quarta-feira, 26 de março de 2014

Meia Maratona de Florianópolis 2014 - entorta mas não quebra !

Mais uma meia de Floripa. Sem Iron à vista, nada de pedal exagerado no sábado, seriam apenas 90 km ;-). Só que não rolou, tive compromissos e só a tarde parei. Às 16 horas subi na bike e pedalei 1h30 no rolo, só pra aquecer e não ir de consciência pesada por ter ido descansado.

Essa prova foi muito parecida com a do ano anterior. Só que foi diferente. A questão é que não estava com volume de treinos como no Iron, mas sim com uma base boa de corrida. E isso funciona.

Fechando a prova !
Larguei totalmente errado. Estava lá no fundo ainda conversando quando a massa começou a se mover pra frente e aí vi que já tinha largado. Uma multidão a vista e comecei a correr forte pelos cantos, costurando e pedindo licença. Logo vi que não fui o único, passou o Manente voando lá por fora com aquela passada inconfundível e desapareceu de vista.

Perto da ponte comecei a correr mais livre e aí veio o primeiro elevado, o retorno e a subidinha rumo ao túnel. Depois foi entrar em velocidade de cruzeiro e aproveitar a brisa sul. Fui até o km 7 sem muita preocupação com ritmo, aquecendo. Ali estava perto de 4:05/km e achei que seria muito difícil baixar do ano passado, mas o intervalado da quarta me dizia que era possível. Aí comecei a apertar o passo e no km 13 passei um cara que veio junto. No retorno no km 14 o cara me passou e grudei nele e seguimos com outro poucos metros à frente. Incrivelmente um ritmo idêntico involuntário, ninguém se conhecia e ainda assim todo mundo se marcando e revezando a puxada.

Em um momento eu achei que quebraria. "Pô, não estou correndo a minha prova, esse ritmo está sendo ditado pelos caras aí", mas logo eu ia lá e puxava. E mesmo achando que poderia quebrar, segui firme e esgoelado. Se quebrasse azar, algumas meias eu já tinha concluído :-). No koxixos forcei um pouco e abri dos caras e comecei a embolar com o pessoal dos 10 km que largou depois, de forma que não dava pra saber quem estava na frente. Segui forçando e fechei o último km a 3:46, o que mostra que o medidor de gasolina está funcionando direito. Falando nisso dei uma viajada: seria legal se o garmin medisse o glicogênio no fígado e músculos, já pensou ? Veríamos uma bateriazinha esvaziando durante a prova hehehe.

A arte dessas corridas é conseguir gastar tudo e não deixar faltar. Sobrou pouca coisa.

E como eu disse lá no ano passado, correr desse jeito 'competindo' mesmo que não seja com ninguém é bem diferente de correr com o relógio. O ritmo é totalmente variado, claro que não seria igual ao tag hauer do Milton, mas dá pra ver que o jogo de puxar e seguir, perseguir e tentar abrir faz o pace variar bastante. E não tem jeito, com alguém do lado você sempre corre mais. Isso na minha opinião explica o recorde da maratona do havaí até hoje do Mark Allen, quando ele correu as oito horas e pouco do lado do Dave Scott.

Buenas, foi assim então, 1h24min03seg, 5 segundos mais rápido que no passado, o mesmo 5º na categoria dentre cento e poucos, só que dessa vez 35º geral ao invés de 61º pra mil e poucos atletas da meia. Gostei.

domingo, 16 de março de 2014

Morros de Palmas

A semana foi boa, tão boa que há tempos não registrava uma 100 % de treinos cumpridos. O final de semana anterior foi forte. Não longo, forte. Diferente. Um longo de corrida de 30 km cansa, mas o ritmo não é forte. Correr dois dias seguidos bem perto do VO2Máx causa suas sequelas e o treino de sexta, 5 dias depois, foi um longo dos mais podres. Fica um tipo de cansaço orgânico de longa duração.

Sábado finalmente de uma vez por todas voltei a nadar no mar. Não sei por quanto tempo, mas como é bom cair na água logo cedo. 2 km com uns tiros na bóia de 200 m e depois um pedal girado de 46 km. A tarde fiquei cansado e dormi por uma hora e meia quando a Daiane saiu pra cortar o cabelo.

