sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Maratona de Santa Catarina 2014 - no fio da navalha

Depois de 4 anos sem uma maratona oficial, eis aqui outra pra matar a saudade. Maratona não deveria deixar saudade, mas deixa. Uma prova além da distância razoável, mas muito menor do que as absurdas ultras. Ainda é possível forçar, fazer um ritmo forte. Mas tem que saber que vai doer. Porque não tem jeito: uma maratona de ironman ou trilha vai ser sempre mais fácil que do fazer em alta intensidade o bate-estaca cadenciado e eterno de uma maratona 'plana' no asfalto. Uma só exigência de musculatura, a ponto de pisar numa pedrinha lá pelos 40 km e sentir as pernas não responderem à uma mudança mínima no movimento.

Então eu deveria ter me preparado direito. Só que não. Acabei encaixando a maratona como a terceira de uma séria de provas, o mountaindo costão com 22km de trilhas e um duathlon extremamente ardido. E aí uma semana de treinos leves e uma pré-prova de guloseimas farináceas que deixam qualquer um estufado. E ainda assim o resultado foi bom. Muito bom. Eu passei algumas horas depois da prova pensando se gostei ou não e a conclusão foi que gostei muito. Embora bem longe do alvo, o resultado foi fruto de uma estratégia arriscada (e portanto incerta) e do máximo esforço para a situação. Assim, vamos à Maratona SC 2014 !

Alinhei à frente depois de algum aquecimento dinâmico e larguei controlando o pace o tempo todo. Logo de cara passamos pelo túnel e aí tasquei o lap no garmin, de forma que nunca mais a marcação de kilometragem bateu, mas tive como controlar o pace no início. E então foram-se os 12 primeiros km, uma ida e volta até o trevo da seta no final da baia sul. Ritmo dentro do previsto. Na verdade, não muito. A sugestão do Roberto foi tentar fazer uma prova progressiva, algo entre 4:25 a 4:15 até uns 15 km, aí apertar para 4:15 e ver o que dava pra fazer depois dos 32 km. Aí eu pensei: 4:16 é um pace para sub-3. 4:15 é melhor ainda, mas se for fazer 4:25 até os 15 nunca mais vai sair 4:15 de média. Fiquei matutando isso, se deveria botar um foco em sub3 mesmo sem treino específico nenhum. Bom, quem não arrisca não petisca. Como eu iria saber se dava sem tentar ? Eu achava que não dava, mas que poderia ser 3h bem baixinho. Não é toda hora que se faz uma maratona, então resolvi tentar: saí em 4:15 e tentei manter isso o mais constante possível. O progressivo foi deixado de lado para fazer algo constante, mas que saiu regressivo no ritmo e progressivo no esforço e desespero para chegar.

Ainda assim não foi constante, pois tinha vento e algum sobe e desce muito leve. Encontrei um cara de Blumenau e fomos revezando a marcação do ritmo e quebra do vento. Alguma perseguição para pegar um outro grupo à frente e logo estava correndo entre dois grupos grandes, um à frente e outro bem longe lá atrás. Isso até o 32, porque na terra de ninguém depois dos túneis a densidade populacional de corredores diminuía drasticamente.

Bom, antes de chegar no 32 tem que passar pelo 22, que fica lá na UFSC depois de tooooda a beira-mar. E aí a coisa começou a ficar estranha. Meu pé direito começou a esquentar. Rapidamente estava queimando, uma bolha estava vindo. Lá pelos 25 km o ritmo ainda estava bom e até acelerando um pouco com o vento a favor, mas o pé estava realmente doendo. O esquerdo também, mas era no direito que eu conseguia sentir o líquido se mexendo e espetando tudo na sola do pé a cada passo.

Encontrei o Marco Scarduelli de bike perto da ponte, reportei o estado do pé e perguntei se ele não tinha um pra me emprestar. Ali eu estava seriamente pensando em parar na tentar furar a bolha, mas essa ideia sem noção durou pouco tempo.

Passando na área de chegada no km 32 o ritmo estava perfeito em 4:15 mas o esforço já tinha causado estragos: a FC estava bem alta e o estômago estava muito estranho. Eu sentia a água chacoalhando lá dentro mas tinha que tomar outro gel. Com mais água, claro, o que aumentou o chacoalhamento. Entramos pela terceira vez no túnel e aí no campo desolado da enormidade do mundo paralelo que existe no além túnel (palavras do Palhares). Deserto, corredores espalhados esparsamente e nenhum publico ou movimento, só a ida sem fim. Xinguei um pouco aquele retorno que não chegava nunca, o Jacó estava ao meu lado de bike filmando e rindo de alguma coisa. O ritmo foi despencando, mas ainda apresentava alguma decência. Finalmente o retorno apareceu e foi só fazer a volta e começar a ir contra o ventinho mínimo que o ritmo implodiu de vez. Foi piorando, piorando... fiquei imaginando algo parecido quando alguém que tinha um monte de ações da OGX viu o valor derreter ao longo de pouco tempo.

Após o retorno eu comecei a virar um cone. Quem não estava quebrado me passava na maior velocidade, eu até tentei acompanhar um mas o Jacó me aconselhou a ficar quieto pra não quebrar de vez.

