sábado, 31 de outubro de 2020

Maratona solo

Correr uma maratona tem algo de especial. Tem alguma coisa nessa distância arbitrária que causa uma euforia no completamento do odômetro que é diferente de qualquer outra. Não basta correr 41 km, e correr 43 não aumenta muito o efeito da endorfina.

Nesse ano caótico de 2020 não haveria chances de correr uma maratona numa prova, mas também não queria passar o primeiro ano desde 2003 sem completar uma, então no dia 20 de setembro acabei fazendo uma maratona solo totalmente no improviso, e vou dizer, foi um aprendizado interessante.

A ideia estava lá e eu sai já com más intenções de completá-la, mas sem muita certeza pelo histórico recente de treinos. Então durante o percurso acabei decidindo completar a distância mítica. Uma coisa fantástica, sair pra correr sem rumo, só com um mapa na cabeça e no final ver que fechou certinho, que o abastecimento foi na estica no camelback, a música perfeita e o ritmo fluindo.

Saí de casa pela SC 110 rumo ao vale do São Francisco, desci pela terra batida perfeita e segui aquecendo sem forçar. Após uns 50 minutos com as pernas meio estranhas resolvi começar o protocolo corre/anda e nas subidinhas caminhava, ao invés de andar a cada intervalo de tempo pré-estabelecido. Até ali estava indo fazer o treino de corrida do desafio do MyXTRI Global Challenge, a prova virtual do Xtri World Tour que envolvia 14 segmentos e neste teria que completar 30 km e 1500 m de altimetria. Existe um fator de compensação para quem não tem acesso a grandes desníveis, então para cada 100 m que vc 'não sobe', precisa corre 1,5 km a mais. No mapa mental, eu faria uns 1000m de ascenção, logo já teria que correr 7,5 km a mais. 37,5 é muito perto de uma maratona, então a ideia nasceu.

Comecei a subir o morro da antena um tanto quanto travado, e ali achei que se conseguisse cumprir o desafio seria lucro. Fui negociando as subidas, trotando, andando, correndo onde dava e cheguei no topo com garoa e neblina e stairway to heaven tocando. Conclui que a coisa estava feia pra uma maratona, pois tinha completado apenas a meia e já estava destruído. Mas aí comecei a descer e fui soltando as pernas e pensanddo em como dobrar o que já tinha feito. 

No km 26 fiz a única parada num posto de gasolina e abasteci de líquidos repletos de açucares, uma paçoca e um pão de queijo e então segui para o morro do parapente, novo ponto turístico de Urubici. Fiz as contas de cabeça e decidi que não precisava subir tudo, então desci e cheguei no asfalto novamente com as contas erradas e precisei fazer o único vai-e-vem do percurso, passando um pouco da entrada do invernador e voltando para entrar na estrada de terra novamente.

Aos 39 km precisei fazer uma parada para xixi e então toquei sem mais parar nos morrinhos até em casa. Passei os 42 km e fui olhando o garmin até virar mais 200 m e então ergui os braços, soltei um berro e agradeci em silêncio pela oportunidade de poder fazer isso.

Foi fantástico negociar com as pernas e o percurso, manter a cabeça boa e positiva num dia cinzento e gelado, sem ninguém pelo caminho. Acho que apenas a experiência permitiu completar esse percurso dessa forma, é fantástico como saber o que vem pela frente nos faz dosar instintivamente o ritmo para que no final as pernas estejam ocas mas o percurso esteja completo. Nas contas de cabeça, seria a 46ª vez cumprindo a distância maratônica ou superior.

Uma maratona solo na chuva, bem feita e sem me arrastar, sem planejamento - inclusive no dia anterior saiu 4h40min de MTB pela serrra do corvo branco. Uma oportunidade de simplesmente fazer o que gosto, sozinho com meus botões, mas muito bem acompanhado.


Dois morrinhos no caminho

A volta ao mundo em Urubici

Alone in the mountain

Morro do parapente (em outro dia, claro)

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Quando o imponderável ataca

É incrível como podemos traçar analogias do esporte com outras atividades, como o esporte nos ensina e nos permite exercitar um conjunto que habilidades que é útil em outras situações. Especificamente no contexto desse post, resiliência e capacidade de adaptação. 

Nestes tempos únicos que estamos vivendo, a nossa capacidade de adaptação vem sendo cada vez mais exigida. Adaptação extremamente acelerada. E a resiliência idem. Fazer o melhor possível com o que temos e continuar, apesar de tudo, tirando sempre o melhor de cada situação. Hoje uma lembrança me chamou atenção. Foi a postagem da prova do Ironman de 2018.

