terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Uma estratégia para o Fodaxman EpicTri 226

Como muitos já sabem (quem não sabe pode ver aqui), acontecerá em janeiro a primeira edição do Fodaxman EpicTri 226, um triathlon com distâncias de ironman na serra catarinense. Altimetria certamente será o ingrediente chave deste evento, mas outros aspectos merecem atenção.

Assim, reuni algumas ideias e estratégias que acho válidas - para mim, no meu caso, especificamente eu mesmo, mas que podem servir para os demais atletas ;-).

Basicamente será um 'iron' bem mais demorado que o normal. Eu prevejo algo em torno de 4 horas a mais do que o melhor tempo, considerando o atleta treinado. Disso derivam diversas coisas.

Dado o ritmo mais lento, isso implica em necessidades aumentadas de alimentação e hidratação. Será mais tempo exposto ao esforço, que será amplificado pelo terreno da serra geral. Imagino levar comida e não apenas gel e carbo em pó como faço nas provas. Certamente teremos um consumo calórico bem maior que o normal devido a estes fatores, e a fome vai apertar. Quebrar por 'prego de fome' pode ser irreversível e comprometer a prova, mesmo para atletas bem treinados.

Como o fodaxman tem staff individual por atleta, justamente por não ter estrutura de apoio ou estradas fechadas, é importante trabalhar em conjunto com o staff toda a estratégia de acompanhamento, orientação e alimentação. É difícil imaginar o quanto consumimos de líquidos numa prova. Fiz um exercício de cabeça tentando calcular quanta água peguei da organização no ironman fortaleza e pode ter sido algo em torno de 15 litros. Claro que não bebi tudo, também usei para me resfriar. Isso também deve acontecer na serra, já que no verão podemos ter bastante calor por lá. E aí tem os gatorade e o líquido preto precioso dos esportes de endurance. Claro que tudo tem que ser mantido gelado dentro do carro de apoio.

Outra coisa é a insolação. Estaremos 1500 metros mais próximos do sol. Se isso é insignificante em termos de distância, não é em termos de cobertura atmosférica: o sol de montanha é FORTE. Portanto, reaplicar protetor solar, por mais ridículo que pareça numa prova, pode ser necessário.

O treino vai depender de cada um, mas no meu caso eu foquei em treinos longos de pedal em montanha, muita montanha. Corrida nem tanto devido à base de fortaleza, e a natação tenho tentado nadar no mar uma vez por semana. Provavelmente a natação será sem roupa de borracha devido à temperatura da água, então é bom levar isso em conta também.


Dessa vez em especial vou esquecer as transições e tentar recuperar minimamente entre as etapas e me alimentar especialmente bem. Um último detalhe técnico: acho que irei de meia de compressão em alguma etapa. Será muito tempo 'sobre as pernas' e certamente vai ajudar. A definir em função do calor.

Obviamente é um evento que busca superação pessoal e diversão. Por isso, a tônica deve ser curtir apesar do sofrimento :-). Haverá uma proximidade muito grande entre os atletas e staffs no início, mas talvez não depois, já que o percurso é 'só de ida'. O apoio mútuo é fundamental e staffs podem e devem estimular qualquer atleta que encontrem pelo caminho :-).

Reforço: como é um evento não balizado, é fundamental que todos tenham os percursos de GPS, tanto atletas nos seus garmins quanto staffs no celular ou GPS veicular. O ciclismo é todo em rodovias e o GPS do carro atende perfeitamente, porém na corrida são estradas rurais em vários trechos, é o track no garmin do atleta é fundamental. É importante treinar isso previsamente. Eu já estou fazendo isso em alguns treinos. E é sempre bom revisar o link do regulamento, que contém inúmeras dicas e está sendo constantemente atualizado.

Pra fechar, aqui estão os links do google maps para o staff no ciclismo, o track do garmin para o atleta na mesma etapa e o track para a corrida.

domingo, 25 de dezembro de 2016

Ironman Fortaleza - O engrossador de casca

Essa edição do Ironman Fortaleza pode ter sido a última, o que vai torná-la mais especial ainda. De qualquer forma, foi um privilégio e será uma pena se realmente for extinta. Porque um Ironman num local duro, numa paisagem brasileira de verdade, no coração do nordeste, saindo da orla pro interior em rodovias onduladas a perder de vista, com natação sem a facilidade da roupa de borracha num mar de gente grande e com uma corrida incinerante não se acha em qualquer lugar.

