segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Em busca da cachoeira do Canoas

O rio Canoas nasce na Serra Geral e corre para o oeste passando pelo Campo dos Padres, e quando encontra o rio Pelotas forma o rio Uruguai. É portanto um rio importante. E tem também uma cachoeira importante, que de tão escondida já deu pano-pra-manga para algumas incursões pelo alto dos campos e pelo cânion formado pelo próprio, na busca pela grande queda dágua.

Em 16 de agosto resolvemos perambular por Urubici em busca da famosa cachoeira oculta. Saímos de Floripa após uma preparação relâmpago e às 5 da manhã estávamos na estrada rumo à serra. Uma chuvinha fina em rancho queimado e logo chegamos na cidade, antes das lojas de ferragens abrirem. Não precisávamos de ferradura, mas sim de benzina ou tinner para o fogareiro MSR, senão teríamos que comer polenta crua com pão. Conseguimos uma lata de solvente de tinta e então tocamos para a casa dos sogros do Adriano, onde pegamos também o Duílio para nos levar até a base da caminhada, vinte e poucos kilômetros estrada acima rumo à serra do corvo branco.

Numa bifurcação evitamos a serra e seguimos para o vale do canoas, até onde a caminhonete ia. Um rio mais largo impediu a passagem e o Duílio voltou mais cedo com o carro do Anastácio, e nós iniciamos a pernada cinco km em linha reta mais cedo também. O visual do rio alí é magnífico, uns paredões de pedra e o rio largo e raso com montes de pedras e mata nativa por todo lado.

Mesmo com a vontade que dava de acampar por alí mesmo, começamos a andar na estradinha que margeava o rio. Por uns kms era plano e tranquilo, aí chegou nuns caracóis e ganhamos altura rápido, até chegar na bifurcação para o espraiado à direita. Nós fomos pela esquerda em direção ao alto dos campos dos padres. O William fez um trabalho de mestre no google earth e dessa vez levamos o GPS certo. Fomos botando pontos à medida que andávamos e tudo ia muito bem, com uma garoa aqui, uma parada para descanso ali e uns peões a nos oferecer conhaque, pois iria esfriar.

Entramos nuns trechos mais fechados e menos parecidos restos arqueológicos de estrada, não sei como o William conseguiu ver aquilo no google. E os pontos iam batendo perfeitamente. A chuva engrossou e o ponto 12 marcava uma 'casa'. Seguimos ansiosos por um teto para esperar a água acabar e fazer um lanche, já era meio-dia. A casa estava 80 % desabada mas tinha um pedaço do tipo balança-mas-não-cai que serviu. Atacamos uns sandubas feitos na hora e logo o sol voltou, para decepção do Anastácio que precisava recuperar a musculatura afetada pelo caratê.

Continuamos serra acima, visual limpando, bom sinal. Aí num descuido eu, o navegador, não vi uma entrada minuscula e nada óbvia e continuei, mas o próximo ponto foi ficando à direita, e logo estávamos nos afastando dele. Pára, anda, pensa, volta, segue, aí o Adriano se mandou e sumiu. Berrou algo, como é típico, e não voltou. Fui atrás, reunimos e logo saímos num campo. O ponto 19 estava lá à direita e mandei o GPS indicar o 22, que era o último, a casa onde acamparíamos ao lado. Deu 2,5 Km ao sul da nossa posição. O Adriano se mandou pro leste e logo achou a tal casa. Depois descobri o que houve, marquei o ponto 22 mas não editei as coordenadas, ficou com a casa do almoço marcada.

Chegamos no ponto de acampamento, uma casa rústica muito legal num ponto privilegiado, agora com sol e céu azul, um ventinho moderado e expectativa de frio. Mas o rio canoas estava laaaá embaixo, aí deixamos as mochilas e fomos rapidinho tentar achar a cachoeira. Demoramos a chegar no rio e vimos que tinha uma pequena queda, uns 10, 15 metros e aí o rio ia para o abismo. Só que não tínhamos visão da queda principal. Tentamos chegar, descemos no meio do mato quase até a borda e nada. O Anastácio e o William voltaram e eu e o Adriano, o fissurado, ficamos tentando achar um local para ver a cachoeira, até vislumbrarmos um pasto no outro lado do cânion. Pensamos em cruzar o rio antes da primeira queda, varar o mato acima e chegar lá. Mas amanhã, agora era voltar rápido antes de escurecer e montar o acampamento.

