costeando as praias, que visual animal mesmo com chuva ! Mais sobe e desce e numa descida vi o Rodolfo já voltando. Segui em mais morrinhos de 100m de desnível em sequencia e então passamos no pé das dunas gigantes para fazer o retorno numa subida ! Bom que não precisa de ninguém mandando reduzir a velocidade hehehe. De lá seguimos por outro caminho até a cidade, com os últimos 20 km planos com leve vento contra.

Chegando na T2 uma multidão corria. 2800 atletas indo e vindo em um loop de 10 km causa uma certa aglomeração espalhada de gente. Transitei rápido mas tive que parar para um xixi na casinha.

Comecei a correr com uma dor muito forte na panturrilha direita, ela parecia ir se embolando a cada passo. Logo cheguei no km 2,5 na primeira subidinha e soquei a bota e desci voando, agora sentido o aquiles.

O percurso era rápido mas eu não, fui do jeito que dava e na metade da última volta resolvi correr o máximo de tempo possível no limiar do desespero. Deu certo e consegui aumentar um pouco o ritmo no final, fazendo umas ultrapassagens e chegando em sprint com uns caras que não sabiam da minha posição na prova assim como eu não sabia da deles.

Corri sem praticamente ver relógio nem paces, mas imaginava fechar numas 4h40 dado o pedal lento, mas vi 4h49 no pórtico. Sem a menor ideia de posição, assustei quando vi 90 na categoria, coisa impressionante. Os outros 300 e tanto estavam todos embolados, assim com todos à frente até os primeiros 5 que destoaram completamente. Prova dura e linda, como tem que ser. Condições não ideias e dia perfeito dentro das possibilidades.

Nadei no oceano índico cristalino, pedalei na costa selvagem sul africana e corri na orla de uma cidade acolhedora e sensacional. Fiz o melhor que podia, deixei até a última gota de esforço que tinha para o dia. Não poderia querer nada melhor.

Bora em frente, rumo às próximas ! Muito obrigado a todos que torceram a ajudaram a tornar mais esse sonho realidade.

Dados técnicos
Comi 5 gels e 1 medida de dux endurance, além de um pouco de coca cola e redbul na corrida. Não me senti fraco em nenhum momento. Acho que foi ideial.

Essa foi diferente. Normalmente eu faço a prova logo ao chegar e vou turistar depois. Dessa vez foi diferente, fui turistar 10 dias antes e foi divertido ao extremo, porém em termos de desempenho é visível a diferença no rendimento. Tudo bem que pedalar 75 km na sexta feira só com meio litro dágua não foi inteligente, era melhor ter ficado mesmo 12 dias sem pedalar kkkkk. Mas eu me perdi, tenho isso em minha defesa :-).

Resultados oficiais aqui.

Swim 00:31:36
Bike 02:36:14
Run         01:34:14
Overall 04:49:53

Saída água em 125 (achei que tinha nadado bem !), saí da bike em 89 e miseravelmente consegui perder posição na corrida :-).

Fotos