segunda-feira, 1 de junho de 2009

Ironman 2009 !!!

Depois de muito sonhar, vamos ao que interessa. Após deixar a bike no sábado, espiei a praia e vi quase uma lagoa, com vento nulo. Calmaria antes da tempestade ? Bom, o negócio é que desencanei de vez de olhar previsão do tempo e aceitei que do jeito que fosse seria, com o clima não dava pra influenciar em nada.

Saí de casa sozinho as 4:30 da madrugada, o Adriano veio depois às 6 pra levar a Daiane, a Laís e o Arthur pra largada. Vi estrelas no caminho e a polícia a colocar os primeiros cones. Cheguei lá, pintaram os números em mim e fui checar as sacolas e botar líquidos e comida na bike, calibrar pneus, etc. Tudo pronto, vesti a roupa e saí pra praia com a multidão. Muito vento do quadrante norte e marola por todo lado. Os caiaques do staff tinham dificuldade em passar a 'arrebentação' no canto esquerdo, na chegada da natação.

Encontrei a turma e a família a 10 minutos da largada, espremido no canto direito do curral. A música, a ansiedade, a empolgação, o medo, ou tudo junto, me deixaram eufórico. A energia acumulada naquele momento com 1500 alucinados babando prontos para ação é algo que sempre me impressionou. Lá de dentro mais ainda, é de arrepiar até os pelos da alma. Parado, 120 bpm no aguardo do canhão de largada. Quando anunciavam que não teria contagem regressiva, largou. Fui andando até o mar, mas assim que entrei na água acelerei e a pancadaria começou. Era um ponto bem curioso pra mim, esta largada. Passei a compreender melhor o interior de uma máquina de lavar roupas.

Fui rápido e forte até a primeira bóia, 13 minutos. Levei um soco na cara que grudou o óculos e quase arrancou o olho, mas não entrou água. Na bóia, muita gente agarrada nas cordinhas e vários parados. Com o balanço do mar, aquelas cabeças todas pareciam uns sapos a cozinhar num panelão sendo mexido. Um cara perdeu a paciência e foi nadando por cima dos outros, eu fui atrás. Mirei na segunda bóia e prossegui. Como o mar balançava muito, não era muito fácil ver a bóia, e fui com o povo. Logo uns caiaques nos desviaram mais pra fora, demos um baita desvio. Depois descobri que a bóia se soltou e tivemos que nadar para encontrá-la, ou ela veio ao nosso encontro, não sei ! Lá olhei pra praia e vi a tenda da redbul, azimutei num morro e fui firme. Quando comecei a nadar livre, sem tomar muita porrada, um caiaque me reorientou: eu estava voltando pra largada, e não pra tenda do meio do percurso. Quando a ví tomei um susto, estava lá longe e eu era o único daquele lado... Dei um gás e terminei esbaforido, fui correr e vi o polar a 183 bpm e aí fiz o trecho de terra andando e tomando água e gel, com adrenalina escorrendo pelo canto da boca. Encontrei o Diogo e a Cínthia, mais um monte de vozes que não vi de quem eram.

Decidido a navegar direito, entrei na água já azimutado e fechei a segunda perna sem erros e bem rápido, totalizando 1h13min, melhor do que a melhor das previsões. Saí pra transição tranquilo, vi todo mundo me esperando por lá, a Daiane e o Adriano me seguiram no percurso até as barracas de transição, que fechei em 9 minutos depois de encontrar o Nilson. Fui pro pedal já com fome mas evitei comer no início, só líquidos. Deu certo, e no pedágio já comi umas bisnaguinhas. Aí começou o ciclismo pra valer.

Ida tranquila com vento a favor até a beira mar, túneis com vai e volta (a favor e contra) e então volta, peguei chuva do itacorubí até o acesso de ingleses, subimos o último morrinho para então descer e retornar de vez até jurerê. Lá no posto de acesso às sacolas de percurso encontrei a Daiane com as crianças e meus pais. Fiquei uns 5 minutos, conversei e abracei todos, o Arthur queria ir comigo, baita injeção de ânimo. Saí comendo um sanduba e tomando uma coca-cola tranquilo até quase a SC. Fiz a primeira volta muito rápido, 2h58, ou achei, talvez seja porque ali não tem 90 Km, mas fui mais de leve na segunda.