Hoje domingão, um sol de rachar às oito da manhã. Fomos pra casa de uma amiga em Palmas e chegando lá às nove horas consegui sair às 10 pra pedalar o longo. Fiquei na dúvida entre ir de carro até algum lugar, só que faz tempo que não ia lá e não tinha certeza onde deixar, além disso dali até camboriú e volta não fecha 90 km, e tinha a corridinha de transição. Resolvi sair de bike.

Tínhamos ido de carro pelo acesso sul, da armação da piedade. Morro pra tudo quanto é lado, então saí pedalando para a BR 101 pelo acesso norte via governador celso ramos na esperança da coisa ser mais plana. E os morros estavam lá, menos piores mas ardidos. Já esquentou na ida, não quis pensei no que seria a volta. E teve um detalhe de imbecilidade: esqueci as garrafas com suplementação (glicodry) e água. Só ficaram as 4 bananas na mochila.

Parei no primeiro posto que vi e peguei duas garrafas de meio litro, taquei uma no aerodrink e tomei um pouco da outra e guardei no bolso da camisa. Também comprei 4 paçocas e isso com as 4 bananas deram conta do pedal. Foram mais duas paradas, uma no retorno em Itapema e outra antes dos morros na volta, num caldo de cana. Fiz as contas e engoli 3 litros de líquidos durante as 3h20min de pedal. Subir o último morro pra palmas foi de lascar, por aquele lado parece a barra da lagoa, eram 13:30 e o suor começou a corroer meu olho. Depois de chegar, perguntei bem baixinho pra Daiane se poderia correr 20 minutinhos, já com medo de tomar um esporro. Ela liberou, pois o prato ainda estava no forno e só estavam nos aperitivos. Foi difícil ver aquele camarão e espumante e comer uma banana e sair correndo com um gatorade quente nas mãos.

Abaixo as fotos que marcaram o final de semana. Palmas merece palmas mesmo, tinha esquecido como essa praia é bonita. E o pequeno ali, me ensinando a correr às 19 horas com a lua gigante nascendo laranja no mar... sem palavras...

Ah, quero ver alguém conseguir fazer aquelas médias na bike, parciais até a 101 e depois até Itapema e retorno. Presta atenção e me diz... como é que pode isso, só dando lap sem olhar hahaha.

Mirante. Estava quase cego de suor nesse ponto, só parei pra enxugar os olhos, aí tirei uma foto

Olha só a técnica !

Últimos raios de sol e a lua bem no meio deles...

quarta-feira, 12 de março de 2014

Calendário 2014, eclético para dizer o mínimo

Pois olha só no que está se configurando este ano... Não estava lá muito organizado, mas ontem vi um post no blog do Dimitri e me inspirei, vejam lá que tem muita coisa interessante.

Vamos às provas, que não são poucas e são variadas. As datas em sublinhado são estimativas baseadas no ano passado, portanto sujeitas a intempéries e colisões. O MD Lagoa talvez tenha uma versão individual inaugural ou eu talvez resolva fazer em dupla mas dobrando. Tudo a confirmar, claro. Diversão garantida. 

E aí, me digam o que acharam e me ajudem a definir melhor isso ;-).


domingo, 9 de março de 2014

O primeiro primeiro geral e o short triathlon de Garopaba


Primeiro primeiro geral uhuuu
Finalzinho de semana agitado viu... Um dueto de provas e uma tentativa de auto-aniquilação que não deu certo. Brincadeiras a parte, deu foi muito certo, diversão garantida e sofrimento na dose certa.

Ontem corri a prova da pedra branca, um circuito de 3, 6 e 12 km organizado pela cidade Pedra Branca que já está na terceira edição. Fui na prova de 6 km pois hoje teria o short de Garopaba e achei que não conseguiria brincar nos 12 km.

E realmente não consigo. Alinhei pra largada bem na frente e quando saímos em menos de 500 metros contei 9 atletas à frente. Não fazia ideia das distâncias que cada um correria e achei legal estar entre os top 10, de modo que fui me esgoleando na primeira subidinha. Aí teve a descida em curva e peguei o nono, sendo ultrapassado por um foguete que só pode ter saído atrasado. Um alucinado disparou muito, só poderia estar nos 3 km (e estava, fechou em 8 min baixo). Aí o Diogo Trindade ficou láaa longe e um grupo se formou. Passei mais dois caras no começo da segunda e última volta, afoguei no morrinho e reuni os restos para chegar. Prova curta mata o sujeito, é coração na boca o tempo todo, dor no lado, em tudo quanto é lado. Mas tem o prazer da exaustão.

