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domingo, 9 de outubro de 2016

Mundial de Ironman 70.3 na Austrália






Correr um mundial de qualquer coisa era algo que eu realmente nunca tinha pensado até uns anos atrás. Só depois de uns bons 4 ou 5 anos de triathlon comecei a pensar em que quem sabe talvez um dia classificar pra kona ou pro mundial de meio.

A classificação no Rio veio quase um ano antes da prova, o que deu bastante tempo pra planejar e organizar as coisas - obviamente todos os detalhes foram acertados no mês da viagem. Que aconteceu com a minha filha, pois a Daiane não poderia viajar em época escolar e o pequeno homem passaria muito trabalho numa viagem dessas.

Foi uma experiência única, a começar pelo lugar. A costa leste da Austrália é sensacionalmente bonita e de clima parecido com o Brasil. Sunshine Coast, onde foi a prova, mais especificamente na praia de Mooloolaba, é berço do Triathlon australiano com a praia de Noosa sediando provas de desde a década de 90 com 4500 atletas. Talvez no Brasil não dê isso tudo em todas as provas Ironman somadas, e lá há 30 anos já haviam provas (eventos talvez) desse tamanho lá nos confins da terra.

O país respira esporte e aparentemente todos fazem parto na água, pois é incrível a quantidade de gente nadando no mar e nas piscinas públicas espalhadas por todo lugar (dizem que também não sentem frio). O contingente nativo na prova era de quase 900 atletas, dentre os 3000.

Chegamos em Brisbane depois de 30 horas de viagem às 23:30. Com todas as tralhas que uma prova dessa implica fomos buscar o carro alugado. Lá descobri que eu tinha feito a reserva pra julho (era então 30 de agosto) e tivemos que negociar um carro pequeno com câmbio manual (que traria grandes emoções). Saímos do aeroporto sem comprar o chip 3G e logo estávamos perdidos à meia noite dirigindo na mão inglesa sem saber passar marcha ou dar seta.

Entrei num hotel e pedi wifi. O solícito velhinho que atendia (uns 80 anos) deu todas as dicas e a senha do sinal. Saímos de lá direto pro hotel, onde subi 4 andares de escada com a mala-bike e logo desmaiei de sono.

No dia seguinte a Laís programou passeios o dia inteiro. Inteiro aqui é da hora que amanhece até bem depois de anoitecer hahahaha. Foi um dia típico de turistar, Brisbane mostrou-se uma cidade muito bonita e surpreendente. Encaixei um treino de 40 minutos de corrida na margem do rio, o que acrescido de toda a caminhada, totalizou cerca de 32000 passos no dia. Uma coisa muito boa de se fazer na quinta anterior a uma prova kkkkk. Falando nisso a pequena fez uma programação sensacional, além de arquiteta pode ser também agente de viagem. Só me preocupei em ir :-). Tudo estava planejado em todos os lugares.

South Bank, Brisbane. Excelente pra correr, ver, fotografar

Sexta feira saímos às 7 para Mooloolaba, 90 km ao norte. Lá achamos a rua da casa onde alugamos quarto no airbnb. Só que não achamos a casa. Batemos numas portas e nada, e aí ligamos pra dona pra descobrir que a chave estava na caixa de correio.

Fui direto pra Expo buscar o kit, comprar CO2 e óculos de natação, uma breve circulada, tropeça num pro aqui e ali e fui nadar. Um mar muito gostoso, água clara e quente, muitas ondas e gente surfando. Baita diversão. Pacífico de águas quentes eu não conhecia. Voltei pra montar a bike, saí pra dar uma volta de tarde e posso afirmar que foram poucas as vezes que fiquei tão perdido na vida. Andei seguindo os caminhos, que eram cheio de quebradas, saí na rodovia, fui pra cidade errada e quando era hora de voltar peguei o iphone pra me localizar. Muito bom sair sem rumo. Pedalzinho testou tudo e aí então fomos novamente para a praia dar uma volta.

Caroline Stephens pediu uma foto, não pude negar

Pedal sem rumo pra testar a bike

Estava bem na hora da parada das nações, um 'desfile' dos atletas de cada país. Eu imaginava algo tímido, tanto que nem me programei pra ir. Só que estava um espetáculo. Todos os países chamados um a um no microfone, banda tocando, centenas, senão milhares de atletas na praia, cada um na sua delegação com a bandeira à frente. Foi um dos negócios mais legais que já vi numa prova. Muito muito bacana.  A impressão talvez tenha sido amplificada pelas olimpíadas recém encerradas, é claro. Mas foi sensacional.

Parada das Nações. Sensacional.


A noite, equipei a bike antes de jantar e dormir. O bom de pegar um jetlag de 13 horas é que isso é tão torto que praticamente não dá tempo de ficar errado. Sei lá, só sei que não senti muito, a única coisa estranha era acordar sem despertador antes das 6.

Sábado dei uma corridinha de ativação de 3 km e depois fui deixar a bike, logo às 10 horas. Deixei a bike coberta com a capa e fui embora, depois de mais uma circulada na expo. Aí então fomos passear numa praia uns 30 km ao sul, Coloundra. Muito legal, como todas da região, cada praia na verdade parece uma cidade autônoma. Ficamos lá metade da tarde e aí voltamos pra ver o farol que tem ao sul de Mooloolaba, um mirante espetacular das praias ao norte e sul. Dava pra ver toda a região da prova e pra onde se estenderia o pedal, até 20 km ao norte. Um sol de fim de tarde espetacular e vento menos furioso que no dia anterior deram a certeza de bom tempo no dia seguinte.

Transição bonita
Jantamos numa pequena cantina italiana numa área comercial próxima à casa que estávamos, assim evitamos a muvuca da praia a noite, que era grande. A Dona ficou tão impressionada de ver brasileiros lá que tirou uma foto nossa pra por no perfil do restaurante no facebook :-).

Amanhecer do dia da prova
Largadas

Domingo dia da prova finalmente. Saí bem cedo, pra pegar o nascer do sol fantástico que teve naquele dia. Vento calmo e mar que mais parecia uma piscina. Essa prova tem uma transição interessante: a natação acontece no sul, e a T1 é bem longa, as bikes são dispostas ao longo de uns 800 metros e depois ainda tem a transição da corrida, que é um pouco mais afastada. Na prática tem 1200, 1400 m de transição no total. Assim, entrei por um lado pra mexer nas coisas e saí do outro lá longe. Voltei e achei a Laís no deck do banheiro com vista para o oceano (foto abaixo). De lá era perfeito pra ver a largada. Ali me vesti, alonguei e fui nadar um tantinho. Piscina confirmada. Voltei pra espera minha largada, os PROS saíram da água e fui pro curral.