Naquele ano eu achava que estava em algum ápice de performance (hoje, dois anos depois, continuo achando). As coisas encaixaram como nunca nos treinos e eu achei que seria a prova perfeita. Assim como no ano novo de 2020 achamos que seria o ano perfeito. Sempre achamos, temos que achar. Mas sabemos que imprevistos vão acontecer. Contra isso, não há como se preparar a não ser cultivando a capacidade de se adaptar a novas situações.

Na prova de 2018 eu saí da água com o melhor tempo até então, fiz uma transição tranquila e comecei a pedalar só focado em executar a prova perfeita. Porém, assim como em 2020, a prova mal começou e já foi tudo quase por água abaixo. Lá pessoas desprovidas de espírito inundaram a rodovia com pregos, em 2020 um vírus resolveu nos atacar.

Naquele Ironman a capacidade de reavaliar as metas e fazer tudo da melhor forma possível foram fundamentais para que eu tivesse das provas mais bem executadas até hoje. Não foi o melhor resultado, foi uma das melhores execuções, que trouxe um dos melhores resultados. E assim precisa ser 2020.

Em 2018 depois de furar dois pneus com as malditas tachinhas e pedalar furado, trocar a roda inteira no apoio da prova e contabilizar 21 minutos parados na primeira hora de pedal, reorganizei os objetivos. Obviamente saiu tudo dos trilhos, tive que impor um ritmo ao retomar que certamente não seria sustentável a prova toda, mas foi o jeito de me motivar a voltar ao jogo. O sprint cobrou o preço no final do ciclismo, mas eu precisava me manter motivado com alguma meta. Já em 2020, do nada mudamos nosso modo de trabalhar (para quem tem a sorte de poder trabalhar remotamente) e de uma hora pra outra estávamos trabalhando mais, de um jeito diferente, para re-sincronizar as coisas para que tudo entrasse nos trilhos.

Ter conseguido fazer a prova de 2018 é um dos aprendizados mais valiosos que o esporte me deu. Estar passando 2020 do jeito que estamos também será.

Apesar das agrura, só de poder fazer o que queremos, o que escolhemos, já precisamos estar agradecidos. Depois da lambança toda no ciclismo começar a maratona foi um privilégio. Assim como continuar 2020 está sendo.

E acima de tudo, assistir ao vídeo do amigo Fábio Lima me faz lembrar de que, como sempre, é a cabeça que manda. A mecânica da corrida já naturalmente feia está horrível, mas tem uns gritos  desesperados ali e as olhadas no relógio que denunciam o objetivo secundário que motivou a prova toda. Que assim seja em 2020: adaptar, reavaliar e continuar da melhor forma possível.

“Success is not final. Failure is not fatal. Is the courage to continue that counts.” Winston Churchill.

O sol nasce todo dia.
Como há 12 anos, o último domingo de maio é em Jurerê.
Neste não será diferente.
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Pra quem já perguntou, uma atualização: as outras melhores provas foram: Ironman Fortaleza 2016, Fodaxman 2018 e Challenge The Championship 2019 :-).


domingo, 22 de setembro de 2019

GP Extreme Penha 2019

Mais uma ótima prova em penha. Esse formato do GP é perfeito pra quem está sequelado da corrida :-), e falando sério, é uma distância muito boa pra testar o condicionamento e fazer força sem medo de ser infeliz :-).

Em 2017 eu estava com provas alvo mais longas adiante, mas neste ano creio que esta distância será a prova mais longa do semestre. Por ser colado no parque, fomos de novo com a patota completa - enquanto fui competir a turminha foi brincar no Beto Carreiro, e voltaram acho que mais cansadas do que eu.

Fiquei a cerca de 1 km da largada, então não quis sair antes pra voltar e tomar café da manhã. Saí só com 1 banana e um pedaço de cuca de uva (!). A área de transição estava bem estruturada e deixei a mochila no guarda volumes depois de arrumar tudo e matar um tempinho antes da largada do sprint. Largamos 25 min depois para 1000m de natação num mar calmo e geladinho.

Corri como nunca em direção à água e logo tomei um golão inédito qdo fui respirar pra frente, coisa que raramente faço, mas queria orientar bem e tinham muitos barcos pra confundir a navegação (sem trocadilhos). A paralela à praia aparentemente era com corrente contra e logo contornei a última boia e segui pra areia... corrida boa até a T1 e então saí rápido e agilmente para pedalar. Desa vez a caca começou na saída, pois achei que a faixa vermelha era 'monte' e não era, era 10 m pra frente na azul. Fui montar e derrubei a sapatilha (vou comprar uma caixa de borrachinhas pra prender a sapatilha), tendo que pegar num movimento de pinça com o dedão, calça-la sem as mãos e perder o Roberto de vista kkkkk.

