quinta-feira, 28 de maio de 2020

Quando o imponderável ataca

É incrível como podemos traçar analogias do esporte com outras atividades, como o esporte nos ensina e nos permite exercitar um conjunto que habilidades que é útil em outras situações. Especificamente no contexto desse post, resiliência e capacidade de adaptação. 

Nestes tempos únicos que estamos vivendo, a nossa capacidade de adaptação vem sendo cada vez mais exigida. Adaptação extremamente acelerada. E a resiliência idem. Fazer o melhor possível com o que temos e continuar, apesar de tudo, tirando sempre o melhor de cada situação. Hoje uma lembrança me chamou atenção. Foi a postagem da prova do Ironman de 2018.

Naquele ano eu achava que estava em algum ápice de performance (hoje, dois anos depois, continuo achando). As coisas encaixaram como nunca nos treinos e eu achei que seria a prova perfeita. Assim como no ano novo de 2020 achamos que seria o ano perfeito. Sempre achamos, temos que achar. Mas sabemos que imprevistos vão acontecer. Contra isso, não há como se preparar a não ser cultivando a capacidade de se adaptar a novas situações.

Na prova de 2018 eu saí da água com o melhor tempo até então, fiz uma transição tranquila e comecei a pedalar só focado em executar a prova perfeita. Porém, assim como em 2020, a prova mal começou e já foi tudo quase por água abaixo. Lá pessoas desprovidas de espírito inundaram a rodovia com pregos, em 2020 um vírus resolveu nos atacar.

Naquele Ironman a capacidade de reavaliar as metas e fazer tudo da melhor forma possível foram fundamentais para que eu tivesse das provas mais bem executadas até hoje. Não foi o melhor resultado, foi uma das melhores execuções, que trouxe um dos melhores resultados. E assim precisa ser 2020.

Em 2018 depois de furar dois pneus com as malditas tachinhas e pedalar furado, trocar a roda inteira no apoio da prova e contabilizar 21 minutos parados na primeira hora de pedal, reorganizei os objetivos. Obviamente saiu tudo dos trilhos, tive que impor um ritmo ao retomar que certamente não seria sustentável a prova toda, mas foi o jeito de me motivar a voltar ao jogo. O sprint cobrou o preço no final do ciclismo, mas eu precisava me manter motivado com alguma meta. Já em 2020, do nada mudamos nosso modo de trabalhar (para quem tem a sorte de poder trabalhar remotamente) e de uma hora pra outra estávamos trabalhando mais, de um jeito diferente, para re-sincronizar as coisas para que tudo entrasse nos trilhos.

Ter conseguido fazer a prova de 2018 é um dos aprendizados mais valiosos que o esporte me deu. Estar passando 2020 do jeito que estamos também será.

Apesar das agrura, só de poder fazer o que queremos, o que escolhemos, já precisamos estar agradecidos. Depois da lambança toda no ciclismo começar a maratona foi um privilégio. Assim como continuar 2020 está sendo.

E acima de tudo, assistir ao vídeo do amigo Fábio Lima me faz lembrar de que, como sempre, é a cabeça que manda. A mecânica da corrida já naturalmente feia está horrível, mas tem uns gritos  desesperados ali e as olhadas no relógio que denunciam o objetivo secundário que motivou a prova toda. Que assim seja em 2020: adaptar, reavaliar e continuar da melhor forma possível.

“Success is not final. Failure is not fatal. Is the courage to continue that counts.” Winston Churchill.

O sol nasce todo dia.
Como há 12 anos, o último domingo de maio é em Jurerê.
Neste não será diferente.
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Pra quem já perguntou, uma atualização: as outras melhores provas foram: Ironman Fortaleza 2016, Fodaxman 2018 e Challenge The Championship 2019 :-).


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