Área da largada

Largada muito interessante, saímos da praia, nadamos 150 perpendicular à praia e então alinhamos numas boias pra largar efetivamente. Começar na água gera toda uma violência diferente de largar da areia: 450 seres flutuando na vertical ocupam bem menos espaço do que na horizontal, então na hora do tiro é uma profusão de socos e ponta-pés bem divertida.

Natação tranquila, firme e boa. Saiu bem reta, e diferente das outras largadas em ondas, não vi passar nem fui passado por nenhuma touca de cor diferente, o que denotaria o nível elevado e muito próximo dos atletas. Faz sentido, é um mundial, meu filho.

Saí da água bem, das melhores natações da vida. Nada excepcional, mas do jeito que tinha que ser, 1:30/100m cravados. Parti pra transição longa, saí pra pedalar já de cara nuns morrinhos pra sair da cidade e logo entramos na rodovia que seguiria por 15 km rumo norte. Vento sul muito leve e ritmo assustador, mas com muito trânsito. Vi muita gente das largadas anteriores, e pedalar na esquerda pra passar pela direita era estranho.

Saindo pra T1, 800 m de trote
A coisa foi toda empelotada até o retorno - tanto pelos atletas mais lentos quanto pelos safados pegando vácuo descarado. Era difícil ultrapassar tripas de 3, 5 atletas de uma vez só. No retorno a coisa começou a espalhar, um pouco de vento contra mas a empolgação do início mantiveram o ritmo bom. Ver virar parciais de 10 km seguidamente acima de 40km/h não é lá muito comum, mas a potência estava boa, o asfalto era ridiculamente liso e o fato de não ter pedalado na semana pareciam atenuantes que permitiam arriscar.

Cheguei no trecho ondulado, estrada fechada como a rodovia e um visual de interior. Logo dei de cara com a bifurcação dos dois loops que haviam no trecho de serra. À direita era a primeira volta, e era uma parede. Bem íngreme e curta, tive que fazer zigue zague na marcha mais leve e ainda assim deu trabalho. Esse trecho foi fantástico, muita gente nas laterais da estrada, mensagens escritas no asfalto. Me senti no tour de france hahahah.

No pedal


Descidas técnicas e pessoal suicida, fui ultrapassado demais nessa parte. Não sei pra que um sujeito senta no quadro numa bike TT numa descida que nunca viu na vida, entra na curva alucinado e quase sai na tangente. Na verdade uns saíram e foram parar no mato.

Depois outra volta, sem a parede e então o trecho final até a cidade, agora com uma ventania de sul absurda (isso sempre é amplificado pelo estado lastimável das pernas ao final da bike).

Entrei na cidade feliz e empolgado com o percurso, larguei a bike e me fui a correr. Corri tão bem no começo que resolvi me suicidar. Saiu uma das melhores bikes da vida, a natação foi boa, era um mundial, então como não arriscar ? Além disso eu tinha treinado tão pouca corrida nos últimos dois meses que já quebraria mesmo, então que seja com estilo. Falando em corrida, no começo de julho tive uma coisa horrível na lombar. Fiquei três semanas sem correr absolutamente nada e treinando moderadamente as outras modalidades. Aparentemente tenho umas hérnias querendo aparecer, mas suspeito que foi algo agudo, como advoga o Doc Daniel Carvalho. Ele, o Edu Monteiro e o Éder me salvaram, consertaram e prepararam a tempo de suportar o plano do Mestre Roberto Lemos de me por nos trilhos em 3 semanas de específico em agosto.

Voltando à corrida, era simples: duas voltas de 10.5 km, indo pro norte através de um morrinho de um km e depois tudo plano. Foi uma delícia. Corri forte no início movido pela empolgação e orgulho. Pernas muito leves, o que já me deixou feliz pelo pedal duro que foi. Outra coisa que me fez sair forte e tentar manter foi a dinâmica da prova: muita gente das categorias superiores, que largaram depois, me passando facilmente na corrida. Fiquei realmente impressionado. Ô povo pra correr !

Fechando a primeira volta


Do meio da segunda volta em diante implodi. O vento era contra e a inclinação me matou. Comecei a correr muito mal, com um cansaço enorme apesar das pernas boas. Acabei ingerindo apenas um gel no km 12, mas comi bem na bike. Não sei, só sei que me acabei tentando manter o ritmo, que não mantive, mas cheguei dignamente e com uma alegria enorme de completar aquela prova. Que clima, que vibe, certamente uma experiência única. Encontrar a Laís na boca da chegada com a bandeira do Brasil, chegar explodindo e tentando fazer o máximo que dava, afinal era um mundial. Não tem preço.

Chegando !
Yeah !
Único

Melhor filha do mundo !
O mito, mark allen. O outro mito sou eu kkkkkk

Segunda feira depois da prova começamos a segunda de três partes da viagem. Antes porém fomos pra Noosa, e pro parque nacional de mesmo nome apreciar a vista numa trilha de 7 km que nos levou ao hell's gate, um local espetacular para avistar baleias que não vimos e que dava uma visão impressionante da costa australiana.

Depois foi só seguir pra Cairns, mergulhar durante dois dias e uma noite na barreira de corais, aí ficar mais uma semana perambulando por Sidney, Melbourne e então começar a volta. Viagem sensacionalmente legal.

O retorno teve emoções de vôo atrasado por problemas mecânicos (não bom escutar isso antes de embarcar num avião que vai cruzar o pacífico), pernoite extra em SP e malas extraviadas, incluindo o case da bike, o que causou sérios pânicos no vivente que escreve. Depois de dois dias, tudo certo.

Muito obrigado a todos pela torcida, apoio e energias positivas emanadas até o outro lado do mundo. Até a próxima !

Dados Técnicos

Link do garmin aqui. Bati o botão de lap no guidão e tive que começar outro pedal hahaha. Mas dá pra entender.

Corri com o go run ride 4, com o capacete aero e com a roupa toda abaixo do neoprene. Tudo certo. Alimentação foram duas medidas de GU Endurance na bike com 4 gels, 2 mariolas e uns goles de gatorade. Na corrida 1 gel e coca cola.