Saí pra rodovia bem tranquilo e comendo um gel, já que o café da manhã já tinha virado fumaça. Uma vez na pista comecei a ritmar e com uma volta e meia já estava vendo a potência que ficaria até o final do ciclismo. Algo bem uniforme e constante.

Foram 8 voltas de 12 km totalizando 104 km de pedal praticamente plano e com pouco vento. Usei pouca água da organização e não perdi tempo nos retornos tentando deixar o pedal o mais homogêneo possível.

Ali pela 6a volta alcancei o Roberto. Segui sabendo que receberia uma marretada na corrida e era essa a ideia mesmo :-). Nada como competir com o mestre. 

Entrei na transição e me enrolei entrando por trás do cavalete para calçar os tênis e etc, deveria ter deixado o material pra frente mas fiquei com receio de tudo ser chutado pra longe. Saí correndo arrumando as coisas e descobrindo que tinha largado a bike em 4o geral.

Saí da T2 bem na hora que o Igor vinha fechando a primeira volta de 5 Km e liderei visualmente a prova por umas centenas de metros kkkkkk. Sem a menor expectativa fui correndo sem ver relógio até começar a ouvir passos. Achei que era o Roberto mas era um atleta de Blumenau que saiu feito um foguete e me passou antes dos 2 km. 

Logo depois do retorno o Roberto me passou, deu umas dicas e seguiu à caça. Acabaríamos invertendo posições ao longo da prova, sai pra corre em 4 e ele em 6 e chegamos ao contrário.

A corrida foi difícil tem termos pulmonares. Era estranha a sensação de esforço para um ritmo tão lento, suponho que isso deva-se obviamente à falta de específicos de corrida e de treinos de vo2. A bike segura o endurance mas não faz o milagre de nos fazer correr sem correr :-).

Cheguei bem e não tão sequelado quanto no olímpico um mês antes. Coisa boa. Fui pra massagem e comi uma feira inteira de frutas. Papo com a galera, premiação, arrumação e voltei pro hotel. Lá descansei e sai pra caçar comida. Achei um açaí e depois fui descansar mais até a turma cansar do parque. Minha estratégia de passar despercebido e não tentar ir bater perna por mais 4 horas deu certo :-). Saí pra uma padaria e comi um omelete gigante e uns pães de queijo e finalmente parei de ficar com fome.

Uma baita prova, fiz uma boa natação (mas nunca saberei pois não dei start no garmin) e um pedal excelente com mais potência do que em 2017. A corrida foi o que foi, boa por estar sem correr e muito aquém do que poderia. Agora é mirar na prova de estreia do GP em Canasvieiras em 1/dezembro.

Movimento retilíneo e uniforme

let's run !

Eu e o Igor kkkkk

Perseguindo o Roberto, #SQN hahaha.
Em que outro esporte pode-se competir com as lendas ?

6o geral / 1o cat

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Tri Day Series - Florianópolis 2019


Muitas coisas diferentes e inéditas numa prova na distância olímpica sem vácuo. Aconteceu nos ingleses, mesmo local do 70.3. Muito interessante fazer um olímpico daquela forma, com 8 subidas fortes e 8 retomadas no ciclismo. Seria um bom teste de FTP :-).

A prova é extremamente bem organizada e desde o ano passado fiquei na vontade de correr. Dentre as coisas muito diferentes estavam não ter corrido nas últimas 7 semanas. Apenas trotrei/caminhei 30 minutos na segunda feira. A outra novidade foi largar no seco, sem natação. O mar estava grande e revoltado, de forma que a organização corretamente cancelou a natação.

Largamos em time trial a partir da colocação das bikes nos cavaletes, então acabei ficando no meio do bolo. A cada 10 segundos 4 alucinados partiam correndo para pular na bike. A outra coisa nova foi ter largado de sapatilha calçada, pois havia um pouco de grama e um trecho bem curto de lajotas até a linha de 'monte'.

Ao sair em disparada empurrando a bike me veio à cabeça que nunca havia tentado pular na bike com a sapatilha nos pés. Acabei parando pra encaixar um pé e sai tentando encaixar o outro pé enquanto o pedal girava. Logo entramos na SC403 e a prova começou.