Medalha medalha medalha !
Invasão !
Ao chegar o Marco gritou que o cara na frente era o terceiro, imaginei que dos 6 km e forcei pra pegar e o cara virou pra outra volta. Entrei no pórtico achando que era o segundo colocado.

Aí fui reunir com a galera toda que foi correr e encontrar a Daiane na sua segunda corrida. Frutas e muita água, largou as nove horas e apareceu um calor que não foi convidado.

Depois que vi que fui primeiro, na verdade naquela hora estava em quarto nos 12 km e os três da frente gentilmente cederam a vez nos 6 km e me deixaram ganhar a primeira geral da história deste vivente ! Muito legal, ainda mais de surpresa.

E aí pra fechar com chave de ouro, corri a segunda etapa do catarinense de triathlon sprint. Outra prova rápida, daquelas que não dá tempo de pensar e já acabou, mas que cobra o seu preço. Um dia sensacional, mar flat, quente (pra meu desespero, sem neoprene) e sem corrente. Pedal no circuito trancado de sempre, 6 voltas com 3 retornos em cada uma, calcula. Corrida explosiva.

Peguei a bike ontem a noite pra por no carro, com as rodas de rolo desde a subida da rio do rastro. Além de não estar nadando só estou pedalando na rua na MTB, e esqueci de por as rodas de prova. Então a natação que já seria ruim (6 treinos em 2014) somou-se com a bike e quase morri até a primeira volta da corrida.

Saí da água com um tempo alto, mas a distância também parecia maior. Fiz uma transição lenta, o calcanhar da sapatilha entrou dobrado e tive que desafivelar e descalçar, só o suficiente pra perder um pelote bom (vácuo liberado). Fui me esforçando ao máximo e andando ao mínimo na bike, não conseguia acompanhar ninguém, coisa horrível. Aí saí pra correr meio travado mas em 1 km a coisa soltou e a corrida acabou saindo legal, muito legal por sinal. Acabei com 1h13min05seg e 4º na categoria, consegui o objetivo que era dar trabalho pros adversários e mais um pódio hehehe.

O resumo é que a prova foi show, um dia espetacular daqueles e encontrar a galera toda não tem preço. E de novo, prova curta é de arrebentar o cidadão, mas também é muito bom andar no limite sem conseguir nem tomar água pra não atrapalhar a respiração hehehe.

Ironmind depois da gripe, quer dizer, da prova kkkkk

A próxima é a meia maratona de Floripa, depois o triathlon longo da fetrisc, aí um 10 km e a Indomit 100 km, depois o marathon márcio may de MTB e o Desafrio. Acho que é mais ou menos isso, vamos ver.

quinta-feira, 6 de março de 2014

El Cruce Colúmbia 2014

O fotógrafo é bom !
El Cruce, Cruce Colúmbia ou Cruce de Los Andes. Vários nomes ao longo do tempo para uma prova mutante que nunca repete o trajeto, exceto por sempre ser nos Andes meridionais. Aqui está o relato de uma corrida única. Uma prova que mistura montanha e corrida de caráter expedicionário e competitivo ao mesmo tempo. Três dias onde se vive e se respira corrida, em meio a 2800 atletas de trinta países, todos insanos, imundos, destruídos, empolgados, felizes, cansados, esfomeados e extasiados. Estranhamente, eu poderia me acostumar a isso :-).

O percurso é sempre diferente totalizando cerca de 100 km em três dias. 'Cerca de' é a medida exata, como veremos. Uma organização impressionante, com logística distribuída geograficamente, mas que não evita alguns erros primários como ficará claro em breve. Erros que não tiram em nada o brilho de uma prova como essa, que tem a capacidade de fazer com que todos façam o seu melhor, do campeão da elite ao último colocado. Aliás, é uma prova eclética. Divide-se basicamente em três tipos de público: A Elite, aqueles seres extraterrestres que nos espantam e o resto, dividido em dois sub grupos: os mais competitivos e treinados e os mais contemplativos cujo desafio é completar a distância. E tem espaço para todos.

Relembrei muita coisa escrevendo esse relato. Demorou mas saiu, espero que gostem e o mais importante, que seja útil e estimule outras pessoas a se jogarem nessa experiência única que é correr El Cruce.