Prova atípica para os meus padrões. Natação boa, bike ganhando posições e corrida perdendo algumas. Corri bem até o km 12, depois caiu um pouco e no 17 implodiu tudo hahaha. Bike a 87 % do FTP foi muito boa. Percurso metade plano, metade técnico com ventania. Asfalto perfeito em boa parte, mas na serrinha tinham patches e rugosidade.

Resultados oficiais aqui, meu aqui. Nível estratosférico, não deu nem pro cheiro hahah.


;-D
Hell's Gate, Noosa National Park

Noosa ;-)



Ao sul de Mooloolaba

 
Legs up !

A Grande Barreira de Corais !  


terça-feira, 6 de outubro de 2015

IM 70.3 Rio de Janeiro


Nem sonhando eu sonharia com esse resultado no IM 70.3 do Rio. No dia da prova vendo as fotos do meu irmão em Yosemite eu comentei que ele estava realizando um sonho de infância, e eu um de adulto. O que é fantástico, pois o que melhor do que construir e trabalhar por um sonho transformado em objetivo e então em meta ?

Quando ouvi falar deste 70.3 decidi fazer na hora. Sempre quis competir no rio e nunca tinha feito isso, nem maratona, meia, nada. Depois do primeiro semestre de Ironman, Desafrio e férias, o foco dos treinos foi essa prova desde agosto, com apenas dois duathlons no meio. Foi um objetivo colocado, e quando vi que haviam 4 vagas achei realmente muito difícil conseguir a classificação, não dei muita bola e toquei o bonde. Mas no finalzinho dos treinos, vendo a evolução e a forma como estava me sentindo, a confiança foi aumentando até aumentar para o que deveria na véspera da prova.
 
Pré-prova

Viajei de Floripa para o Rio na sexta-feira. Fui com o Marcelo Quint e ficamos num hotel bem próximo a expo e área da prova, de frente para a praia da macumba onde aconteceria a natação.

Na feira consegui emprestado um adaptador para CO2, peguei o kit e depois montei a bicicleta. Ainda no fim de tarde de sexta fiz uma natação leve mais pra mexer os braços e conhecer o mar, sem roupa de borracha. O mar pareceu 'grande' e a praia era do tipo inclinada com areia fofa.

Praia do pontal. Uma largada era possível em ambos os lados, baita logística.
Detalhes pro MDOT na pedra, que por sinal deve ter sido um ótimo local pra ver a natação.
Sábado cedo o Manente apareceu para fazermos um treino de aquecimento, saímos de bike junto com o Haile pra rodar uns kms na orla e testar os paralelepípedos recém asfaltados. Depois uma corridinha levíssima e então fui mergulhar no mar. Nadar, já tinha nadado no dia anterior.

Almoçamos com o Jorginho num shopping e depois fui pro check-in da bike, onde encontrei o Arthur e trocamos umas ideias, o irmão dele faria a prova.


Transição
Como combinado o Marcos Pavarini apareceu na expo, fazia dois anos que não o via. Fomos de carro reconhecer o percurso no fim de tarde. Primeiro a corrida, que se mostrou bem azeda. Um percurso de 5 km de ida, metade em subidas e descidas, vai e volta duas vezes. Nada muito alto mas com inclinação significativa. Depois fomos à serra da grota funda, que não pareceu muito terrível mas serviu para conhecermos o asfalto e planejar melhor a prova.

Realmente me impressionei com o percurso da corrida. Imaginei que não daria pra correr tão rápido e depois de uma troca de mensagens com o Roberto, decidi a realmente gastar o que pudesse na bike e ver o que aconteceria na corrida. Mas na verdade mesmo só decidi isso nos instantes antes da largada, sentado na areia sozinho esperando a minha onda de largada. Devo ter algum medo ancestral de ter que andar numa prova e acho que sempre resolvo segurar na bike.


Pré-Largada e Natação

Acordei na hora certa, café da manhã dominado por atletas no hotel e logo saímos sob tempo nublado e sem vento. A previsão dizia que haveriam ondas de 2 m mas o mar era uma piscina, embora a chuva parecesse questão de tempo.

Combinei de encontrar o Alexandre, que estaria trabalhando de fiscal no ciclismo, mas não consegui. Arrumei tão rápido as coisas na transição que fiquei em dúvidas e voltei pra conferir, quando então vi uma cena triste. Um atleta parece que teve uma crise de pânico na tenda, tendo acontecido uma leve confusão até o médico chegar. Não sei se ele largou, imagino que não, uma pena.

Tudo conferido, fui pro tradicional banheiro e então pra praia. Assisti a largada da elite e fui para a praia ao lado aquecer. Aqueci, boiei e pensei. Então fui pra areia e fiquei lá sentado até achar o Quint que já estava indo largar.

A largada em ondas foi legal e eficiente. Tão eficiente que reforçou as habilidades dos atletas. Praticamente não vi esteira, nada de bolo de gente, grupos nadando juntos. Todo mundo espalhado, exceto depois da terceira boia já no retorno, onde começamos a passar o pessoal das largadas anteriores. Às 7:15, larguei 30 minutos depois da elite e no penúltimo grupo.

Nadei aparentemente reto e sem nenhum enrosco com outros atletas. Pela falta de gente do lado acho que poderia ter nadado mais forte na primeira perna, a segunda fiz mais firme. Saí da água com 30 min e 1980m, distância praticamente exata. A transição é longa e cansativa, areia inclinada e fofa, de forma que corri devagar até lá. Foi só pegar o capacete e óculos, enfiar a roupa de borracha e óculos aquáticos na sacola e sair pra bike.

Encontrei o pit-stop que o Alexandre conseguiu deixar encaixado no aerodrink e fui mais tranquilo pro pedal. O assunto do momento era a condição do asfalto e a possibilidade de furar pneu. Já estava com duas câmeras mas o pit-stop realmente não tinha. Foi mentalmente reconfortante tê-lo. Embora tenha sido um conforto apenas mental mesmo, pois tendo colocado no bolso do top, em algum lugar ele resolveu ir embora, provavelmente na vibração da descida da serra.

Ciclismo

Comecei o pedal muito forte, acima do que deveria, mas por pouco tempo até a coisa assentar. Daí então segui pedalando apenas forte o suficiente para ficar assustado. Até a entrada da serra vinha fazendo mais força do que achava que aguentava, mas dentro da faixa de potência planejada.