Só que no pedágio já peguei vento contra e estranhei. Na baía sul, vento contra na ida, vento contra na volta. Ninguém entendia, mas aquela região é famosa por formações eólicas atípicas. Encontrei o Carlos Steiner, conhecido da blogosfera e seguimos alternando posições, foi a única pessoa que acompanhei por algum tempo. Depois do Km 130 me concentrei mais em aproveitar as bondades gravitacionais, só pedalando quando baixava de 40 Km/h após as descidas. Isso aliviou um pouco as pernas da briga contra a ventania. Nessa altura comecei a tomar gatorade dos postos, antes só pegava água e às vezes banana. Tentei ficar sempre no clipe para reduzir o esforço aerodinâmico, mas as costas pagaram o preço, foi quase o tempo todo clipado só descansando da posição nas descidas.

O mais difícil da bike foi a exigência de concentração, para não cair, para comer direito, não forçar fora de hora, atenção nas descidas. Na chuva tudo isso se intensificou, menos comer, que eu esqueci. Fora o fato de estar tudo sempre tão rápido que não se fala com ninguém. Na corrida fui conversando com os staffs nos postos, brincando com a turma toda, conversando com desconhecidos, mas na bike é uma solidão só.

Saí da bike com 6h19 de pedal e não conseguia por pé direito no chão. Os dedinhos estavam dormentes e doídos demais, a sapatilha os esmagou de alguma forma. Saí todo torto tentando correr pra transição, onde encontrei o Luiz Otávio. Troquei para um calção, peguei boné e uma água de côco e fui, no Km 3 vi que estava a uns 4:45/km e de luvas de bike. Tomei uns bcaa e vitaminas e segui, logo encontrei o Hélio, Tiago e William, a empolgação veio a mil. Após o primeiro posto na estrada para a SC, o público fica mais escasso. Em jurerê velho rumamos para o lado mais distante do mundo, as colinas de canajurê. Nunca tinha corrido alí, só sei que quando acaba um morro vem outro, e no final deles o plano não termina. A volta é no Km 14, e aí então rumamos direto por dentro de jurerê. Encontrei o Nilson por lá. Fechei a primeira volta em 1h57 e comecei a fazer umas contas. O plano A era fechar em menos de 12 horas, 11 e cinquenta e poucos.

Saí pra segunda volta e logo o Alexandre me passou, faria uma excelente maratona em 3h55min, mas aí tive que fazer um pit-stop forçado no banheiro depois de umas cólicas súbitas. Fiquei meio enjoado e passei a tomar só coca-cola e água. Segui já anoitecendo e esfriando, em jurerê o público sempre empolga, vi todo mundo lá e saí mais animado, mas a chama vai se apagando quando se corre no meio da escuridão despovoada. Voltei pra civilização e fechei a segunda volta faltando 54 minutos para completar as 12 horas, vinha numa média já bem mais lenta. Dali em diante andava sempre uns 200 mts depois de cada posto, pois já estava meio acabado e com dores no abdomen (mas acho que era muscular, pois está doendo até agora).

Encontrei o Hélio e pedi pra me acompanhar um pouco, estava meio lerdo, mas conversei bem com ele (acho), fiz umas contas e concluí que era difícil mesmo fechar antes das 12. Fui indo tranquilo, sempre andando nos postos e tomando o famoso líquido preto.

Na volta pra jurerê, quando vemos a torre do campanário, sabe-se que está perto. Só que dessa vez não tinha mais voltas escuras e frias a fazer, era só terminar, acertar a meta bem no olho. Encontrei um carioca que me puxou um pouco e foi, decidido a terminar íntegro. O Roberto me encontrou, conversamos e aquilo me empolgou ainda mais. Perto da entrada meu pai foi tentar me acompanhar, conversei com ele mas tive que reduzir pra distraí-lo e então quando ele pegou no telefone disparei. Na entrada do funil, naquele corredor humano impressionante, a Daiane e a Laís estavam lá com o Aracajú, entramos todos no tapete, coração disparado, boca seca e nó na garganta. Tentei pegar o Arthur e achei que ia deixá-lo cair, devolvi o baixinho pra Daiane e antes de perceber entrei sozinho no pórtico de chegada, voltando pra abraçar as minhas amadas e o pequenino, que não entendia nada mas sorria pra tudo e todos.

