quarta-feira, 6 de junho de 2018

Ironman Brasil 2018

É incrível como há uns 3 ou 4 anos sempre acho que fiz a melhor preparação da história para um Ironman. Todo ano ainda evoluindo, isso é fantástico. Mas esse ano foi especial. Bem focado, só com duas provas no primeiro semestre fora o Iron e muito cuidado com detalhes.

Um ciclo que foi praticamente perfeito, com zero lesão (não ausência de dor ou problemas :-), treinos longos 100% executados e um foco a mais no ciclismo. O Roberto preparou um volume ligeiramente maior do que eu estava habituado com treinos de qualidade nas trẽs modalidades sempre e bastante especificidade. Um 70.3 no caminho confirmou que o negócio estava certo.

Numa prova tão longa quando um iron tudo pode acontecer, e várias coisas podem acontecer ao mesmo tempo. Mas o mais importante é tirar aprendizado de tudo e manter (sempre que possível) o foco no plano, em controlar o que podemos controlar e nos adaptar às situações externas que fogem ao nosso controle. Minimizar o erro, mas aprender com eles. Reorganizar as metas mas continuar tendo metas. Conseguir se desafiar em uma prova perdida e ainda assim sair satisfeito por ter feito o melhor. Tirar o melhor da situação sem se conformar com não ser o melhor. E acima de tudo, lembrar porque eu faço isso: porque eu gosto ! Simples assim.

A semana pré prova foi especialmente atribulada, muitos detalhes e trabalho, mas tudo zen na medida do possível. Cuidado com a imunidade, revisões preventivas com o Èder na Quiron Saúde (sim, antes de estragar, alinhar, prevenir e recuperar muito bem). Alimentação bem feita e sono na medida do suportável :-).

Consegui nadar às 7:00 na quinta feira e depois só fui pra Jurerê sábado a tarde estranhamente tranquilo. Fiquei hospedado no Palhares e na Dani e deixei a bike às 19 horas. Consegui jantar e dormir muito bem.

Ao sair de casa acabei achando uma câmara que não coube no kit de ferramentas e pensei em por na sacola de ciclismo pra levar no bolso, mas a caminho da transição joguei a bendita dentro da sacola do special needs do ciclismo. Essa decisão simples me assombraria horas depois.

Ajeitei todas as coisas na tenda, botei na bike toda a suplementação milimetricamente preparada pela Jana. Foi o primeiro ano com acompanhamento nutricional e a diferença em tudo foi enorme !

Voltei pra casa do Palhares e depois saí muito tranquilo pra praia e aqueci 5 min no mar antes de ir pra largada, encontrando a galera toda e logo em seguida a turminha de casa que foi lá me ver pelo décimo ano ! Amo vocês meus amores, essa energia é fundamental e indescritível.

Larguei bem e decidido a tirar o melhor custo benefício na etapa de natação, nadando reto e tentando pegar uma esteira boa, sem apanhar ou me enroscar em outros atletas. Tudo certo até o início da segunda volta, quando vi a dispersão de cabeças coloridas devido à corrente. Nadei totalmente sozinho para nadar reto e saí da água com 58min e bem satisfeito.

Transição relâmpago em 3min25seg e então saí pro pedal. A única coisa que eu queria era não ter que por o pé no chão e fazer o que tinha feito nos treinos, mas eu não havia treinado para o que viria a seguir :-).

Logo no início fiquei assustado com a quantidade de atletas parados com pneu furado. Fiquei procurando algum acidente com carro e vidros ou cacos de lanternas, mas tinha atleta a cada 200 m. Estranho. E então no elevado de jurerê ficou estranho pra mim também. Pneu traseiro esvaziando. Com toda a calma, achei o preguinho e tirei. Ainda havia ar e então usei o selante, girei o pneu e coloquei de novo e então botei o CO2. Ficou duro feito uma pedra. Oba, não perdi nem 2 minutos !

Segui empolgado pra SC-401 e passei literalmente voando em cima do tablado que existia pra passar o canteiro. A garrafa traseira de suplementação decolou. Ainda a vi girando no asfalto, mas o enxame de atletas vindo a seguir em descida e ainda por cima em curva eliminaram qualquer intenção de voltar na contra mão para buscá-la.

Fiz contas nutricionais e conclui que os dois geis adicionais dariam conta do carbo e bastaria um gatorade pra equilibrar os eletrólitos que fugiram. Ou não.

Segui até canasvieiras muito forte e comecei e encaixar o ritmo, retornei e um km depois pneu no chão de novo. Muito calmamente troquei e gastei o último CO2 e segui tentando evitar pensar em prejuízos ou recuperar, a prova estava só começando. Então logo ao descer o elevado da vargem tudo no chão outra vez. "Puta que pariu, o que é dessa vez" ?! Nessa hora tive um frio na espinha ao lembrar da cena da minha mão depoistando a outra câmara na sacola laranja... só tinha uma câmara e o pitstop que não stopava nada. Logo eu que sempre ando com três câmaras em treino e na prova ainda deixo uma com pneu, CO2 e ferramentas no special needs, mas a sacolinha salvadora estava a 30 km de distância.