Fizemos uma primeira volta de 20 km plano no trecho da reserva, voltamos passando pela largada e seguimos para a serra rumo a Grumari. Com um trecho de asfalto perfeito e levemente ondulado, chegamos na subida e então chuva apareceu. Bem na hora da serra :-).

Ali pensei umas duas vezes nos treinos que fizemos em julho aqui. Num deles, fui só eu e o Fabrício pra Anitápolis e pegamos uma chuvinha chata. No outro, com a galera em peso em São Bonifácio, foi mais chuva. Fora estes, foram inúmeros treinos de pedal na varginha e urubici, todos em terreno inclinado. Deu uma certa tranquilidade saber que não iria sofrer na subida.

Subi controlando tranquilamente o ritmo, fui ultrapassado pela primeira vez na descida pro outro lado. Tudo molhado e o piso ou era ruim ou recém asfaltado com aquela aparência de coisa lisa. Desci bem devagar, fiz o retorno e subi de volta.

Aí então começavam as duas voltas curtas na reserva. E o vento também apareceu, embora fraco. Contra na ida e a favor na volta, não chegou a atrapalhar.

A segunda volta eu poupei um pouco e comi dois gels, pois só tinha tomado malto e um gel logo após a natação. Tomei os dois em sequência mesmo, devo ter esquecido devido a atenção na serra, só pode.

Apenas na terceira volta consegui ver alguns atletas da 40-44 (pelo número). Ali um deles me passou e eu logo ultrapassei de volta e não vi mais. Até então eu não lembrava de ter sido ultrapassado por ninguém e estava achando aquilo estranho.

Perto da transição eu achei que a bike estava acabando e descalcei a sapatilha, mas o percurso seguiu em frente. Seguiu, passou na frente do hotel e foi rumo a serra novamente. Cheguei a ficar em dúvida, mas olhei a distância em 86 km e vi lá bem longe uns dois ou três atletas. Quando vi o retorno, calcei a sapatilha de novo e soquei a bota pra fechar o ciclismo logo.

Saí da bike com as pernas duras, bem pesadas. Estranhei aquilo, não vi isso em nenhum treino. Mas também não fiz nenhum treino naquela intensidade...

Na transição encontrei o Beto Nitrini que vi ser da categoria. Imaginei que estávamos bem e saí da transição o mais rápido que pude, arrumando as coisas nos bolsos e esquecendo de fazer xixi.

Corrida

A corrida seria na percepção como combinado com o Roberto. Evitei olhar o relógio até o primeiro km virar. Ali vi que a coisa ia ser sofrida, pois vinha num ritmo bem mais lento do que os treinos de transição. Os primeiros 2,5 km eram planos e logo cheguei na subida. Como estava continuei, mantendo o esforço alto mas suportável. Era muito evidente que eu ia quebrar, a sensação estava de coisa difícil, mas a estratégia pareceu certa quando vi o Virgílio, atleta muito forte da categoria, retornando. Não estava tãaao longe e no olhômetro eu estava dentro dos primeiros 50 mais ou menos. Todo mundo ia sofrer naquele percurso.

O visual era espetacularmente bonito. A estrada percorria uma encosta de morro e o mar lá embaixo salpicado de ilhas era fantástico. Espero que o Marcelo libere logo as fotos do focoradical ;-).

Voltei com um ritmo ainda decente, fiz a volta, encontrei o Marcos novamente e comecei a tomar pepsi. Ao chegar na subida novamente vi o estrago, me arrastei morro acima e comecei a ter dificuldade em correr nas descidas.

Final da corrida, foto do Arthur !
O retorno era numa subida, e no segundo eu tentava ver se identificava algum atleta da categoria e não vi o Beto. Sabia que deveria ter bastante gente embolada perto, mas não imaginei que fosse tanto.

Voltei na parte plana realmente bem estragado. Estava apertado pra fazer xixi e muito cansado, pensei em parar e logo me vinha na cabeça a prova do Desafrio, quando perdi a terceira colocação devido a um pit-stop líquido no km 46.

A largada em ondas também serve pra outra coisa além de aliviar a natação e evitar vácuo: serve pra cada um fazer a sua prova, pois não há referência. Aquele cara te passando morro acima pode estar em outra volta, ter largado antes ou depois, não dá pra saber.

Então segui o mais forte que pude. Não olhei praticamente o garmin exceto em algumas viradas de km, mas no último km comecei a olhar constantemente pra ver se conseguia manter um ritmo decente. A corrida passa dentro da transição e depois sai novamente e então havia um cotovelo para retornar e entrar no tapete azul e pórtico.

Pouco antes desse cotovelo eu ouvi os gritos do público aumentando e achei que vinha alguém no encalço. Apertei o passo, entrei no tapete acelerando o que conseguia e passei o pórtico totalmente oco. Desabei no chão.

Saca o sprint que rolou, embora eu não soubesse dele até poucos metros da chegada :-)


Depois foi curtir a chegada, massagem, macarrão e encontrar o povo. Achei o Manente que tinha destruído tudo e chegado em quinto na elite, o Haile e mais um povo que tinha conhecido lá. O tempo que tinha melhorado no final do pedal melou de vez com vento frio e chuva.

Fui pro hotel e só lá vi os resultados. Pedi pro Manente conferir aquilo, deveria estar errado. Olhei várias vezes até acreditar :-). Segundo colocado na categoria, atrás apenas do Virgílio, 33o geral.

O terceiro lugar chegou no sprint a apenas 2 segundos, o quarto a 37, quinto não sei quando e o sexto com dois minutos atrás. Cinco atletas da categoria com dois minutos de diferença numa prova de quase cinco horas ! Incrível o valor que o tempo tem. Qualquer bobeira, um xixi e provavelmente já era o pódio.

A vaga veio, junto com um pódio. Como eu disse lá em cima, nem em sonho eu sonharia com isso, e aconteceu. Bastou acreditar, fazer o melhor possível e não parar nem pra mijar.

Pódio !!!

Pós-prova

O Quint chegou tendo feito uma prova excelente. Sempre é bom ter amigos mais loucos que a gente, serve de álibi. Esse por exemplo, chegou do mundial de cross triathlon na itália apenas na véspera da viagem pro Rio :-).