Foram 4 voltas de 10 km com o morro dos ingleses no meio. Muito interessante. A potência vai pros espaços e a perna é quem manda, pois é preciso dosar bem desde o começo. Como a atrasou para organização da nova largada, um vento que não havia passou a existir. Raramente vento me desequilibra no ciclismo, mas a descida em direção à SC401 estava bem divertida com vento de lado empurrando e sacudindo a bike. Difícil ficar clipado na descida, mas difícil não ficar pelo desperdício de velocidade grátis que se tem. Então era ficar e bem atento.

Depois de uma volta acabei entrando em regime permanente e comecei a passar bastante gente, não sei se mais de dois me passaram no pedal todo. O final foi bem divertido com uma chuvinha que só molhou o lado de lá do morro, aquele o ventoso.



Ao chegar na transição fiz uma trapalhada e fiquei com os pés de um lado da bike pra pular correndo muito antes do 'desmonte', de forma que a bike perdeu velocidade até quase parar. Como ainda estava a uns 20, 30 metros, resolvei voltar a pedalar, o que só rendeu umas 3 pedaladas até ter que desmontar de verdade, mas aí foi em cima da hora e quase deu com os burros na lajota. Saí perdendo sapatilha todo errado em direção à T2 e logo vazei correndo.

A grande incógnita era a corrida. O ritmo foi o que as pernas quiseram que fosse. Corri sem olhar relógio e já com uma certa apatia até o km 3, qdo vi o Roberto e o Rodolfo travando uma batalha épica. Ao ver o rosto do Roberto fazendo força, criei vergonha na cara e passei a fazer força mesmo que isso não se traduzisse em velocidade. No mínimo o máximo, sempre, é isso que o mestre nos inspira.



Até que foi decente nos primeiros 6 km mas no 7 veio uma dor aguda no tendão estragado e dali por diante fui quase pulando tentando compensar. Acabei perdendo várias posições, mas não foi uma catástrofe completa.

É curioso não saber o que esperar de uma corrida. Absolutamente sem ideia. Não dava pra saber posições pois as largadas foram separadas, mas terminando em 18º e puxando pela memória esmaecida umas 4 ultrapassagem só nos últimos 2,5 km, creio que em condições tendinosas saudáveis estaria numa boa situação. A bike foi a maior NP já registrada em provas, com média igual ao outro melhor olímpico (e a média cai demais nas descidas !). Apesar de quebradeira a corrida saiu pra 4:18, pouco melhor que os 4:15 da base aérea em novembro do ano passado, quando estava pelo menos treinando corrida (embora já sequelando no tendão que estragou legal no mundial 70.3). Mas claro, nada nem perto do normal para a distância.


Uma prova bem organizada e uma população de amigos do esporte e meus pais lá assistindo, difícil melhorar. A melhor parte é o ciclismo duro e técnico para um olímpico. Nunca tinha feito olímpico com muitas subidas.

Então era isso, o relato demorou mas saiu. Vamos para a próxima, GP Extreme Penha dia 15/set. Calcule a probabilidade do próximo relato sair antes de outubro.

Largada estranha

Desmonte patético
Alegria só por correr

Até que havia alguma decência biomecânica no início
Chegando. Não me perguntem porque pisei na grama. Sorry.

sábado, 13 de julho de 2019

Mundial Challenge Samorin 2019

Uma prova surpreendente. Nunca esperei tão pouco de uma prova e raras vezes tive uma surpresa tão boa. Além da viagem que foi sensacional (não tenho blog de viagem então sigam a Laís no instagram :-), os dias de prova na Eslováquia foram absurdamente fantásticos.

The Championship. Um nome nada modesto para uma prova que tem tudo para crescer. Apenas na sua terceira edição, este ano teve algumas emoções fortes com o rio Danúbio ameaçando arrastar e congelar as pessoas nos dias que antecederam a prova.

Viajamos para Vienna na quarta-feira depois do Ironman Brasil. Eu ainda estava bastante cansado e sequelado de domingo. A saída de Guarulhos atrasou por problemas técnicos (tiveram que resetar os computadores do A350) e ao chegar em Madri era certo que perderíamos a conexão. Entretanto havia uma senhora acenando com cartões vermelhos de emergência logo no desembarque. Nos mandou correr, e corremos. Quer dizer, tentei. Literalmente andamos rápido e trotando por 20 min até entrar por últimos no avião. Imaginei que as malas não conseguiram correr no mesmo pace.