Tentei aplicar o pitstop mas nem enchia o pneu. Conclui que era um furo grande e berrei a plenos pulmões.... "Imbeciiiiiiiiil" ! Nada de motos, então com a calma de quem revira o cesto de lixo procurando papel higiênico menos usado, recoloquei a câmara anterior e enchi com o que restava de ar no pitstop e segui esvaziando, até esvaziar tudo. Aí vi uma atleta com um apoio arrumando o pneu, mas o apoio só estava ajudando ela a trocar e não tinha nem bomba nem mais CO2.

Então lembrei que tinha uma tenda shimano no pedágio no ano passado e saí pedalando com pneu oco até lá, a traseira dançando e todos os atletas avisando que 'tá com o pneu furado'. "Sério ?? E aí, tem uma câmara pra emprestar :-)" ?

Chegando na tenda azul acabei achando uma roda com cassete de 10V, troquei e segui para finalmente começar a prova. Ao ver o garmin com 24km/h de média, pensei que o dia seria longo ou dolorido, uma das duas coisas, ou as duas juntas. Felizmente foi só a segunda, pois estatisticamente estaria com crédito para fazer mais 10 ironman sem parar pra nada, depois de ter parado 5 vezes em 30 km.

Voltei ao plano só pensando em pedalar como deveria, e fui indo, indo, indo, fechei a primeira volta em 2h46 e segui percebendo a elevação eólica que se instalava. Largar 7:25 e ainda ficar 22 min parado é um acoisa que amplifica o vento no final do ciclismo.

No final a coisa foi boa, eu consegui manter bem a potência e a normalizada geral no que deveria fazer, ficando pouca coisa acima do alvo. Mostrou que o treino estava nos trinques, consegui fazer um pedal desastrado em 5h20 e segui para a corrida todo empenado e esfomeado.

Novo recorde de transição em 2min34seg e fui pra maratona decidido a fazer a meia mais forte e na percepção. Praticamente não olhei garmin, nem nos laps e só na descida pra canas que vi o pace.

Por algumas vezes o Palhares me deu as parciais e me disse que eu estava ganhando posições rapidamente depois de sair da T2 em 40º. Esse sabe motivar, e me vi perseguindo alguém virtualmente, com uma nova meta de tentar ganhar posições a cada vez que ele me achava.

A segunda volta foi mais lenta, passei no banheiro para número 1 por 30 segundos e tomei uns copos cheios de pepsi. Consegui ingerir 5 gels e a coca começou a cair bem. Apertei um pouco a última volta e saiu melhor. Ao virar na Búzios fui ver o tempo de prova e eram 9h52min. Aí uma nova meta se instaurou, que foi fechar antes das 10 horas. Do nada saí acelerando em busca de um número inútil, mas que representaria o esforço derradeiro de fazer varias limonadas de um limão. Um objetivo depois do outro, sempre com um objetivo.

Uma maratona de Ironman é uma coisa rara. É um lugar onde a gente bota toda a energia do mundo pra tentar correr num ritmo que é difícil de fazer em treinos leves. É onde a prova se decide e onde só dependemos de nós mesmos, e ainda assim é cheia de altos e baixos. Não há quem não sofra ali, e eu sempre quero acabar até chegar no km 40, mas dali em diante quero esticar a sensação o máximo possível, e é a chegada que vem correndo pra mim e não eu até ela. É onde a gente bota tudo o que tem e mais um pouco pra simplesmente continar indo.

Corri o tempo todo bem focado, raramente usando energia pra outra coisa que não por um pé na frente do outro. Alguns sorrisos saíram mas desculpem a falta de retorno nos gritos e acenos. Ouvir aqueles "bora pinaaaaaaa" por onde passava ajudava demais. Muito obrigado a todos que torceram.

E aí cheguei relativamente acabado em 3h33min. Estava meio zonzo há alguns km e realmente desabei dessa vez, sendo a primeira que fui parar no soro. Uma prova linda e difícil, valorosa como poucas.

Nosso controle vai até onde podemos controlar, nossas decisões tem impactos e não podem ser desfeitas. O que temos que fazer é dar um jeito de transformar tudo que deu errado em algo positivo, permanecer motivado e continuar em frente, porque lá na frente sempre vale a pena.

A todos que fizeram essa festa, parabéns pra vocês !! Se propor e realizar, buscar e atingir. Parabéns e obrigado pela parceria nessa labuta divertida.

Gean Hoffmann, obrigado pela parceria de sempre no cuidado com a bike !!!!
Éder, você é fora de série no cuidado e atenção com os atletas ! Muito obrigado por tudo !

Obrigado de coração Daiane por toda a paciência do mundo e cuidado com nossos pequenos enquanto eu treino. Agora vamos descansar. Até a semana que vem :-).


Ao ver isso na subida de canajurê senti como essa prova desperta essa empolgação em todos. Muito obrigado Éder !!!!!

Torcida 10x Ironman

Ali de braços levantados, saudando a Daiane lá no mar e o próprio mar !

"Pina tá cheio de sal na bermuda, cuida da suplementação", disse o Palhares.
"Ah, não esquenta, é espuma do pitstop".
Era sal sim.

To T1

Abraço pré largada

That finish line !

Classica. Nessa hora pensei em pegar a câmara no special needs mas lembrei que nem sabia se a roda era clincher ou tubular... então não parei

That's It !