Completar esse iron é a certeza de engrossar mais um pouco a casca de qualquer atleta. Que, diga-se de passagem, é o que é necessário para correr fora das CNTP, para evoluir um passo de cada vez e aumentar o auto conhecimento. Eu realmente não sabia que aguentava um calor e um pedal de iron tão duro. E o vento não estava terrível, apenas forte, o que é normal. E o calor ficou só nos 34 graus de máxima.

O resumo da prova é que foi sensacional. Embora tenha ido com a vaga pro Havaí na cabeça, os planos são sempre a) curtir, b) completar bem, c) fazer o máximo possível e se possível pegar a ensaboada e escorregadia vaga. Não deu, eram 5 e fiquei em 8, a melhor colocação até então num iron. O tempo foi 10:19, com parciais de 1h10, 5h20 e 3h42 nas três modalidades, com transições razoáveis de 3 minutos.

Pois então, e lá em Fortaleza teve um acréscimo, a presença do meu pai e da minha família na cidade, que fizeram eu literalmente me sentir em casa na cidade onde morei aos dois anos de idade.

Pré prova

Vaijei na quinta e fiquei entalado no avião por duas horas em Floripa debaixo de tempestade. Chegamos em SP com o vôo perdido e fui alocado num hotel para o vôo das 6 da manhã de sexta. Dormi as 2 e acordei 4:30 pra ir pro aeroporto. Em Fortaleza fui recebido no aeroporto e fui pro hotel largar tudo e correr pro congresso técnico e retirada de kit.

Lá encontrei o Danton, que por sorte estava no mesmo hotel. Ficamos na expo até umas 14 horas e fomos pro hotel. Montei a bike e saí com meu tio para reconhecer o percurso do ciclismo. Foi excelente, deu pra ter boa ideia do que seria o domingo. Dentro do carro com ar condicionado estava fácil, mas foi só parar para fotogravar e sentir o bafo do dragão as 15:30. O calor emanava do asfalto e o vento parecia um secador de cabelo.

Sábado fomos fazer uma ativação das três modalidades e testar a bike. Foi estranho correr 10 min e ficar completamente encharcado de suor as 7:30 da manhã. O sol em fortaleza é homogêneo durante todo o dia.

Depois fui no mercado público comprar castanha de cajú e então descansei um pouco. O Danton foi procurar palmilha pra sapatilha da bike e fui almoçar com a família na praia do futuro.

Fui deixar a bike mais pro fim da tarde pra evitar o sol. Deixei tudo arrumado e então fomos jantar com o Guilherme e o Rangel.

O cardápio indicava pratos pra duas pessoas, mas um começou a pedir o duplo pra si e aí os quatro pediram pratos pra duas pessoas, pra espanto do garçon.

O incrível é que não sobrou macarrão algum. Fui pro hotel comer uns doces de leite que tinha comprado e então dormi magnificamente. Simplesmente dormi 6 horas direto.

Largada

Acordei e desci pro café. E cadê ? No sábado havíamos combinado com a moça de que preparariam um café básico às 4:30. Só que não tinha viva alma no restaurante e quando finalmente apareceu um não sabia de nada. Só tinha castanhas no apartamento. Fiquei apavorado com a possibilidade de fazer um ironman em jejum.

Tivemos a ideia de ir no Ibis do Guilherme e conseguimos tomar café madrugador por R$ 9,00. Bananas, paẽs, suco e iogurte. Deu pro gasto.

Taxi e então área de largada. Arrumei tudo e fui procurar a turma. Já com sol alto as 5:40 achei todo mundo, galera madrugou pra ir lá ver.

Abraços múltiplos, boa sorte e então fomos aquecer rapidinho. O Danton largou antes e eu fui as 6:10.

Natação

Que mar sensacional ! Quente, claro e balançando um bocado :-). Mar grande, oceânico ! Nadei os 3000 iniciais com certa dificuldade e um pouco de dor na lombar, acho que de bater mais perna do que o normal. Cheguei a ficar mareado no início mas logo encaixou um ritmo moderado. Acabei ficando sem referência por ser o primeiro iron sem neoprene, mas achei o tempo alto e segui pra segunda volta, que era de apenas 800 m pra chegar no ponto da T1.