Uma leve vontade de vomitar e finalmente o túnel final. O Décio estava pedalando no lado e me deu uma baita força naquele final sofrido. Fazia tempo que não tinha tanta vontade de andar numa prova. Não teve jeito de voltar algum ritmo nem com a descidinha para a chegada, foi terminar do jeito que deu, completamente embrulhado. Parei feito um toco na chegada, mas logo consegui me recompor depois de me jogar no chão e vomitar um pouco. Fiquei novo !

Coisa realmente horrível é esse pé
Não tão novo. Os pés estavam pegando fogo. Fui pra massagem e tirei a meia, e tinha uma coisa feia lá embaixo que assustou a fisioterapeuta. Depois fui pra tenda da Ironmind comer alguma coisa, e aí então fui pro carro. Que estava lá no raio que o parta, depois do fórum. Uns 500 m de distância, mas naquelas condições muito mais longe do que o recomendado.

Buenas, o resumo foi que o ritmo despencou de 4:16 pra 4:26 em 10 km, os pés pegaram fogo e eu tentei o melhor que pude. Não quebrava desse jeito há tempos, certamente faltou glicogênio e reposição (só entraram 3 GU). Saiu 3h11min25seg de tempo oficial, um recorde pessoal. Menos de 5 min mais rápido do que Curitiba, que com aquela altimetria continua sendo minha melhor maratona em 2010 com 3h16min15seg.

Entonces é isso, o legal é que saiu um 23º geral numa maratona oficial, o que é muito bom ! Categoria não deu nada, 6º, pois os três primeiros eram possuídos e chegaram abaixo de 2h50.

Agora é um breve descanso e volta aos treinos com foco em triathlon de novo, aí vem o Duathlon de Blumenau, Olímpico de Jaraguá, Challenge e Short de Garopaba. Bora lá.

Ali pelos 30 km
Essa meia... corri com ela a primeira vez uma prova longa de asfalto.
Senti CALOR na perna. E ela destruiu a minha sola do pé, mesmo já tendo sido usada no Desafrio.

Os restos terminando a prova... Foto do Daniel Carvalho
Quando reconheci o Daniel fiz de conta que estava tudo bem !!


9 comentários:

  1. Que show Pina, só conseguia mexer os olhos e ver tu passar voando.
    Isso que tu falou sobre o túnel foi engraçado, eu não sabia disso, mas realmente depois de lá tudo muda pra pior, foi assim comigo, porque eu vinha muito melhor que eu mesmo imaginei, quebrei ali e na última entrada do túnel tinha aquela montanha gigante pra subir que eu quase morri, dei uns tapas na caras dizendo que faltava menos de 1 km e que eu tinha que aguentar, mas chegando em casa vomitei muito, igual no Ironman, tanto que marquei médico pois não to achando isso normal.

    Abraços

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    1. Valeu Fábio !
      Cara, mandou muito bem !!!
      O túnel é o portal kkkk
      Tapa na cara HUAHUAHAUHAUHAA

      Abraço !

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  2. Olá Pina.
    Parabéns pela prova... grande resultado... um record pessoal mundial!

    Cuida do pé agora.

    Também fiz a maratona, com um ritmo bem leve, depois de 2 meses e meio de ter quebrado a perna.
    Fiz essa loucura, porque no final pedi minha namorada em casamento...rsrs... o maior objetivo era ouvir um "sim".

    Quero assistir o Duathlon aqui em Blumenau.

    Bons treinos e mais uma vez Parabéns!

    Abraços.

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    1. E aí Marcelo !

      Valeu cara !
      Meu, depois de 2 meses parado e quebrado ? Oba, um mais louco que eu HUAHAAHAH.

      Vai ter casório esportivo então !? Show !

      Vamos lá pro Duathlon então.

      Abraços

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    2. Valeu!
      Mas sabe que sempre tem um louco que nem você, puxando os outros, rs... Nos vemos no Duathlon, mas dessa vez vou assistir.
      Agora é recuperação total.

      Abraços.

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  3. Meeerrrmao, 23o ? Ce é um monstro.
    Parabens !!!

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    1. Hahahah, quebradasso isso sim... mas agora já to bom. Incrível o que uma semana sem treinar (só 'boiando' na natação) fazem...

      Abraço e valeu Bro !

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  4. Meu amigo... tô meio atrasado na leitura dos blogs mas agora finalmente consegui. Bicho... tu é um MONSTRO! Só isso que te digo. Tu nem fez um ciclo tão grande de treinos para maratona e fez esse tempo SENSACIONAL. Realmente é um monstro. Parabéns.
    Me dá mais raiva ainda de não ter feito a prova porque de repente podia tentar colar em ti. Se ficasse perto de ti (MUITO pouco provável kkkk) talvez tivesse até papado o terceiro lugar da minha categoria.
    Show de bola... mas cá entre nós... esconde esse pé nojento! Kkkk
    Abração!
    Milton - www.vintesemanas.com.br

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    1. Fala aí Milton !!!

      Menos né kkkk. Monstro pelo pé sim huahauha. Aquilo é caso de vigilância sanitária me interditar....

      Valeu cara !

      Se tu tivesse lá tenho CERTEZA que faríamos junto essa prova, tranquilamente... eu que surtei com a ideia de 3h no sábado e aí fui mais kamikaze do que o planejado hauhauhaa.

      Abraços !

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