No desembarque, só a minha mala apareceu. Nada da da Laís ou a bike. Registros e reclamações e elas viriam num vôo 5 h depois. Havia a opção de esperar no hotel até as 13 de sexta, mas a Laís jamais perderia esse tempo de turismo numa cidade desconhecida. Decidimos pegar o carro alugado e esperar, jantando coisas de supermercado dentro do aeroporto até às 23h. Pegamos as tralhas e saímos pra Bratislava a meia noite. Uma chuvinha leve e chegamos na Eslováquia depois de 70 km quase as duas da manhã.

Na sexta pela manhã montei a bike e fui deixar a Laís no centro da cidade para turistar antes de seguir para o X-Bionic, o incrivelmente fantástico complexo de hotel, restaurantes e centro de treinamento olímpico em Samorin, a 20 km de Bratislava e centro da prova. Na verdade, provas. Haveriam provas de distância sprint e olimpica no sábado, além das corridas curtas e outros eventos. 

Peguei o kit rapidamente, explorei o local de bike mesmo e saí para pedalar no percurso ali pelas 12h sob um sol de torrar e vestido de preto. Lembrei de pegar a meia garrafa de água que estava no carro antes de me perder do caminho e sair pra uma rodovia errada. Mas estava tranquilo e segui 30 min até começar a voltar. Pernas absurdamente estranhas e potências ridículas. Guardei a bike no carro e fui nadar no complexo aquático. Que troço legal, várias piscinas e um mundo de gente nadando, não só atletas, mas crianças, velhinhos e muita gente que certamente não estava ali para competir.

Ao saír comecei a ver umas notícias da natação estar sob risco. Havia chovido muito na semana e o nível do rio estava muito alto e com muita correnteza, junto com detritos (basicamente pedaços de madeira e árvores), além da água estar muito fria. Aparentemente a natação das provas de sábado seria na piscina olímpica.

Almocei por ali mesmo e fui pra cidade encontrar a Laís. Deixamos as tralhas no hotel e fomos perambular pela cidade. Depois de bater perna por quase 3 horas, jantamos as 22. Fui dormir com um cansaço sistêmico. Tudo estava cansado, até os olhos estavam cansados de tanto ficarem abertos.

Sábado acordamos cedo e fomos direto pra Devin visitar o castelo - ficava a 15 km de Bratislava, então seria 'rápido'. Ficamos a manhã andando pelas colinas e escadas do castelo, bom pra soltar as pernas (os músculos dos ossos, talvez). Precisei, do verbo necessitar, tomar uma cerveja na base da colina, olhando pras muralhas de 1000 anos e pros campos verdes cheio de ovelhas. Voltamos pro hotel e dormi uma hora antes de ir pro X-bionic deixar a bike.

Lá o Sebastian Kienle me encontrou e pediu pra tirar uma foto. Extremamente simpático, tentou falar comigo em português (tudo bem e obrigado) e então me deixou em paz. Depois a Lucy Charles tentou me achar mas não conseguiu. Uma atmosfera muito legal no pré prova, com um sol espetacular e atletas do mundo todo preparando as bikes pro dia seguinte. Estrutura perfeita e simples: cabides para as sacolas ao ar livre e bikes em capa.

Fomos circular no complexo e então ali pelas 18 entramos no jantar de massas. Muito bom e ficou melhor ainda quando Laís descobriu que tinha cerveja. Não deu outra, comi demais e tomei uma cerveja. Às 22:00 botei as pernas pra cima e fiquei vendo atualizações no celular por 45 minutos, até parar de sentir a ponta dos pés de tão dormente que ficaram.

A prova não começava cedo, então tomamos café às 6 e seguimos pra Samorin. Lá ajeitei a transição e fui ver a largada dos profissionais. Tinha uns 800 metros até lá, então o tempo passou rápido entre voltar pra ver a transição e ir pro rio de novo pra largar. Tinha uma placa com "14C water / 18C air". Bom, não tava frio no ar, então entrei na água pra aquecer. Consegui ficar 2 minutos e saí. Aqueci pulando no mesmo lugar. Ali vi que as pernas estavam bem melhores do que sábado. Bom sinal. Fui pro curral de largada faltando 3 min.

Largamos de dentro d'água num frio de arder os ossos. O percurso era um retângulo com a ida contra  a corrente, e que corrente. Muita corrente mesmo, mas depois de muito bater braço e procurar uma esteira cheguei no retorno e aí fui um foguete pra voltar. Difícil foi fazer a curva de 90 graus para sair da água, simplesmente não ia reto de jeito nenhum.