Fui pra transição rapidinho e me enfiei na camisa de ciclismo. Saí comendo banana e logo estava na estrada com vento em popa.

Bike

Que pedal duro ! Estava imaginando algo em torno de 5h15 e fiquei apavorado quando virei os 60 km com média de 41 km/h. Que vento ! A ida foi um passeio e então voltávamos 30 km para fazer outra volta de 60. Os 30 contra foram uma penúria. Não sei de onde os quadríceps começaram a doer lá em cima perto do quadril. Não entendi, nunca tive isso.

Voltei a 40km/h e segurando muito a potência, que estava baixa. Economizei o que pude pensando na volta de 60 km totalmente contra vento. Ali no km 120 estava com 36.7 km/h de média.

E fiquei surpreso com a altimetria. Certamente a sensação de desespero era acentuada pelo vento contra, mas tive que botar a coroinha algumas vezes. O total foi de 1100m, bem mais que os 700 de Floripa. E em Fortaleza não há nenhum morro grande, é uma pista eternamente ondulada.

O contraste do ambiente era impressionante. A vegetação de agreste retorcida e amassada pelo vento, o asfalto escaldante e muito pouco trânsito. Público só nas imediações de um posto de gasolina perdido na imensidão do sertão. Algumas pessoas em cima de burrinhos assistiam na beira da estrada.

Não é um lugar fácil, viver ali não é fácil e competir também não foi. Mas é recompensador saber que conseguimos funcionar mesmo num ambiente hostil como aquele. Fiquei muito satisfeito.

Os últimos 15 km foram como o Guilherme descreveu. Um martírio sem fim. Encontrei o Elano e alguns atletas distribuindo água. No km 120 eu fiquei sem água num posto. Foi uma desgraça. A boca ficou a prova toda seca como o chão da caatinga. O ar além de quente era seco e secava todas as mucosas expostas, e a boca obviamente não podia ficar fechada dado o esforço.

Lá perto da chegada achei o Diogo e segui pra transição empenado mas sabendo que tinha poupado bem, fiquei cravado nos 70% do FTP.

Corrida

Saindo pra correr encontrei a galera toda, que alegria. Meu pai tava lá preocupado e me deu um high five. Segui por dentro do hotel até a saída e já me encharquei num posto de apoio. De todas as orientações do Roberto pra essa prova, a que mais me preocupava era evitar a hipertermia. Manter o corpo resfriado o máximo possível.

Pra isso fui de roupa de manga curta, que protegeu totalmente as costas e braços até os cotovelos, boné e muito protetor solar.

A cada posto eu tomava um banho completo. Nem liguei de inundar os tênis. Corri a primeira volta de 14 km a 4:50 cravado e então implodi. O ritmo despencou e já subi muito lento o viaduto do início da volta, a única subida do percurso.

A ida até o final da praia de Iracema era rumo ao nascente e com vento contra. Voltando o ritmo dava uma leve melhorada mas o vento nas costas e o sol na cara eram cruéis. Por sorte os prédios já fazem algumas sombras as 14 - 15 horas, mas mesmo ensopado num posto já ficava totalmente seco antes do próximo.

Senti muito calor na cabeça, no rosto. Botei gelo em todas as partes que podia. Comi dois gels encavalados com coca cola. Nunca fiz isso mas resolvi tentar pra ver se melhorava. Depois de uns gelos adicionais na roupa comecei a corre melhor (menos pior) e abri a última volta empolgado.

Nos últimos 8 km o garmin apagou e corri sem instrumentos. Legal foi ver que consegui manter exatamente o mesmo pace da média global nestes últimos km.

Corri o tempo todo procurando referências da categoria, controlei um pouco e passei alguns atletas, mas perdi a sétima posição a 5 km da chegada. O cara passou num ritmo muito forte e não aguentei 30 seg, com começos de travamentos nos quadríceps.

Tênue linha a que nos leva à melhor performance. Um pouco a mais e quebramos, travamos. Um pouco a menos e não atingimos o máximo possível para o dia ! E o objetivo é sempre o máximo.

Chegei deveras cansado, com o sol na cara nos últimos 2 km sem conseguir enxergar direito. Entramos pra rua paralela e então virava para a chegada, passando pela terceira vez pode dentro da transição da bike, mas agora pegando a esquerda rumo ao pórtico.