Saímos para almoçar já bem tarde, eu estava praticamente desmaiando de fome. Foi um estrago gastronômico de grande porte. Depois fui pra escolha das vagas para o mundial de 70.3 em 2016, agarrei a dita-cuja e na hora de passar o cartão para pagar a inscrição, eis que o algoritmo de prevenção à fraude do banco resolveu atuar. Tive que ligar pro cartão, explicar tudo e pedir pra moça liberar o pagamento de uma vez. O Quint já estava quase indo pro hotel buscar o cartão pra me emprestar hahahah. Só mais um pouco de emoção.

:-D

Falando em vaga, Austrália é longe ? Sim. É caro ? Muito. Era hora de ir pra lá ? Bom, não sei, será só no ano que vem. Sempre esteve na lista, e nada melhor do que arrumar um bom motivo pra ir ao outro lado do mundo.

Depois de tudo fomos jantar pizza e finalmente tomei um chopp ! Daí foi só desmontar a bicicleta e empacotar tudo. Meia noite sosseguei, finalmente.

Não tenho como agradecer a cada um pelo apoio e torcida nessa prova. Muito, muito obrigado a todos. Como sempre a família é quem mais apoia essa mania de brincar de atleta. Daiane, de novo, novamente outra vez, muito obrigado meu amor !

Dados técnicos

O alvo do pedal era ficar entre 85-92% do FTP, a média saiu perto, 84% da normalizada. Não olhei médias durante a prova, só depois. Apenas evitei de subir de 100% e recobrava os esforços quando caia abaixo de 80. Na percepção, foi forte e suportável.

A corrida foi do jeito que deu. Pela primeira vez não me poupei no pedal e acho que o resultado foi bom. Vim regressivo é óbvio, mas deu resultado. Nada de dores, zero. Apenas um grande cansaço e calor exagerado na cabeça na segunda metade da prova, quando saiu um mormaço. Joguei bastante água e resolveu.

A natação foi boa, poderia ter sido melhor mas ainda assim foi boa e causou zero desgaste. Nada como nadar com palmar todo santo treino :-)

O percurso foi a melhor parte da prova. Desafiador na medida certa. Na verdade até bem rápido na bike, apenas com uma serra boa. A corrida foi excelente, não vi nada parecido em nenhuma prova de triathlon, falaram que pucón é mais fácil. O mar estava espetacular, transparente e quente, calmo. O clima foi perfeito, um sol de lascar mudaria completamente a dinâmica da prova.

Aqui a natação, bike e corrida. Resultados oficiais aqui. Alimentação foi simples: 3 medidas de maltodextrina na garrafa, 4 gels na bike e 1 na corrida, com pepsi. Tênis foi o skechers go run ride 4, excelente.

Essa prova foi diferente da maioria pois ao que parece a bike foi a melhor modalidade, fiquei positivamente impressionado. Talvez esteja começando a aprender a pedalar mais ou menos.

Saí da água em 17cat/105geral. Larguei a bike em 5cat/37geral e terminei em 2cat/33geral. Aqui geral é considerando a elite. E o mais interessante, olhando a listagem parece que foi o 25o pedal do dia. Tem algo errado aí :-)))).

E o vácuo ? Bom, não teve. Simples assim. Uma conjunção de fatores: largadas em ondas, serra no percurso e fiscalização eficiente e, talvez, uma maior consciência e menos cara de pau dos atletas. Claro, sempre tem exceções, mas dessa vez parece que foi apenas isso.

Sobre o IM 70.3 no Rio

Depois de tanto terror nas redes sociais, a prova saiu perfeita. Eu mesmo critiquei duramente (por email) a organização por não se pronunciar oficialmente sobre os boatos de conflito de horário com uma corrida do circuito atenas e da condição dos paralelepípedos. Mas a verdade é que desde o primeiro email eles atestaram que a prova iria acontecer do jeito que aconteceu, e aconteceu.

Sobre as possibilidades aventadas: haveria um arrastão das bicicletas na transição. Aconteceriam inúmeros acidentes nos trechos da orla devido aos paralelos. Toda a cidade do rio iria em ônibus de excursão pra a prainha e isso impediria a corrida, o sol iria derreter as pessoas (isso foi sorte nossa :-), haveria maremoto e os cariocas mal educados acabariam com a prova. E o mais aterrorizante de tudo: hordas de vaqueiros tomariam conta do ciclismo formando um único, grande e coeso pelotão.

Parece que a organização fez o dever de casa e realizou um grande evento, numa das provas de logística mais bacana que já vi (transição na rua, uma praia fechada, asfaltamento privado, percurso complexo). Estão de parabéns, assim como todos os atletas que encararam um 70.3 difícil e espetacular.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Mundial de Ironman 70.3



Na próxima semana acontecerá o mundial de Ironman 70.3, dessa vez na Áustria, um lugar aparentemente sensacional. Faz algum tempo que esse mundial passou a ser itinerante, um ano em cada país (e continente ao que parece). Algo muito interessante, pois dada a logística e dificuldade de classificação, nada melhor do que conhecer um lugar diferente caso se consiga a vaga. Um incentivo a mais para quem gosta de viajar ;-).

Será apenas a quarta cidade a sediar um mundial de 70.3, sendo a primeira fora da América do Norte e o percurso não deixará por menos. Ano que vem consta que será na Austrália, bem longe e tão interessante quanto.

Vamos ver se o Gomes vai segurar o título dos europeus que estarão praticamente em casa, notadamente Kienle e o Raelert. O Fernando Palhares e o André "Puma" estarão lá representando a galera de Floripa e Blumenau, estarei de olho nos números dos caras no Ironmobile.

Site oficial e curiosidades da prova podem ser vistos aqui e aqui.




terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Challenge Florianópolis 2014 - edição inaugural

 

Um fim de semana cheio e sensacional, esse é o resumo do Challenge Florianópolis 2014 na sua primeira edição. Dessa vez o relato vai ser um pouco fora de ordem cronológica, vamos ver como fica.

Sabe aqueles pesadelos que a gente tem de acordar e a largada de uma prova já ter sido dada ? Pois é, eu sempre tenho, e na verdade sempre acontece de eu chegar na transição para arrumar a bike a e buzina da natação já estar apitando. Só que dessa vez foi de verdade :-). Não, quase.

Acordei 4:52 e estava em casa, em coqueiros, a 29 km da área de transição. Em 10 minutos estava dirigindo com duas bananas e uma garrafinha de chá no banco do passageiro. Nada do pão com geléia, café com leite ou castanhas duas horas antes da prova.