Pegamos toda a água que pudemos lá embaixo no rio e montamos as barracas. Descobrimos uma mangueira na casa que ajudou um pouco e preparamos o jantar. Frio médio, logo entrou um ventinho e a lua nasceu. Comida da metade, pois havia um eclipse de 80 % naquele dia. Céticos supunham ser uma lua crescente em fast-forward, pois o disco ia aumentando a cada instante. Um céu absolutamente estrelado só não era mais impressionante devido ao farol lunar absurdo que fazia sobra forte até dentro das barracas.

Durante a noite um pé-de-vento se abateu sobre nós, as barracas sacudiram mas aguentaram e no dia seguinte céu claro em 360 graus. Fomos tarde de volta ao rio, após farto desjejum. Chegamos no rio, tentamos atravessar e nada. Aí fomos investigar uns traços de trilha e decidimos correr um pouco pra ver se achávamos a cachoeira. O Anastácio e o William voltaram e fui com o Adriano. Na hora da decisão, ir e chegar mais tarde na cidade ou não ir e ficar com aquilo encasquetado na cabeça, o Adriano me fez decidir: "Já estamos aqui. Imagina o trabalho e quando poderemos voltar, vamos insistir mais um pouco". Meio indiferente que estava me decidi com aquilo. Afinal tentar e não achar era aceitável, mas não tentar seria eternamente irritante. Assim lá fui com o fissurado pela cachoeira correndo campos acima e abaixo.

Depois de uns 15 minutos esbaforidos chegamos no pasto que vimos no dia anterior, tendo cruzado o rio mais acima num ponto tranquilo. Lá estava a dita-cuja. O Adriano fez um berreiro que deve ter chamado a atenção lá de Anitápolis ou Grão-Pará. Mas era bonita mesmo a cachoeira, com uma queda livre gigante e um belo lago embaixo, para depois seguir no cânion até as bandas de Urubici. Muito show, objetivo alcançado, agora era voltar rápido até o acampamento e pernar muito até embaixo de novo.

Dessa vez andamos debaixo de sol forte e sempre com pouca água. Descobrimos a errada da subida, no fim a diferênça era mínima, construímos uns totens e tentamos descer o mais rápido possível. Nas descidas fortes os pés pediam socorro, a bota velha e pesada não dava mais conta de amortecer nada e os dedinhos aguentavam todo o peso. Fui indo com o Adriano, ambos desesperados por chegar e conseguir tirar aquelas coisas dos pés.

Chegamos no ponto de encontro às 14:55 e fui direto para o rio, mas a gélida água me fez só lavar as partes mais lamacentas e o rosto. Logo chegaram o Anastácio e William e então o Duílio para o resgate. O Anastácio foi direto tomar banho e o William ficou no córrego que cruzava a estrada, lavando e bebendo água. Aí o Duílio falou: "Tão tomando água nessa coisa podre aí ?! Tem vaca morta por aqui". E deu dois passos e apontou: "Tá aqui, uma vaca morta", cinco metros acima de onde o William bebia sedentamente.

O Duílio nos trouxe também um presente: seis cervejas geladas e um guaraná para o Adriano. Secamos todas, empacotamos as tralhas na caçamba e voltamos para a casa da Sibeli. Lá o sogro do Adriano contou para o William que uma cachaça boa que tinha era remédio perfeito para vermes adquiridos de vaca morta. Aí o desesperado foi lá dentro e entornou um copo de pinga. Voltou com o esofago pegando fogo e aprumamos para Florianópolis, às 16:45 da tarde.

Um pouco de trânsito na serra e um muito no trevo da 101 para chegar em casa. Trekking puxado mas bem aproveitado, muito eficiente temporalmente falando, mas pesado fisicamente, foram 6h30 de caminhada cada dia, com pouca pausa e muito peso. Muito bom, visuais fantásticos daquelas serras infinitas. Boa compania dos amigos e objetivo atingido, tudo dez.

2 comentários:

  1. E eu não fui mais uma vez!!!!! aaaaaah!

    Mas me aventurei na leitura, com direito a risadas, é lógico..

    Pinga pra curar vermes de vaca morta no rio! Essa é novissima!

    Muito dez! Parabéns a todos!

    Có.

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  2. Excelente relato Rafael.
    Aquela região realmente é muito bonita... vou pra lá no fim de semana...
    Abraço,
    Billo

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