Indo

Buenas, começamos o Cruce no aeroporto de Floripa. Saímos daqui eu e o Anastácio e já fomos encontrando o povo indo pra lá, o Gilliard, a Izabel e mais uma galera. Me despedi da Daiane e do Arthur e embarcamos. Escala em SP, Buenos Aires e então 12 horas depois chegamos em Bariloche. Um frio de rachar pra quem estava vindo de três semanas acima de 33 graus, e na manhã seguinte, os 7 graus com vento patagônico nos davam as boas vindas num céu azul. O taxista comentou que era o dia de verão mais frio em trocentos anos, os cumes ao redor do lago Nahuel Huapi estavam cobertos de neve, ao contrário do que veríamos na volta.

Qualquer semelhança com a North Face e a UTMB é mera coincidência :-)
Bariloche
Anastácio fingindo que não estava frio
Bariloche
A prova foi anunciada com início em Puerto Varas no Chile e Chegada em Villa Angostura na Argentina. Como já passei por aquela estúpida fronteira por terra, desenhei a logística perfeita: iríamos por terra para Varas, passando as duas infames alfândegas na ida e na volta estaríamos já 'imigrados', restando ir pra cidade beber e comemorar. Só que a coisa começou enrolada, e pra resumir, levamos 10 horas de ônibus com quatro parada, um descarregamento completo de bagagem e duas aduanas para percorrer cerca de 300 km entre as duas cidades. Coisa linda de se ver. Burocracia inacreditável.

Toda a bagagem do bus pra fora pro cachorro cheirar

La Patagônia

Em Puerto Varas o ônibus nos deixou direto no hotel da prova, pegamos o kit e fomos pro nosso hotel deixar as tralhas e procurar um lugar pra jantar, o dia tinha sido a base de maçãs, amendoin, água e uma empanada. Falando em kit, é disparado o melhor que já vi, vem com uma primeira pele de manga comprida, um polartec 200, um buff, camiseta de prova, um par de meias e um par de caneleira de compressão, chip de cronometragem, bandeira com nome e número, uma caneca térmica, prato de madeira pra churrasco e uma manta de sobrevivência, se não esqueci de algo. Praticamente tudo usamos na prova.

Na quinta-feira dia 6 choveu canivete e ventou o dia todo. A prova tem duas categorias, solo e duplas. As duplas não revezam, tem que correr juntas, e largam um dia antes da solo. Isso é feito para facilitar a logística dos acampamentos e diminuir a população nas trilhas, mas faz com que a organização na verdade faça seis provas diferentes em 4 dias. Um desafio e tanto. Então enquanto descansávamos na cidade, que é bem bacana, na orla do lago Llanquihue, com excelentes hotéis, lojas de equipamentos, agências de turismo e vista de vulcões, as duplas encaravam o dia mais chuvoso de todos os Cruces de todos os tempos.

Puerto Varas
Jantar pré-largada, o lago parecia mar
Neste dia também contactamos os amigos que estavam na aventura de correr El Cruce, que sempre começa bem antes da largada. O Marco e o Fábio perderam a conexão em Santiago e trocaram para o solo, a Izabel acabou não recebendo a mala e também teve que correr de solo na última hora. Junto com o Marco veio mais um grupo de atletas encalhados em Santiago, alguns que já iriam no solo e outros em dupla. Todos, sem exceção, encararam a encrenca com positividade e deram um jeito de continuar. Coisa que só atleta de cabeça forte consegue fazer.

Dada a logística da prova, descobri que teríamos que pernoitar no hotel apenas com o material de corrida. Mais nada, todo o restante deveria ser entregue na mochila que seguiria para os acampamentos. Explicando: o Cruce tem 2 acampamentos separados, e esse ano as largadas dos primeiros e segundo dias eram afastadas da cidade e campo 1, respectivamente, de onde seguimos em uma caravana de ônibus até as largadas. Então, na quinta a noite deixamos todo o material num caminhão e fomos pra o congresso técnico vestidos de corredor. No hotel só ficou a mochila de hidratação com tudo que usaríamos na prova. Nem escova de dentes sobreviveu. Dormi vestido para correr.

O congresso foi um show a parte. Muito claro e direto e com uma sequência de vídeos que faria até um sedentário convicto ter vontade de levantar e sair correndo (não que existisse um naquele ambiente...).

