Em 16 de agosto resolvemos perambular por Urubici em busca da famosa cachoeira oculta. Saímos de Floripa após uma preparação relâmpago e às 5 da manhã estávamos na estrada rumo à serra. Uma chuvinha fina em rancho queimado e logo chegamos na cidade, antes das lojas de ferragens abrirem. Não precisávamos de ferradura, mas sim de benzina ou tinner para o fogareiro MSR, senão teríamos que comer polenta crua com pão. Conseguimos uma lata de solvente de tinta e então tocamos para a casa dos sogros do Adriano, onde pegamos também o Duílio para nos levar até a base da caminhada, vinte e poucos kilômetros estrada acima rumo à serra do corvo branco.
Numa bifurcação evitamos a serra e seguimos para o vale do canoas, até onde a caminhonete ia. Um rio mais largo impediu a passagem e o Duílio voltou mais cedo com o carro do Anastácio, e nós iniciamos a pernada cinco km em linha reta mais cedo também. O visual do rio alí é magnífico, uns paredões de pedra e o rio largo e raso com montes de pedras e mata nativa por todo lado.
Mesmo com a vontade que dava de acampar por alí mesmo, começamos a andar na estradinha que margeava o rio. Por uns kms era plano e tranquilo, aí chegou nuns caracóis e ganhamos altura rápido, até chegar na bifurcação para o espraiado à direita. Nós fomos pela esquerda em direção ao alto dos campos dos padres. O William fez um trabalho de mestre no google earth e dessa vez levamos o GPS certo. Fomos botando pontos à medida que andávamos e tudo ia muito bem, com uma garoa aqui, uma parada para descanso ali e uns peões a nos oferecer conhaque, pois iria esfriar.
Entramos nuns trechos mais fechados e menos parecidos restos arqueológicos de estrada, não sei como o William conseguiu ver aquilo no google. E os pontos iam batendo perfeitamente. A chuva engrossou e o ponto 12 marcava uma 'casa'. Seguimos ansiosos por um teto para esperar a água acabar e fazer um lanche, já era meio-dia. A casa estava 80 % desabada mas tinha um pedaço do tipo balança-mas-não-cai que serviu. Atacamos uns sandubas feitos na hora e logo o sol voltou, para decepção do Anastácio que precisava recuperar a musculatura afetada pelo caratê.
Chegamos no ponto de acampamento, uma casa rústica muito legal num ponto privilegiado, agora com sol e céu azul, um ventinho moderado e expectativa de frio. Mas o rio canoas estava laaaá embaixo, aí deixamos as mochilas e fomos rapidinho tentar achar a cachoeira. Demoramos a chegar no rio e vimos que tinha uma pequena queda, uns 10, 15 metros e aí o rio ia para o abismo. Só que não tínhamos visão da queda principal. Tentamos chegar, descemos no meio do mato quase até a borda e nada. O Anastácio e o William voltaram e eu e o Adriano, o fissurado, ficamos tentando achar um local para ver a cachoeira, até vislumbrarmos um pasto no outro lado do cânion. Pensamos em cruzar o rio antes da primeira queda, varar o mato acima e chegar lá. Mas amanhã, agora era voltar rápido antes de escurecer e montar o acampamento.
Durante a noite um pé-de-vento se abateu sobre nós, as barracas sacudiram mas aguentaram e no dia seguinte céu claro em 360 graus. Fomos tarde de volta ao rio, após farto desjejum. Chegamos no rio, tentamos atravessar e nada. Aí fomos investigar uns traços de trilha e decidimos correr um pouco pra ver se achávamos a cachoeira. O Anastácio e o William voltaram e fui com o Adriano. Na hora da decisão, ir e chegar mais tarde na cidade ou não ir e ficar com aquilo encasquetado na cabeça, o Adriano me fez decidir: "Já estamos aqui. Imagina o trabalho e quando poderemos voltar, vamos insistir mais um pouco". Meio indiferente que estava me decidi com aquilo. Afinal tentar e não achar era aceitável, mas não tentar seria eternamente irritante. Assim lá fui com o fissurado pela cachoeira correndo campos acima e abaixo.
Depois de uns 15 minutos esbaforidos chegamos no pasto que vimos no dia anterior, tendo cruzado o rio mais acima num ponto tranquilo. Lá estava a dita-cuja. O Adriano fez um berreiro que deve ter chamado a atenção lá de Anitápolis ou Grão-Pará. Mas era bonita mesmo a cachoeira, com uma queda livre gigante e um belo lago embaixo, para depois seguir no cânion até as bandas de Urubici. Muito show, objetivo alcançado, agora era voltar rápido até o acampamento e pernar muito até embaixo de novo.
Chegamos no ponto de encontro às 14:55 e fui direto para o rio, mas a gélida água me fez só lavar as partes mais lamacentas e o rosto. Logo chegaram o Anastácio e William e então o Duílio para o resgate. O Anastácio foi direto tomar banho e o William ficou no córrego que cruzava a estrada, lavando e bebendo água. Aí o Duílio falou: "Tão tomando água nessa coisa podre aí ?! Tem vaca morta por aqui". E deu dois passos e apontou: "Tá aqui, uma vaca morta", cinco metros acima de onde o William bebia sedentamente.
O Duílio nos trouxe também um presente: seis cervejas geladas e um guaraná para o Adriano. Secamos todas, empacotamos as tralhas na caçamba e voltamos para a casa da Sibeli. Lá o sogro do Adriano contou para o William que uma cachaça boa que tinha era remédio perfeito para vermes adquiridos de vaca morta. Aí o desesperado foi lá dentro e entornou um copo de pinga. Voltou com o esofago pegando fogo e aprumamos para Florianópolis, às 16:45 da tarde.
E eu não fui mais uma vez!!!!! aaaaaah!
ResponderExcluirMas me aventurei na leitura, com direito a risadas, é lógico..
Pinga pra curar vermes de vaca morta no rio! Essa é novissima!
Muito dez! Parabéns a todos!
Có.
Excelente relato Rafael.
ResponderExcluirAquela região realmente é muito bonita... vou pra lá no fim de semana...
Abraço,
Billo