Até que não foi ruim, 33 minutos para 2020m. Saí correndo para a T1 e cansei no caminho, quase andei, mas jamais faria isso num mundial, é falta de respeito :-). Peguei a bike e saí todo feliz pra pedalar sem nenhuma expectativa. Até começar. Assim que saí do hotel comecei a pedalar firme controlando pela sensação das pernas, sem olhar números. No mínimo, o máximo, sempre. Mesmo que sequelado. Quase corri sem o garmin mas eu queria guardar os dados... então não olhei nada até o km 30.

O circuito da bike era simples e bacana: um vai e volta todo plano, com umas vilas no caminho e um trecho de 10 km por cima de uma barragem do Danúbio, com o rio de um lado e a Hungria do outro. Sensacional aquela parte. O retorno tinha um pouco de vento mas nada demais, só o calor começando a pegar. E que prova limpa. Com largada em ondas e pedal sem voltas, daria pra colocar o dobro de atletas sem problemas. Com apenas 800, não se via nenhuma aglomeração e todas as ultrapassagens e atletas em linha respeitavam a distância de 20 m da zona de vácuo. Deu gosto pedalar nesse percurso, ainda mais pelo fato de ser 100% fechado para carros.

Olhei umas poucas vezes para a potência e vi que estava ligeiramente abaixo do normal para provas de 70.3. Um pouco mais fraco mas com sensação de moderado. Então segui só pela percepção, mas sem afrouxar, afinal era um mundial.

Entrando na cidade e no complexo olímpico comi mais um gel (o terceiro) e descalcei a sapatilha. Fiz a transição correndo e fui largar a bike. Fiz uma transição lenta e aproveitei pra beber bastante (iria me arrepender depois). Saí pra correr e vi a Laís fotografando na saída. Ela estava por tudo, na saída da natação, da bike e em vários pontos da corrida. Local perfeito pro público.

Olhei o km 1 passar a 4:09 e tirei o pé um pouquinho. Comecei a correr controlando a respiração sem ofegar demais e sem olhar mais pace até o km 3 quando achei o Jader. Corremos juntos uns 2 km e no 5 vi que o ritmo estava muito bom, até demais. Mas nada de segurar... era um mundial kkkkk. O percurso da corrida é único. São três voltas dentro do x-bionic, pegando todo tipo de terreno: areia, grama, terra, asfalto e concreto. Só tem uma subida minuscula por volta, para pegar o topo de uma barragem ao lado do rio.

A segunda volta foi firme e comecei a tomar coca cola e pegar esponjas com água gelada, pois o calor se fazia presente as 14:00. Nunca larguei tão tarde na vida, 9:40 da manhã, então nunca corri a meia de um meio tão tarde. Fez bastante calor mas nada insuportável, dado o suporte dos postos de hidratação. O segredo é molhar a cabeça.

A última volta foi mais dolorida mas ainda assim impressionantemente boa, tanto no ritmo como na sensação. E uma vontade alucinada de fazer xixi ficava cada vez mais forte. Mas sem chance joga um minuto fora num mundial.

A corrida estava tão boa que em certos momentos eu dava risadas em voz alta pensando em como estava sentido as pernas na sexta feira. Como é que pode aquilo ? Simplesmente não sei, só sei que 4 dias com as pernas empedradas, 24h de vôo e dois dias perambulando, dormindo e comendo não tão bem ainda assim deixaram as pernas prontas pra diversão.

Peguei a bandeira antes de cruzar o pórtico e cheguei feliz da vida, satisfeito de ter feito a força que consegui, sem me explodir e sem deixar sobrar muita coisa. Que baita dia ! 4h36min, corrida para 4:26/km, bike 38km/h e oitavo lugar na categoria.

Logo encontrei a turma de brasileiros na prova, ficamos nas piscinas de gelo e área de alimentação por um bom tempo antes de sair. Só fui pra Bratislava às 18h.

Ainda fomos conhecer a UFO bridge desde o topo do UFO. Saindo de lá não queria andar pelo centro pra jantar então fomos num shopping, imaginando que seria uma boa opção para jantar. Mas apesar do céu claro já eram mais de 22h e foi o contrário: só tinha um McDonalds aberto :-D.

Os quatro dias em Bratislava foram divertidos, intensos e cansativos. Para descansar, partimos numa viagem de 12 dias, 15 cidades, 5 países e 2600 km rodados já na segunda feira pela manhã. Mas isso já falei, é instagram da Laís :-).