A prova

No dia 7 acordei às 5:00, desci para o café e encontrei o xará carioca que conhecemos no dia anterior e então saímos os três pela rua em direção ao centro. O hotel não era bem localizado, ficava 2 km afastado da muvuca, então fomos andando até o lugar de saída dos ônibus, que deveriam começar a sair às 6. Só que às 5:40 já passavam vários, e entramos no primeiro que vimos.

A viagem foi de 1h30 até a margem do Lago de Todos os Santos aos pés do Osorno. Chegamos lá sem chuva, pouco vento e muito frio. Algumas breves aparições das encostas nevadas do Osorno me deixaram mais pilhado do que o normal, e tive que fazer visitas extras ao banheiro químico. Que tinha muita fila. E depois ainda fiquei lá comendo, conversando com todo mundo e fui achar o Anastácio para alinharmos para largar.
Área de largada. Não exatamente da corrida.
Alguma vontade de abrir o tempo
Aí veio a surpresa. Sabíamos que a largada tinha uma faixa de horários, sem qualquer controle, era ir lá, alinhar uma quantidade de gente adequada e largar. Só que o 'adequada' era muito pouco, largavam 10 de cada vez e estávamos no final do corredor de largada. O resultado é que largamos às 9 horas, mais de uma hora e meia depois dos primeiros. Parecia inofensivo, mas não era.

Dia 1

E finalmente largamos ! Um alívio, imaginei os textos do Amyr Klink onde ele dizia que o mais difícil era a preparação para a viagem, partir mesmo que para um enorme desafio era um alívio. Guardadas as devidas proporções, achei parecido. Nunca tive que viajar tanto pra largar numa corrida :-).

Começamos na praia de pedras vulcânicas à beira do lago e em 1 km engarrafou tudo. A vegetação cheia de espinhos ia até a água, e todos enfileiravam para passar debaixo dos galhos, etc. Cheguei a ensaiar ir pela água, que era na altura da coxa, mas desisti por não saber o que estava por vir e pelo frio. Foi um erro, deveria ter enfiado o pé na jaca logo de saída.

Depois de 2 km com pace médio de 9 min/km finalmente a praia abriu e consegui correr direito, para logo em seguida começar a subida do Osorno. Uma pirambeira vulcânica bem empinada. Quando a inclinação pediu saquei os bastões, engatei a reduzida 4x4 e subi tratorando tudo. Não estava ofegante nem com batimento elevado, então subi forte até o o ponto mais alto, onde os staffs mandaram todo mundo por o cortavento. E precisava, um vento gelado com chuva vinha bem de frente por 2 km de um plano no topo.

Na descidona do primeiro dia... acho que não estava calor...
Ali guardei os bastões, comi alguma coisa e segui correndo rápido pra fugir do vento. A Grande Descida veio em seguida. Uma descida impressionante de 10 km contínuos de pouca inclinação onde era possível correr fácil a 4:30-4:50. Encontrei o Piu de Curitiba e seguimos no mesmo ritmo, totalmente conservadores sem forçar nada. Aí está uma coisa única do Cruce: como o percurso muda sempre, não sem tem referência nenhuma de nada. Não dá pra analisar altimetria ou tempos do ano anterior, não dá pra saber o que tem que guardar pro dia seguinte, qual o tempo médio da faixa etária. É ir no instinto e ver oque acontece, tem que confiar.

Ao final dos 22 km havia um posto de apoio, água, gatorade e frutas. Comi alguma coisa, bebi mais ainda e segui rápido, empolgado e achando que fecharia com menos de 5 horas aquele dia, afinal pelo perfil altimétrico a pior parte já tinha ficado para trás. Só que não foi bem assim.

Logo começou um trecho extra punk. Uma trilha bem aberta, um bosque fantástico. E uma lama do outro mundo, preta, pegajosa e profunda. Um pé de cada vez, não consegui correr praticamente nada por vários kms. Depois veio um trecho mais aberto corrível e mais lama. Um carioca passou voando feito um louco morro abaixo, berrando 'brasileirada tem medo de levar tombinho é ?!, impressionante. E aí mais lama e então o momento bizarro do dia. A organização colocou uma corda numa encosta bem inclinada de barro que terminava num rio. Eu desceria aquilo esquiando sentado nos calcanhares, mas tinha a corda. E tinha uma fila. Organizaram a fila, uma pessoa de cada vez. E a fila cresceu, de modo que fique 18 min parado e teve relatos de 2h30 no mesmo lugar para o povo que vinha mais atrás. Só não me ferrei completamente porque subi o Osorno feito um louco e consegui correr relativamente rápido na descida de 10 km. O Anastácio que veio logo em seguida ficou 45 min parado, só para ter uma ideia da encrenca.