Meu primo fisioterapeuta estava trabalhando na prova e resgatou meus restos desabados na chegada. Cheguei realmente bem oco. Não estava passando mal nem nada, só extremamente cansado.

Uma das coisas que mais me atraem nessas provas de endurance é que nunca temos realmente a certeza de que vamos dar conta. Mesmo com todo o treino, que foi muito bem feito, tem uma parte que não dá pra prever, uma dureza que não dá pra treinar e lá especificamente um calor e vento que não dá pra fabricar em Florianópolis. E terminar nestas condições não tem preço, é das melhores sensações e a satisfação é extratosférica.

Fui pra massagem não sem antes abraçar todo mundo do lado da cerca. Senacional foi pouco. Da massagem fui comer 3 potes de açai e sorvete e mais meia melancia e então comecei a achar o povo.

Depois de certo reestabelecimento orgânico meu tio me levou pro hotel e dei uma recuperada. Ali para as 20 horas peguei um Uber e fui pro churrasco que meu pai fez. Todo mundo lá esperando ! Só então vi que estava meio estragado, morrendo de frio e todo mundo com calor. Comi bastante, tomei uma cerveja e depois um tempo o Pedro me levou pro hotel.

Falei com o Danton que tinha chegado bem com uma bravura exemplar e fui desmontar a bike. Uma tralha espalhada por cada cm2 do quarto demorou a entrar no case. Tudo arrumado e finalmente desmaiei bem depois da meia noite.

Pós prova

Obviamente fui ver a rolagem de vagas, só que não rolou nenhuma. Só a do cara da 65-69 que não completou, caiu na 30-34. Não tem criança ali kkkk. Todo mundo foi catar a ensaboada. Saí de lá, dei uma volta na expo e fomos pro hotel e então almoçar com o Gui e o Rangel. Lá encontramos a Ana e o Vinhas e trocamos experiências da prova certamente mais ardida de todos que ali estavam.

Indo pro aeroporto levei mais uma garrafa de 1,5 L e tomei tudo no caminho. Sede eterna... Foi uma volta lenta, saímos as 16 e chegamos as 23:30 em Floripa.

Eu sempre imaginava como era viajar numa segunda feira pós ironman. Agora já sei ;-D.

Agradecimentos

Como sempre, à Daiane que tem a paciência de buda com meus treinos, e aos pequenos por entenderem e apoiarem. Muito obrigado meus amores.

À Dígitro, Cicles Hoffman, Éder Quiropraxia e Monteiro Fisioterapia esportiva, muito obrigado pelo apoio e confiança ! Ao mestre Roberto Lemos, que conseguiu me botar a prumo pro mundial depois de 3 semanas de lombar inútil e me preparou pra um iron em 7 semanas depois de 15 dias de férias, obrigado novamente.

À turma dos retardadostri, ironmind, penalama, treinar com vcs faz a diferença. A todos os amigos encontrados por lá, especialmente ao Danton pela parceria: a prova não é só a prova, e vcs fazem parte disso !

E dessa vez muito obrigado à família Pina de Fortaleza. Vocês foram ultra sensacionais e fizeram eu me sentir tão em casa quanto em Floripa.

Dados técnicos

Tentei comer 1800 calorias no pedal. Acho que consegui, pois foram 10 gels, 10 medidas de VO2 na garrafa, duas mariolas e alguns gatorades.

Nadei de speedsuit da aquasphere emprestado do Rodolfo. Bike P2, com garmin 520 e roupa da 3T de mangas. Corrida com o Go run ride 4. Nesta etapa foram 4 gels e muita coca cola.

As parciais estão aqui, porém a corrida está truncada por falta de bateria :-).

Resultados: 47 geral, 8 categoria, 10h19min.

Fotos

Asfalto perfeito e visual espetacular

Almoço na praia do Futuro


Transição bem menor que floripa. 800 atletas. ZERO vácuo.

Gosto das bandeiras

O número parece que veio de uma guerra. E veio mesmo






5:40 da madrugada e todo mundo doido kkkkk

Bem mais fácil transição sem neoprene

O pedal mais cascudo até então

Cansou, ardeu, doeu, queimou, mas valeu a pena. Sempre vale.

sei lá pra que essa cara kkkk