Consegui ajeitar tudo a tempo dos staffs aparecerem mandando ir pra praia que a transição iria fechar. Foi por pouco. Qualquer coisa que tivesse errado acabaria com a prova já antes de começar. Bastaria um congestionamento pela colocação dos cones na pista, uma blitz policial, etc.

O dia anterior foi longo e cansativo. No sábado acordamos às 5:45 para estar cedo em jurerê para a largada do Challenge Women que a Daiane faria. Fui dormir tarde na sexta depois de ficar das 14 às 22 em jurerê para o excelente congresso de ciências aplicadas ao triathlon (outro evento paralelo muito bom) e jantar de massas, de onde vim de carona com o Edu. Aí sábado foi aquela festa, a prova da Daiane e depois a do Arthur, deixar a bike no checkin e zarpar pra casa.

Largada do Challenge Women

Chegada do Challenge Women

A corrida da mulherada foi de 5 km e muito disputada. Vários sprints na chegada deixavam dúvidas se aquele povo era mesmo familiares dos atletas ou atletas disfarçadas. A Débora estava lá e levou o 5º lugar geral, direto das ultra maratonas para uma prova de 5 km.

A Daiane saiu em ritmo constante e chegou no melhor tempo das sua carreira de corredora, muito legal.

Aí fomos lá para a praia ver o mar. Não estava com cara boa, mas confirmaram a natação infantil. O Challenge Kids era outro evento paralelo que eu esperava muito. O Arthur tinha pedido pra participar e depois tinha ficado com medo da natação, então eu estava curioso pra ver o que aconteceria.

Primeiro houve uma prova demonstração com a criançada da escolinha de triathlon da fetrisc, e durante esse tempo a meninada da prova kids ficou lá na praia brincando no mar. Depois alinharam para a largada de maneira exemplar, todos atrás da faixa.

E saíram feito loucos, parecia uma largada de adultos mesmo. De 7 a 12 anos, dezenas de crianças correndo feito tartarugas recém saídas dos ovos para o mar. Muito, muito legal ver aquilo. Só que logo fiquei apreensivo, o Arthur saiu nadando muito rápido e os caiaques estavam mais à frente, de modo que larguei câmera e óculos com a Daiane e fui pra água.

Foto sensacional. Olha só essa foto ! Sério, olha !
Alcancei o cardume quando eles já estavam na boia, daí fui pelo outro lado e depois de uns segundos o Arthur apareceu junto com o Jadoski e o filho. Olhinhos arregalados dentro dos óculos, perguntando pra onde tinha que ir. "Vai pra praia filho, pra praia", e lá foi, fui do lado e quando alcancei o fundo comecei a andar do lado dele até sairmos da água. Correndo rumo à T1.

Molecada preparando a T1
Lá o pequeno ficou bravo por se atrapalhar com o processo de transição e fui eu junto correndo do lado dele na bike. Descalso. Argh. Aí na volta da bike ele não quis correr por achar que já era o último, então de novo saí correndo junto com ele até que uma menina nos ultrapassou, quando então ele resolveu andar porque não adiantava mais correr e nada fazia sentindo kkkk. Assim o baixinho terminou seu primeiro triathlon, bravo e choramingando (por pouco tempo, logo já queria saber quando teria outro).

Depois da brincadeira da manhã de sábado
Mas durante esse sábado eu ainda tinha uns treininhos pra fazer, pra deixar o corpo acesso. Uma corridinha de 4 km moderada e umas braçadas pra sentir a água. Só que não levei óculos, tive que pegar um emprestado com o Alexandre e acabei correndo mais do que deveria e o pior, uma parte descalço.

Depois da provinha Kids a Daiane foi pra casa e fiquei pra deixar a bike. Fiquei no apartamento que o Alexandre alugou até almoçar e aí fomos deixar as magrelas pra pernoitar na transição.

A sorte foi que jantei bem na noite de sábado, senão aquele café da manhã de duas bananas teria causado estrago.


E agora chegamos à prova principal finalmente. Um mar muito revolto, dos mais estragados que eu já vi em jurerê, fez a organização mudar o percurso. O Roberto anunciou a mudança e logo a elite largou. Já dava pra ver a dispersão, tinha muita correnteza para a esquerda.

Largada em ondas com categorias separadas e uns 20 minutos depois largamos. Alinhei junto do Palhares e Alexandre e mais um povo bem à direita.

Pulei no mar e me diverti como nunca. Sério, gosto muito de nadar em mar revoltado. Umas ondas furadas em perfeita sincronia e segue... pra onde ? Uma boia gigantesca e raramente dava pra enxergá-la. Mas eu nadei retinho, aí fui contornar e boia e vi estrelinhas. Uma patada bem no nariz e dentes superiores. Um iluminado estava agarrado às cordas da boia, só que batendo as pernas. Pra quê ??? Grudado na boia e batendo os pés na cara dos outros, que coisa feia. Levei uns segundos pra me recompor, vi que não estava vazando nada dos orifícios nasais e segui pra outra boia. O sol estava no caminho e acabei navegando por ele. Lembrei do filme apolo 13 onde o Tom Hanks tinha que manter a nave alinhada deixando a terra ficar enquadrada na janelinha. Pensei essas e outras bobagens e vi que estava nadando muito leve, aí fui encaixando as braçadas com as ondas e saí num jacaré muito legal. Baita natação.

Transição lenta e desastrada, entalei o dedo no chip do tornozelo e tive que sentar antes que caísse pra tirar a roupa de borracha, e aí saí alucinado pela longa transição. Subi na bike e vi o Palhares, que logo sumiu de vista. Comecei a pedalar com o circuito em mente, sabendo exatamente onde aproveitar o vento e onde tentar brigar com ele. Saí forte e logo estava no morro do estado subindo rumo ao retorno. Vi o Palhares de novo e fiquei com medo de estar forçando demais. Mas estava me sentindo muito bem e resolvi observar apenas a respiração e ardência nas pernas. Soquei a bota contra o vento e não senti muito, fiquei empolgado e voltei de canasvieiras alucinado. Aquilo teria que acabar em algum momento, mas eu estava aproveitando. Nunca tinha andado kilometros planos a 50 km/h na bike. Pra ver a força do vento.

Aí na segunda volta alcancei o Pedro, o Palhares me passou e fomos próximos até que ele sumiu, aí o Heverton também passou e eu comecei a pagar o pato na última perna até canasvieiras. A percepção eólica aumentou - não sei se o vento mesmo ou o desgaste, o ritmo caiu e sensação de esforço triplicou. Mas mantive algum ritmo e começamos a voltar com vento a favor de novo até a transição. Na minha opinião o pior trecho era da SC0401 até jurerê, com vento transversal. A bike chacoalhou como nunca experimentei ali.