O famoso cavalo de corrida do X-Bionic


Devin castle. Napoleão explidiu o lugar. Miserável... 
Não usam máquinas de cortar grama. Usam ovelhas. Sério.
  
Ooops

O campeão da prova. O de preto. Claro.

Natação paralela, público perto e segurança

2 minutos de aquecimento

Pequena torcedora, filha preferida :-) 

Largada 45-49

A distância era grande

E tinha escada....

Acho que gastaram todo o tapete vermelho da eslováquia nessa transição

Achei que a bike seria uma desgraça a foi boa !


Corrida na grama fugindo dos gringos

Trecho de concreto nos passeios dentro do x-bionic

Finish line

No mínimo o máximo
Visual do Danúbio desde a UFO tower 


UFO de disco voador mesmo. Tem um troço igual um disco voador no alto da torre da ponte, e lá tem um restaurante e mirante panorâmico 360 graus. Nada medieval.



quarta-feira, 29 de maio de 2019

Ironman Brasil 2019 - Race Report

Bom, mas não o suficiente. Ainda assim, extremamente recompensador saber que fiz o melhor que podia em cada momento da prova. Uma prova tão longa decidida em tantos pequenos detalhes...

Desde 2016 não conseguia fazer um ironman floripa redondo, foram 3 pneus furados na chuva em 2016, um tombo em 2017 na bike e 2 furos nos pregos terroristas em 2018. A principal coisa que eu queria, antes da vaga, era uma prova onde tudo só dependesse de mim mesmo. E assim foi. E, como sempre, cuidado com o que você deseja, pois pode conseguir 😎.

Depois de uma periodização muito bem feita, larguei numa semana corrida, com trabalho até as 18 horas de sexta. Sábado só descanso absoluto exceto 20 min de ativação na bike e corrida. Muita comida e hidratação, mais pernas pra cima e então dormir.

A largada desse ano foi linda. Um sol espetacular brotou bem as 7:00, como faz todos os anos. Mas dessa vez eu aguardava sentado na areia pela minha onda as 7:21. Observei 19 drones sobrevoando a arena da natação, comi, bebi e quase dormi de tão tranquilo que estava.

Alinhei ao lado do Galindez, multi campeão da prova e agora colega do age group. Quando ele faz aniversário mesmo :-) ?! Larguei muito bem, tranquilo e assim foi por toda a natação, uma natação feliz, reta e sem esforço exagerado. A única ressalva foi que o garmin quase foi nadar nas profundezas do atlântico, peguei e abotoei de novo no pulso sem tirar a cara da água. A natação é uma etapa curta, mas pensando bem é muito complexa. Você precisa respirar, coordenar todos os movimentos, evitar ser atingido e espancado e ainda assim nadar reto e rápido. Nesta modalidade é onde tenho encontrado o melhor custo benefício de treino e retorno. Com um treino inserido a mais na semana (totalizando uns 10.000 semanais total), consegui manter o resultado dentro da faixa competitiva. Isso veio depois da prova de Garopaba que me ligou o sinal amarelo. Conversei com o Roberto e essa estratégia deu muito certo. Sem nadar dois meses de dezembro até meio de fevereiro, não posso não gostar do resultado da primeira etapa da prova. 

Transição rápida e saí pro pedal tranquilo e logo cheguei em canasvieiras... parecia uma brisa a favor, mas estava a favor na ida pro centro também. Nos túneis a média estava em 38/h e então voltei fazendo um bocado de força para fugir de um pelote chato até jurere, e segui assim também até canasvieiras. Lá aliviei bem pra ida com vento a favor, de modo a manter a normalizada no alvo. Consegui gastar energia a toa, pois o pelote passou e foi embora 😡. 

Segui pro sul e nas duas voltas na baía sul dava pra ver que havia algum vento, que se manteve na volta toda. Vim com 37.5 se média deixando a potência cair deliberadamente, mas acho que já tinha feito algum estrago com aquele bloco de 30 km mais forte. Cheguei em Jurerê ao final da segunda volta com 36/h e quase a mesma potência da ida. 

Transitei rápido e saindo pra correr vi o tempo de prova. Teria que correr pra 3:20-22 se quisesse ficar na faixa de tempo provável da vaga. 

Levei uns km pra decidir e decidi seguir no ritmo que estava fácil pro inicio, mas que ainda assim era forte. Não achava que daria pra segurar aquilo mas era tentar ou tentar. Correr na zona de conforto pra fazer um tempo de completar não me inspirava muito. Só que arriscar envolve riscos ;-). 