Sensação indescritível, mas vou tentar descrevê-la. O final de uma prova como estas é alucinante, mas na hora da chegada só pensei que tinha terminado, o alívio e a alegria eram enormes, a Daiane ficava repetindo o tempo todo que eu tinha conseguido, não aguentei e desabei a chorar, abraçado à minha ironfamily. Depois de tanta labuta, a recompensa. Nada além de uma medalha e uma camiseta, mas que valem muito pra quem sabe o que significam. Nada de competição ou de adversários além de mim mesmo. Os tempos eram contra mim, contra o que eu queria e achava que poderia fazer.

Logo alguém do staff me separou da família, perguntou se estava bem e me mandou pra praça de alimentação, medalhas e massagem. Encontrei alguns da ironmind, conversamos e voltei pra catar tudo, pegar a bike e me mandar pra casa.

Fechei a corrida em 4h18min e a prova gigante de 226 Km (Olhar assim impressiona !), estava bem inteiro, zero de dor a prova toda, apenas a indisposição gástrica. Meu tempo foi de 12h08min, com uns 10 minutos na primeira transição, 7 na segunda, com vários pit-stop líquidos pelo caminho, 9 no total. Perdi 4,5 Kg no longo dia e ganhei uma satisfação imensa. Valeu a troca !

Homenagem especial à minha ironfamily, Daiane, Laís e Arthur, sem vocês além de eu nada ser, perto disso nem chegaria. Sem a compreensão da Daiane com todas as ausências, com os cuidados dela, eu não teria as mínimas condições de me dedicar a uma empreitada deste porte. Obrigado !!!!!

Agradeço também aos meus pais, meus irmãos e a todos os amigos, da AndarIlha à Ironmind, pelo incentivo constante e companherismo permanente. Valeu !!

Não dá pra não falar do staff deste super evento. Os voluntários dessa prova são mesmo uns heróis. O pessoal é super prestativo, atentos e preocupados com a gente, a corrida toda, nas transições, etc. No final, minha sacola azul sumiu. Uma voluntária procurou que chega, aí anotou o que eu disse que tinha dentro e as 11 da noite me ligou dizendo que tinha achado e combinou de me entregar em casa.

Show, foi um dia perfeito.

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Resultados:



Tempo Final12:08:38,65
Swim C100:41:59.25
Swim01:14:41.00
T100:09:37.40
Bike C101:32:11.20
Bike C202:38:55.65
Bike C304:45:14.75
Bike C405:53:56.60
Bike06:19:21.80
T200:06:16.85
Run C100:33:01.25
Run C202:40:20.65
Run C303:50:55.30
Run04:18:41.60
Rank Total704
Rank Cat158
Rank Swim559
Rank Cat Swim125
Rank Bike940
Rank Cat Bike 207
Rank Run588
Rank Cat Run131


6 comentários:

  1. Lindo o relato! Parabéns pela prova!!!

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  2. Opa, cheguei aqui pelo blog do Carlos. Que relato!!! Sensacional!!!
    A chegada com a familia é de chorar.
    Parabens pelo resultado.
    Valeu !!!!
    Agora, estou na sua cola.

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  3. Cara muito bom teu relato! Parabéns pela prova IronMan!
    Grande abraço

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  4. Rafael, parabéns!!! Com certeza não é para qualquer um! Beijos de Brasilia! Catarina, Nicole e Ziller

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  5. Rafael ... só li hoje, mas muito bacana seu relato... e a conquista então ... merecida..

    []s
    Walter

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  6. Emocionante, é dificil le-lo sem sentir as lagrimas..he he ..Pensei em vc, mas pensei muito no dia que chegar minha vez, enquanto isto, muito treino até I.M 2012

    parabens

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