Entrei na T2 junto do Pedro e Heverton e saí rápido, ritmo descompensado como sempre. Nem olhei pro garmin e só vi o primeiro lap, 3:53. "Ok, eu não faço meia maratona solo nesse ritmo, então tá forte". Bem nessa hora os quadríceps começaram a espetar. Reduzi e cuidei da técnica pra não dar caibras e segui na sensação de esforço máxima e ritmo decadente.

Primeira das três voltas muito forte, a conta viria. Segunda volta mais moderada como talvez devesse ter sido tudo. Como sempre correr ali em jurerê na muvuca é sensacional. A galera incentivando causa aumentos súbitos do pace. Me controlei pra não agarrar aquelas garrafinhas de coca-cola antes da última volta. Lutei com a vontade de reduzir o rimo, apertei ao máximo até quase espanar a rosca.

Só sobraram restos dessa corrida. Até agora descendo escada de lado
E aí nos últimos km a casa caiu, dor aguda nos quadríceps e ritmo despencando. Forcei olhar no garmin pra tentar não deixar cair muito e segui estragado até a chegada. Atravessei aquele pórtico feliz por uma prova perfeita, dura como poucas, bonita como sempre em Floripa. Extremamente satisfeito, do jeito que eu fico quando sei que não sobrou muita coisa no tanque de gasolina. Pouca coisa a mais e eu teria quebrado, tenho certeza. Essa recompensa pra mim é a melhor, melhor que tempo ou resultado.

O pós chegada é sempre muito legal, principalmente com uma área de dispersão bem estruturada. Fui direto pra massagem e encontrei o Palhares. Quando saí ele estava lá se contorcendo com um pedaço da panturrilha querendo sair da perna. Eu tinha que ter filmado aquilo hahaha.

Descobri a pizza bem depois e comi vários pedaços com os pés na piscina de gelo. Deveria ter enfiados as pernas mas não consegui, começava a tremer. O tempo ficou meio louco quando eu cheguei, caiu uma chuva rápida e eu achei que esfriou (não esfriou, fui eu).

Arrumei as tralhas e me mandei pra casa pra almoçar, cansado até a alma e atravessado de fome mesmo depois de ter comido até cansar. Algo desregulou sem o desayuno.

Baita prova. Acabei em 4º lugar na categoria, com 4h27min. As parciais foram swim 13:41, bike 2:32, run 1:35, o resto foram transições lentas. Pois se melhorassem talvez já ajudasse a beliscar o pódio hahaha.

Dados técnicos:

Corri com o Kinvara 4 ensaboado de vaselina por dentro, com meia. Depois da maratona de Florianópolis fiquei traumatizado. Consumi duas mariolas antes da largada. Na bike, 4 medidas de GU Roctane em pó, 3 gels GU e um gole de gatorade. Na corrida mais dois gels empurrados à força e uns 100 ml de coca cola e mais uns goles de gatorade. Na bike ainda foram duas cápsulas de sal. E água em boa quantidade, pois estava quente. Quente com vento é receita pra desidratação.

Sobre o vácuo !!! Sempre ele ! Vi alguns pelotões, poucos mas vi. O que mais irritava eram as 'duplas' trabalhando juntas. Vi por duas vezes dois caras trocando gel, um pegando água pro outro e revezando descaradamente a roda, o da frente até sinalizava para o de trás assumir a ponta. Espero que estes tenham sido punidos, caras de pau. Os pelotes que vi por duas vezes foram sinalizados pelos árbitros, e provavelmente aí saíram as punições. Como sempre há os inocentes que pagam o pato pela cambada de vaqueiros que não toma jeito, pois é muito difícil ultrapassar aquela maçaroca de gente. Mas espero sinceramente que a galera desonesta pense duas vezes antes de se inscrever ano que vem.

Como pontos a melhorar para a prova, o mais importante é o abastecimento de água. Peguei um posto sem (com gatorade e coca-cola) muito cedo. Além disso o checkin seria mais rápido se o número da bike viesse na sacola e não tivesse que ser localizado e colado na hora. Que seja uma prova consolidada em Florianópolis e no Brasil.

Fotos do Gai e do Saul. Obrigado !!!

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Dash Triathlon 113 - dia perfeito existe

Um dia perfeito. Dava pra acabar o post aqui, mas é melhor registrar. Mesmo sem saber muito o que esperar eu sempre espero o melhor, então fui pra prova com os ritmos mais otimistas possíveis. Tudo dependeria de várias coisas, a começar pelo clima, que estava indeciso na semana da prova, então a ideia era fazer o melhor possível em cada modalidade.

Acabei treinando com mais qualidade só depois do XTERRA, a 3 semanas da prova. O Mountain Do em dupla me deixou destruído e aconteceu o que o Roberto fala a respeito dessas provas: sempre quebra, ainda mais porque eu não sei entrar pra brincar.

Então chegou o fim de semana esperado e que fez jus ao que prometia. Uma estrutura excepcional, num lugar que nasceu perfeito para o Triathlon, e uma prova pra lá de bem organizada nos mínimos detalhes e que já começou acertando em cheio. Que venha para ficar.

No sábado fiz um treino de transição curto e leve nas três modalidades, nunca tinha feito isso e me senti muito bem. Combinei com o Alexandre Vasconcellos que veio do Rio e lá fomos nós nadar, pedalar e correr por uns minutinhos cada.

Domingo madruguei e saí de casa às 4:30, acabei de arrumar a transição e já era hora de ir pra praia. Passei pelo controle do chip e entrei na área de largada. Aquecimento apenas para molhar e aí fomos esperar a hora da diversão. Mar flat, céu carregado de nuvens malignas e nada de vento.

Na máquina de lavar

Largada ! Foto de Israel Loselame
Alinhei num lugar estranho, bem no meio, normalmente fico pelos lados. Acabou que larguei numa muvuca danada e demorei a conseguir me livrar da profusão de braços e pernas alheios que queriam me atrapalhar. Antes da primeira boia já estava num espaço melhor e dali em diante nadei sozinho e o tempo todo num ritmo moderado a forte. Naveguei bem e dei umas pernadas de peito pra conseguir ver a última boia, tracei um azimute no morro e fui certeiro, contornei as duas, peguei outro azimute com a boia branca e voltei, a navegação saiu legal e o ritmo bem na mosca, 30min14seg no garmin. Nas melhores séries de piscina fico na casa de 1:35/100m, aqui saiu 1:35 cravado :-). A minha virada nada-olímpica tem um valor psicológico interessante, na piscina a natação não vale muita coisa mas no mar até que funciona bem :-). Melhor impossível e saí esgoelado pra transição que era longa. Arrumei as tralhas e segui pra bike, num pedaço de transição também longo.
  
