quinta-feira, 28 de maio de 2015

É a jornada !

Foto do Saul, jurerê ao amanhecer
Então é isso, mais um Ironman batendo à porta. Estou muito feliz por tudo até aqui, mais uma vez. E como sempre, a jornada é o mais importante. Porque não tem como fazer tudo isso sem querer muito. Não há como.

A gente fantasia muito sobre o dia da prova, as pessoas se impressionam com as distâncias e a duração, sobre como é difícil. Mas na verdade o difícil mesmo são os treinos, que vão construindo o castelo um tijolinho por vez. E esse castelo quem define a altura somos nós. São os treinos que tem que ser desfrutados. É lá que evoluímos (embora às vezes a evolução seja escondida pela fadiga). E é lá que nos divertimos muito. É o caminho, não é a chegada.

O que me leva a história da escalada do Mont Blanc que fizemos em 2013. Uma das montanhas mais importantes que já escalei, e ficamos lá em cima por míseros 5 minutos. Se aquilo fosse a motivação toda, não teria sentido. Mas a viagem de duas semanas com os amigos, perambulando pelas montanhas dos Alpes, treinando, assistindo espetáculos um atrás do outro, passando frio, cansaço e nos divertindo, isso sim era o objetivo, que apenas foi coroado pelo cume. Que era importante mas não o mais importante.

Como disse o Roberto Lemos na palestra de preleção da prova desse ano: a força mental a gente constrói durante os treinos. Lá quando não tem ninguém pra aplaudir, à noite, com chuva, cachorro correndo atrás, motorista buzinando, ônibus jogando água em cima, derretendo de calor no sol, e atrasado sempre pro compromisso que vem depois do treino.

Se é assim, apesar de o dia da prova de ser importante e onde tudo tem que sair perfeito, a jornada é o mais relevante. É onde aprendemos absurdamente sobre nós mesmos e onde exercitamos a vontade.

O mais difícil nós já fizemos, que é alinhar na largada amanhã. Chegar não é o mais difícil, largar é. E isso todos que estiverem lá já terão conseguido. Porque não faltam motivos pra desistir de chegar até ali, tem que querer e é muito.

Eu não sou muito dado a ataques de auto piedade, mas houve um treino em específico nesses cinco meses em que pensei seriamente no porque estava fazendo aquilo. Uma segunda feira a noite, com chuva e vento sul, depois de um fim de semana de treinos muito longos. Um intervalado de 4x4 km bem ardido. Me abrigava num ponto de ônibus durante os dois minutos de descanso, mais pra fugir do vento, quando um ônibus veio e jogou vários baldes d'água suja em cima de mim, que estando sentado, fui completamente lavado na meleca.

Pra espantar o pensamento idiota foi só pensar que fui eu que pedi aquilo. Eu que quis. Foi o suficiente pensar que o objetivo valia a pena. E pensei que não queria estar em outro lugar. Porque eu estava ali treinando, tinha condições, saúde e disposição.

É isso, confiem no que vocês já fizeram. Façam o seu melhor no próximo domingo, nada a menos que isso interessa. Boa prova e boa sorte !!!

Nos vemos às 7:00 no mar de jurerê desse domingo 31 de maio.

domingo, 3 de maio de 2015

A ilusão da velocidade média

É interessante como números enganam. Às vezes a gente vê um treino mais lento e acha que foi ruim, ou num mais rápido já vai se emocionando. Estando há pouco mais de um mês com medidor de potência, já consegui começar a ver algumas realidades.

A primeira é que o brinquedo é aquele amigo sincero, que fala na cara que você tá fedendo ou qualquer coisa do tipo. Fiz apenas três longos com ele, e o primeiro até agora foi o melhor no quesito de eficácia. Só que foi o mais lento, e de 'apenas' 150 km. Mas foi de serra, numa altitude de 1000 m.

Entende ? A média não significa nada no treino. Por outro lado a potência não é o objetivo na prova. Não é campeonato de quem gera mais potência e sim de quem chega mais rápido. A grande questão é usar a ferramenta como um aliado, algo para nos dar mais um parâmetro (um muito objetivo), mas que precisa ser usado em conjunto com os demais.

E então a ilusão do título vem do treino de hoje. Um percurso todinho na BR 101 norte, pista boa e majoritariamente plana. Uma média incrível, mas um treino aparentemente normal fisiologicamente falando. Não quero com isso dizer que foi ruim ou comum, mas foi dentro dos parâmetros esperados. Seria muito fácil me 'emocionar' com esse treino, assim como seria muito fácil me emocionar na prova (sempre acontece). Até lá pelo km 130-150, porque depois tudo sempre é difícil. Mas o medidor está lá te mostrando a verdade nua e crua.

Hoje tínhamos 180 km e desde quinta eu monitorava a previsão. Sexta vi que ia ficar seco mas com vento e combinei com o Manente, decidimos ir pro norte. Sem vontade de pegar o tufão de cara ao fim do treino como há duas semanas atrás na BR sul hehehe.

Saí aquecendo e antes dos 10 km deixei o Manente ir junto com o Quint e Sando, que fariam 100 km. O Manente, 200. E eu e o Charles 180. Àquela hora era muito fácil seguir pedalando a 220-230 Watts, só que agora eu sei o que é isso e como a dívida vem depois, pior que juros do rotativo do cartão de crédito.

Mesmo assim como o vento estava fraco, deliberadamente dei uma apertada, mantendo algo pouco acima dos 75 % (máximo recomendado para faixa de endurance). Sabia que o vento não viraria e a previsão era de aumentar.

E deu certo, fiz o retorno em Itajaí com 80 km e voltei com vento em popa. Só que andar rápido mesmo com vento a favor exige potência, então fiquei uns 20 Watts abaixo do que na ida, para fechar numa média razoável.

Só que a coisa pegou. Com 140 km mais ou menos bateu uma dor de cabeça, uma canseira e tive que retornar 10 km contra o vento pra fechar a distância. Que coisa fantástica estava aquele vento, fiz um mini contra relógio dessa distância pra me livrar logo daquilo e aí do 150 em diante foi ardido, não tinha mais muita coisa nas pernas, as partes incomodavam (fui com a bermuda de prova, sem nada de forro) mas ainda conseguia subir a potência legal nas subidas.

Terminei o treino inteiro e inebriado mas logo vi o IF e tudo voltou normal. Ainda que sensacional, muito bom. Saí pra correr absurdamente fácil, algo apavorante. Segurando o tempo todo e logo acelerava. Fiquei mais confuso ainda sobre o ritmo a usar no Iron.

Pra não esquecer, vou registrar a comilança de hoje para uso das gerações futuras:

Café da manhã: 1 copo de nescau desnatado, duas binnaguinhas atoladas de geleia, um naco grande de queijo, castanhas do pará e uns pedaços de batata doce. Uma xícara de café.

Treino: 3 gel exceed, 1 GU Roctane. Três medidas de GU Enduro na garrafa e três bisnaguinhas com 5 azeitonas e azeite de oliva cada. Uma lata de coca cola e duas paçoquinhas. Uns 2,5 L de água. Depois do pedal, uma caixinha de água de coco e água na corrida. Umas 70-90 mg de cafeína (35 no GU, umas 35 na água e mais a coca cola)

Ok, era isso. Foco nos números. Em todos e principalmente na percepção. Se está forte é porque está forte, se está fácil ainda assim pode estar forte, e se estiver forte você vai pagar lá na frente. Foco !

Cambada de louco, não tem o que fazer às 6 da manhã de domingo não ??