Depois disso apertei bem o tênis e saí correndo com lama pela canela, desesperado pra acabar aquilo. Não acelerou nada e consegui usar músculos que não sabia que existia, cada passo a perna arregaçava pra um lado diferente. Mas como não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe, a lama terminou ! Entramos num campo de grama alta e flores fantástico, subimos mais uma encosta e vimos o lago Llanquihue lá embaixo ! E na margem, um monte de pontinhos azuis e um círculo amarelo grande, o acampamento !!!! E era só descida. Muita descida.

Neste percurso e em todos os outros, você vê muito pouco staff nas trilhas. Só mesmo no pontos mais técnicos e em travessias de rios. E mesmo assim, houve zero chance de errar o caminho, é tudo sinalizado perfeitamente. Incrível o trabalho de preparar e marcar tudo aquilo.

Voltando à corrida, a suplementação tinha acabado e só sobraram as castanhas. Andei pra comer, filmei e passaram duas brasileiras correndo, o que me fez guardar as castanhas e me mandar. Despenquei morro abaixo e o garmin virou o km 36. Não, não faltavam só 3 km até o camp, fechei o primeiro dia com 42 km e 6h6min, destruído, aliviado, feliz e impressionado com a estrutura do acampamento, sob sol forte.

No campo fui buscar a mochila e identificar a barraca, levei as tralhas pra lá, espalhei tudo dentro na 'minha metade' e fui pro lago tomar banho e lavar as roupas. É, não tem uma máquina de lavar, chuveiro quente, geladeira nem uma gaveta cheia de roupas limpas. Você vai lá, entra com roupa e tudo no lago congelante, arranca a lama com as mãos e esfrega as coisas até ficar 'limpo', põe pra secar, volta descalço pisando em espinhos e vai tentar arrumar comida.

Fim do dia 1

E tem muita comida. Uma tenda de bebidas com refrigerante, chá, água e cerveja, outra com batidas de frutas com leite e as massas com churrasco. Almocei bem às 15:30 e fui pra barraca. Lá encontrei um invasor. Na verdade eu era o invasor, a barraca foi dada pra duas pessoas, então fui lá ver e a minha estava errada. A organização apontou outra perto e tive que mover todas as tralhas, mas pelo menos ficou próximo a turma de extraviados em Santiago e do Marco e Fábio além de uma turma de Gaspar-SC bem animada.

Churrasco
Aí fui lá procurar o Anastácio e o achei pegando a mochila. Fui pra barraca e logo reunimos a turma toda, um ambiente fantástico que só se vê em montanhas e agora no Cruce. Nada se compara a aquilo em termos de camaradagem e de semelhantes desconhecidos que se encontram. Um povo que corre Iron, escala o Aconcágua, XTerra, corre o Desafrio, Praias e Trilhas e faz Audax. Entrei na fila pra massagem e fiquei conversando com uma alemã de Munique que mora em Buenos Aires. Figura de 60 anos, faz tudo que é prova no mundo, gasta todo o tempo livre e dinheiro nisso e vive feliz da vida.

Neste dia soubemos das encrencas que as duplas passaram no dia anterior. Não dava pra acreditar que estávamos no mesmo lugar, com sol, quente e tudo seco apenas 24 horas depois. Ficaram lá alagados, com frio de rachar e muita gente hipotérmica, muitas dezenas de duplas desistiram.

Dia 2

Uma noite espetacular parecia anunciar um dia equivalente na manhã seguinte, mas às 5:40 o diretor de prova passou rouco pelo acampamento com megafone mandando deixar a mochila nas barracas antes de ir tomar café da manhã. Tinha chovido e o céu estava fechado.

Lá na praça de alimentação ouvimos a notícia de que não largaríamos no trecho 2 oficial. Ao invés disso, ficaríamos ali mesmo para um percurso alternativo. As duplas tiveram sérios problemas e não conseguiram passar no percurso todo devido às chuvas na parte alta (estavam a 2h30 de ônibus mais 30 km de trilhas do nosso acampamento).