Fora dágua mas sem ar algum 

Ok, agora tinha ar
On the Road

Tal qual o Iron, um percurso no lugar de treino tem lá suas vantagens. Nós já sabemos onde é que o vento pega, o que dá pra fazer em cada subida, onde descer no clipe e fora dele, etc. Logo no começo do pedal vi que o garmin não marcava nada exceto a velocidade. Paginei as telas e nada, não lia a FC nem a cadência, que eu uso sempre nos treinos. Do jeito que eu deixo as telas, só tinha velocidade em uma e a velocidade média em outra (cada uma com 3 campos em branco :-). Tentei olhar o que era e desisti, resolvi pedalar só na percepção do esforço. Deixei só a velocidade e olhava de vez em quando a média.


Fim da primeira volta
Entrei na SC-401 e mantive a ardência nas pernas e respiração sob controle. Fui me empolgando imaginando algum vento fraco a favor, mas todas as bandeiras estavam caídas, nem uma gota de vento a prova toda !

Fiz o retorno no Floripa e comecei a forçar mais, talvez as pernas tenham aquecido. Várias vezes tirei o pé quando uns atletas me passaram só pra entrar na minha frente e reduzir. Também fiz umas fugas pra não deixar uns poucos pelotes chegarem. Vi pouco vácuo descarado, mas o que me irritou foram 3 duplas 'trabalhando juntas'. Numa delas o cara veio sprintando pra não perder a roda, o da frente claramente o estava puxado.

O Marcos me passou e depois o vi parado com o pneu furado. O Manente também estava lá em canas parado. Malditos pneus, ainda mais os tubulares. Não vou com a cara deles, sei lá porque. Uma pena, realmente.

Terminando alguma volta
Fechei a primeira volta muito bem, olhei a média pela segunda vez e não acreditei, 36,1km/h. Resolvi manter o ritmo e entrei na segunda volta realmente empolgado. No morro do cacupé peguei uma micro chuva de 2 min que mal molhou o asfalto. Consegui manter o ritmo até começar a sentir uma ou outra fisgada na coxa quando levantava do selim. Ali era o limite, mantive tudo como estava e não forcei mais nada. Entrei em jurerê e vi o ritmo em 35,9, fechando o total com 35,7km/h. Decaiu alguma coisa mas pros meus padrões foi impressionantemente constante. Não tinha vento, então foi constante :-). O alvo da bike eram 2:30. Deu 2:27 com 87,5 km (redução avisada no congresso técnico). Perfeito.

Terminei a bike eufórico, nenhum pneu furado ! Estava traumatizado do Iron. Quase tive vontade de dar um beijo na bike. Saí pra T2 que era bem longa, troquei o tênis rapidamente e me mandei. Achei que tinha perdido o número, mas o Fábio me lembrou que estava virado pra trás.

T2. Dessa vez não fiquei enroscado na roupa
Correndo feito um doido

Saí pra correr leve e sem dor nenhuma e quando virei na búzios tocou o alarme de pace que ficou no garmin, estava a 3:40/km. Foi a única hora que me orientei por algum instrumento, claramente 3:40 não daria pra manter muito tempo. Segui nuns 4:10 pra ver no que daria. Também achava que não daria pra manter isso nem a pau, mas estava muito bem e afinal, se quebrasse, que fosse tentando.

Nem calor teve na corrida
Eram vários retornos, muito legal pra ver e marcar o pessoal. Melhor ainda era a torcida por onde passávamos o tempo todo, acabava nem sabendo direito quem incentivava, mas tentava retribuir na medida do possível. Fui olhando os paces só no beep do garmin, estava mais ou menos nisso, uns 4:15 até os 12 km, depois foi num regressivo até o final mantendo o sofrimento sempre no máximo, com os três últimos km realmente de doer. Também balizava o ritmo pelos amigos, o Milton é um relógio e tem o ritmo mais constante do universo, então se ele estiver se aproximando é porque eu estou reduzindo :-). Passei muita gente na corrida, mas dois caras me passaram a 200 m e não consegui acompanhar. O final foi no limite, cheguei e desmontei no chão, até atraí a atenção de alguém que veio ver o que se passava. O Palhares ao lado já recomposto não se abalou pois chegou do mesmo jeito ;-).

Ok, eu estava querendo chegar logo :-)

Epílogo

Uma prova excelente. Organização impecável, no quintal de casa. Um fim de semana respirando triathlon e encontrando amigos por todos os lados. Percurso, estrutura, área de chegada, premiação, kit, staffs, tudo de alto nível. Só preciso saber quando abrem as inscrições para a próxima.

The End. Ina, Dani, Palhares e o Milton.
Dados técnicos

Coisa interessante foi essa prova. Além do ocorrido com o painel de instrumentos, não tinha mais nenhum suplemento em casa, só comprei 6 GU na feirinha e levei mais 3 Roctane que estavam lá desde o Iron. Sem Accelerade, sem cápsulas de sal. Nada além de GU e água e uns dois goles de gatorade. E deu muito certo. Acho que a alimentação pre-prova conta muito em provas não tão longas. Não tive quebra além da corrida, não tive que parar pra fazer xixi. Tudo milimetricamente encaixado.

Percursos do garmin: Swim, Bike, Run. T1 muito lerda em 3:13 e T2 em 2:14, não sei pra que demorar tanto. Não tem cadência nem batimento. 4h37min26seg, 5º lugar na categoria e 61 geral, gostei. Muito. Por demais.

Depois de muito procurar encontrei a família toda que foi assistir a chegada, mas eu cheguei muito rápido hahaha. Meu pai levou a turma e ficamos por lá um tempo batendo papo com a galera e saímos pra almoçar depois de desmontar a tralha toda. Fomos pra Santo Antônio de Lisboa, comi um prato pra dois sozinho. É que o Arthur não quis a parte dele :-).

Fotos do Geraldo Gai, Rafael Bressan e Juliana Cunha.