terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Treinos, medir ou sentir ?

Está rolando uma discussão interessante na blogosfera a respeito da utilização de gadgets no treinamento esportivo, especificamente no triathlon. A discussão se resume de forma muito superficial ao seguinte: usar equipamentos de medição (monitores cardíacos, de cadência, velocímetros, medidores de potência) e ter feedback instantâneo e frio sobre o rendimento, ou confiar na percepção de esforço e levar os treinos baseados na experiência/sensação do momento.

Na minha visão, não há certo ou errado. A discussão será interminável, com argumentos válidos e muito interessantes como tem sido, de ambas as correntes. Atletas de alto nível treinam sem instrumentos (Macca, Crissie e os "antigos" também :-) e outros de nível tão alto quanto treinam baseando-se em números.

Na minha opinião a virtude está no equilíbrio (quem disse isso mesmo ??). Tudo depende de como o atleta se adapta às ferramentas. E no final das contas, a percepção de esforço sempre é utilizada. Ou alguém que deveria correr num pace X vai se matar se não estiver se sentido bem no determinado treino ou prova e simplesmente não estiver "rendendo" ? O mais provável é estar se sentido bem demais e usar o instrumento como um balizador, uma ideia macro de onde se pode ir, baseado na experiência dos treinos anteriores.

Minha experiência: meu tempo é curto e preciso aproveitar os treinos o melhor possível, no junk miles. No triathlon especificamente, que é um esporte muito intenso e que demanda muito tempo de treino, isso é ainda mais importante. Ou seja, se for pra treinar tem que ser pra ter resultado. Isso, claro, não impede passeios ciclísticos, corridas contemplativas ou natação solta, que são necessárias e salutares, mas tem uma diferença entre isso e treino produtivo (fisiologicamente falando, mentalmente talvez os últimos sejam até melhores ;-).

Então, tento usar os números da melhor forma possível, sempre relacionando os indicadores à percepção de esforço, sem é claro transformar um longo num tiro ou um intervalado num trote. Por exemplo, por muito tempo eu olhava um treino de corrida em 'zona 2' como muito leve, e várias vezes ia até sem relógio. Ou usava o GPS sem o monitor cardíaco. Quando uso os GPS com frequencímetro é que é possível ver o rendimento (pace) para um dado esforço cardíaco (FC) e então correlacionar as coisas com o ambiente (Alta umidade ? Calor ? Ventando horrores ? De estômago cheio ? Cansaço acumulado ?) e aí sim tirar conclusões, dosar o esforço de acordo com o objetivo do treino.

Exemplo de hoje: 10 km na zona 2 depois da prova de ontem (breve post). Coloquei o monitor e fui. Bem no meio da zona 2, que atualmente dá uns 142 bpm, o pace era de 4:45/km. Fiz o treino todo bem constante, então essa é uma boa métrica para esta condição: bem condicionado mas pós uma prova intensa, temperatura boa e sem muita umidade ou vento. E olha que legal, semana passada um treino igual (mas não depois de uma prova) sem o monitor gerou os mesmos 10 k num pace médio muito pior, baseado só na percepção. Poderia ter sido o contrário, poderia ter saído um pace excelente e mais forçado do que o desejado. Em resumo: usar (se possível, claro) os gadgets é como ter instrumentos no painel do carro. Mesmo com o básico indicado ali, você ainda usa a percepção, calcula mentalmente a velocidade das árvores passando, a distância dos outros carros, junta tudo e processa a informação disponível.

Esse falatório todo é pra dizer o seguinte: se for pra usar um monitor de qualquer coisa, use a informação que ele gera, não apenas olhe pro número e diga 'que legal, olha só a fc/velocidade/cadência/potência', e associe isto à sua percepção de esforço e sensação durante o treino. É a minha opinião pessoal e individualizada, emitida de forma voluntária e sem garantias de qualquer tipo. E não, não sei se prefiro comprar um medidor de potência ou uma mountainbike nova. Espero ter complicado mais um pouco a discussão.

Um comentário:

  1. Fala Rafael, blz?
    Cara, eu sou da escola da percepção do esforço.
    Basicamente, o Ironguides divide a percepção em 5 escalas.
    Os treinos são feitos de acordo com essa escala e misturando-os.
    Vc tem treinos all-out e treinos leves dentro do mesmo dia. Treinos de força e por aí vai.
    ABS !!!

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