sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Sobre a complexidade de pedalar



Eu não me lembro de ter aprendido a andar de bicicleta, mas lembro da primeira que ganhei. Na verdade, ganhamos, eu e meu irmão, uma bike BMX novinha em folha em algum natal ido. Acho que já havia em casa outra bike ou logo houve, uma monark monareta. Mas a BMX foi a 'primeira bicicleta'.

Fazíamos de tudo naquelas bikes, algumas coisas totalmente inconsequentes. Uma das manias era amarrar uma corda de tamanho desconhecido na bike e sair a toda. Quando a corda travava voávamos por cima do guidão. Uma vez organizamos uma olimpíada na vizinhança e incluímos a bike nos esportes. Também tivemos sorte de crescer numa casa de quintal grande em coqueiros. Chegamos a fazer uma pista de bicicross pegando uma parte no quintal do vizinho.

Ou então arrumávamos uma descida bem forte e um doido ia pilotando e outro maluco ia na garupa. O objetivo era fazer as curvas bem fechadas ou então saltar alguma coisa pra ver se o infeliz na garupa conseguia se segurar. Uma vez eu caí mas fiquei agarrado na garupa, sendo arrastado com as pernas na lajota. Escoriações daquelas de encher de grãos de areia na lateral da perna eram comuns, até hoje tem marcas.

Os percursos eram muito curtos vistos de agora, mas longos para uns pirralhos sem noção. Numa ocasião andamos até outro bairro na casa de um amigo, foi impressionante. E depois a coisa foi evoluindo. Passávamos a ponte colombo sales, antes de existir a segunda ponte que na verdade é a terceira. Ah, claro, pedalava muito sobre a ponte hercílio luz também, pena que não existia facebook e celular com câmera, senão teria uns registros.

Depois disso minha memória não é tão boa quanto a do Adriano, mas quando ganhei uma caloi 10 usada foi o ápice. Chegamos a pedalar até naufragados, distante 45 km do centro de Florianópolis. Mas aí já era 'grande', talvez uns 14 anos. Fomos até a praia, carreguei a caloi 10 por 3 km de trilhas até a areia. E aí voltamos, alguém que não lembro mais numa caloi cross quase sem joelhos empurrando a bike ao lado dos que ainda fazia movimentos de pedalar. Foi praticamente o dia todo, mas isso pode ter dado uns 90 km. Não faço ideia do que levávamos para comer ou beber. Mas sei que várias torneiras das casas pelo caminho eram atacadas.

E era tudo simples. Bastava pegar a bike e ir. Na época da caloi 10 já tinha um capacete de isopor que usava de vez em quando, mas ia de tênis ou sandália e shorts e camiseta. Bem depois apareceu um porta-garrafa preso ao quadro. Não me lembro de ter trocado pneu na infância ou adolescência. Não furavam ou alguém trocava pra mim ?

Então fiquei matutando sobre isto no pedal de domingo. Fiquei impressionando com a quantidade de coisas que tive que descer pra ir pedalar. Minha bike fica na garagem e parte do equipo fica lá, o resto fica em casa e faltou mão pra levar tudo.

Bermuda com amortecimento nas partes, camisa de ciclismo. Aí passa protetor solar. Labial. Taca vaselina nas virilhas. Também coloca o RoadID no tornozelo. Depois basta pegar as duas garrafas de líquido na geladeira, uma meia, óculos de sol e o celular, claro, sem esquecer de sachês de gel, banana passa e banana fruta. Mais uns trocados.

E as ferramentas, uma bolsa com duas câmeras, chaves, sacador de corrente e espátulas. E dessa vez também levei uma máquina fotográfica (não, a do celular não serve mais). Fora claro o capacete e a sapatilha e para fechar o GPS e seus sensores: monitor cardíaco, sensor de cadência e velocidade, além da constelação de satélites. Maior traquitanda eletrônica. Isso porque não tem medidor de potência. Ainda.

Coisarada. O Arthur acha que para pedalar é só levar a bike no parque de coqueiros. A inocência das crianças é linda ;-)). Na verdade nem tanto, até ele já sabe que tem que pegar capacete, água e óculos se tiver sol. Se essa mudança toda é boa ou ruim ? É só uma mudança, que dá um pouco de saudade mas também mostra a evolução que sofremos ao longo do tempo. Porque pedalar atualmente não é só mais uma atividade qualquer ;-), mesmo que frequentemente eu saia só de tênis para dar uma volta, ir pro trabalho ou pra natação, sem nem um relógio, apenas por pedalar.

7 comentários:

  1. Muito bom o texto Pina... parabéns.

    Quanto ao pedal, para mim é, e sempre foi, a modalidade mais "complexa" para treinar. No meu caso aqui de Curitiba a maior parte dos treinos faço numa estrada que de carro fica uns 35 minutos da minha casa. Vou em geral nos sábados e é aquela história, junta todas as tralhas, coloca no carro, coloca a bike no suporte de teto e vai para lá. Pedala por umas 2 horas, recoloca a bike e volta. Nisso tudo já foi quase umas 4hs na brincadeira.

    Mas, é aquela coisa que uns amigos aqui brincam... se fosse fácil não se chamava triathlon e sim futebol.
    :-P
    Abraço!

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  2. Isso aí ! O negócio é usar bem o tempo, e pra isso o rolo tem ajudado na semana. mas finde é na rua, e eu prefiro sempre q possível sair pedalando de casa, mesmo que seja pra girar 10 km até começar a pedalar :-)

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  3. seu texto... é incrível!
    viajei legal em suas palavras, em suas pedaladas, em sua infância!

    legal demais a sua história!

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  4. Valeu Elis ! Então é recíproco, ótimos os teus textos e sempre muito bem escritos (e ilustrados ;-).

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  5. Antes da BMX, tinha uma Caloi azul que dobrava no meio e que rachamos de tanto saltar com ela.

    A BMX o Pai trouxe da loja dentro do carro, lembro de ter visto ela na frente do Bar do Valter.

    Acho que o pedal mais antologico foi para Ratones em 1988 que teve o bombardeio de maçã no morro do Jornal O Estado.

    Belo Texto....

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  6. Cara eu tinha que ter mandado esse texto pra tu revisar antes !! Hahahahah. 1988 ? como é que tu sabe isso ? Aquilo foi hilário. Sem brincadeira, quase sempre que pedalo por lá lembro disso, esqueci na hora de escrever ;-).

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  7. Posso estar enganado mais a BMX é do Natal de 1983 ou 1984.

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