A primeira volta  foi ótima e na segunda já comecei a sentir umas sequelas nos quadríceps. Apesar disso todo o tempo a alimentação estava boa e o foco bom, então resolvi manter até onde desse daquele jeito sem medo de explodir. 

Do meio da terceira volta em diante a coisa ficou feia. Pernas se rebelando, pesadas e começando a travar, com os quadríceps doendo a cada passada. Foram 17 km de puro deleite, só que não. Senti a prova escorrer pelos dedos, tendo ouvido a última parcial quando estava em 5o na categoria. Sabia que tinha feito um pedal bom então também sabia que tinha gente que corria muito bem vindo na caça. 

E virei presa 🤦🏻‍♂️😂. Acabei terminado em décimo na categoria, bem sequelado e exaurido. E isso é muito bom. Não deixei de tentar. E deixei o que podia no percurso, tendo que administrar umas dores miseráveis por boa parte da corrida. O que não vem fácil tem mais valor. Apesar de não satisfeito, estou extremamente feliz pela prova. Cada uma é única e ensina o que a gente às vezes não entende na hora, como diz o mestre Lemos. Melhor tempo na distância, melhor resultado na categoria e na geral numa prova de IRONMAN. Era o que tínhamos e o que usamos para o dia ;-). 

Não se faz uma prova sozinho, e a torcida, família e amigos tornam o dia exponencialmente mais especial. Muito obrigado a todos ! 

Em especial MUITO OBRIGADO a minha família que pela décima vez passou o último  domingo de maio correndo pra lá e pra cá em Jurerê, torcendo e me incentivando. Amo vocês. 

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Fotos by Duks, Louise, Lais, Daiane e Kilder. Se esqueci de alguém, sorry. Postando no iPhone 🤷🏻‍♂️😂.


























segunda-feira, 18 de março de 2019

Training Camp Urubici - Carnaval 2019

Organicamente organizado, tivemos um camp fantástico de treino de montanha em Urubici no último carnaval. Foi uma experiência sensacional reunir uma galera empolgada, vários participantes do Fodaxman, amigos e familiares, para curtir o feriado longe da loucura da cidade, no meio da loucura das montanhas.

Basicamente focamos em treinos de ciclismo de grande altimetria e longa duração. A coisa também envolveu corrida e até uma natação num cânion de rio gelado. Junto a tudo isso, churrascos, jantares de massa e sessão de cinema complementaram o pacote.

O sábado foi de aclimatação e treinos mais curtos, mas nem de longe simples. Uma parte da galera pedalou 2 horas na SC 370 e então foi para uma transição bizarra - subir os 16 km do Morro da Igreja. Outros dedicaram-se a escalar a montanha a bordo das bikes. No final de tarde, sessão de cinema, jantar de massas e confraternização.

No domingo fizemos o percurso da Serra do Rio do Rastro. Saímos de ônibus da cidade às 6:00 e começamos a descer a serra a partir do mirante e então retornamos até Urubici, no percurso que compreende os dois terços finais do ciclismo do Fodaxman. Na chegada, churrasco e piscina e então descanso para o dia seguinte.

Segunda feira saímos em direção à São Joaquim, fazendo um dos percursos mais legais da região. Tivemos um dia bem variado, com frio ao amanhecer, muito vento e sol ao meio dia. Depois do já tradicional churrasco, fomos até o rio Sete Quedas fazer uma trilha de 20 minutos rumo a segunda queda dágua, uma piscina natural gelada e revigorante no meio da mata. Acabamos o dia novamente na sorveteria do Açaí.

No dia de vir embora, reunimos às 6:30 para um longo de corrida que variou de rodagem de 14 até 24 km, todos no seu ritmo, pelas estradas rurais também percurso do Fodaxman, num cenário inc´rivel para fechar o feriado intenso de treinos e diversão.

Neste camp tivemos a assessoria da UP SERRA, do Marcus Zilli e Alderan Israel. A empresa organizou toda a logística de apoio no ciclismo e na corrida ao morro da igreja, com transporte, hidratação, lanches e acompanhamento, além de cuidar das autorizações, dos churrascos pós treino e do jantar de massas e espaço para a sessão do documentário. Uma estrutura excelente à disposição dos entusiastas dos esportes em Urubici. 


Bus de apoio

No pedal Urubici - São Joaquim

Acampamento de bikes

Nós vamos Lá !

Urubici com o cobertor de neblina

Sequelados e felizesz

Subindo a Serra de Urubici

Galera reunida no mirante da Rio do Rastro !
Segunda queda dágua - rio Sete Quedas

Bora pro próximo !