O lado bom é que ficaríamos no mesmo acampamento, com lago e estrutura melhor comparado do segundo. O ruim é que o percurso seria cortado para apenas 'cerca de' 20 km. Mas seria 'divertido' e com altimetria. Não gosto de ficar 'devendo' distância em prova nenhuma, imagina nessa.

Os caras realmente se esforçaram e trabalharam feito louco, cuidando de duas provas simultâneas (nosso segundo dia e o terceiro das duplas). Mas erraram feio ao não perver isso. No congresso técnico já haviam divulgado a possibilidade de corte do cume do vulcão no terceiro dia devido à presença de gelo duro na crista do casablanca. Viram a destruição que foi o primeiro dia das duplas. Precisavam ter um circuito alternativo pronto.

Mas foram arrumar um percurso e anunciaram que largaríamos por volta das 13 horas. Aí eu fui comer macarrão lá pelas 11 horas, e no meio tempo ainda fiquei lendo na barraca e cochilando. As 12:45 fui pro pórtico de largada. E então a largada aconteceu quase às 15 horas. Eu já estava pensando que deveria ter forçado mais no dia anterior, e decidindo como fazer ali, pois correr às 15 uma morreba de 20 km para correr novamente na manhã seguinte... como equacionar isso ? Do jeito fácil: resolvi socar a bota e pronto, vai que acontece alguma coisa no dia seguinte também...

Música, livro, comida, saco de dormir. Lembra aclimatação em montanha.
E então ficamos lá confabulando e conversando esse tempo todo, e quando fui no banheiro pela terceira vez (tomei muito gatorade acho) ao sair vi todo o povo já indo embora... O Fábio também ficou pra trás e largamos no meio do bolo, mas por sorte era uma estrada larga no início. Os 20 km viraram 18, com metade subindo e metade descendo, muito legal. Até que arrumaram um circuitinho bacana na correria toda, mas a desinformação atrapalhou. Teve gente que não almoçou pois achou que largaria às 13 e ficou oco até às 15.

Largada do dia 2, esperar nesse sol foi ótimo.
Corri a subida praticamente toda e na descida pra variar fui muito ultrapassado. Incrível como aqueles argentinos despencam ladeira abaixo. Mas o inacreditável mesmo são os líderes. Como era vai e vem, vimos os desgraçados descendo. Não é possível, devem correr a 240 ppm, eles vêm bufando e fazendo força como se estivessem subindo. Não espanta o animal que ganhou ter feito em 1h12 min !!! Eu levei 1h48 porque subi forçando...

Chegada do Anastácio
Parceirão de muitas roubadas, correu como nunca !
Fim de mais um dia, o lago estava menos gelado e até nadei 20 metros depois de lavar as tralhas, que dessa vez não sujaram muito. Só que esqueci de botar pra secar e larguei com tudo molhado no dia seguinte... Esse fim de tarde foi espetacular. Céu totalmente azul e o Osorno aberto, um por do sol laranja e frio, ficamos com a galera toda esticados na grama tomando cerveja e falando besteira, o Anastácio apareceu com um baralho de truco e o povo ficou por ali de vez. Jantei duas vezes e fiquei perto da fogueira conversando com o fotógrafo. Quando ele foi embora, disse que iria para Antillaca, o local do campo 2, o percurso seria o terceiro oficial ! Fui dormir empolgado, ainda que sem nenhuma informação da organização. Perto das 23 horas o diretor de prova já sem voz nenhuma falou algo no sistema de som, basicamente ainda não sabiam se correríamos a cratera do casablanca devido a presença de gelo (estava realmente frio ali a 200 m de altitude, imagina lá em cima).

Um por do sol sensacional... gastei um bom tempo ali...
Dia 3

Buenas, no terceiro dia acordei cedo e fui pro café, aí então fui deixar a mochila no caminhão (dali ela iria pra chegada) e entrei no ônibus que nos levaria até o campo 2 em 2h30 de percurso. Ainda choveu no caminho, em 20 min passamos de céu azul a chuva, mas foi limpando à medida que subimos e quando descemos dos ônibus estava um frio de rachar (ou eram as minhas roupas úmidas) e céu de brigadeiro. Nesse trecho quase que fui em pé no ônibus, parece que três quebraram no dia anterior e tentaram me enfiar sentado no corredor. Sem chance, saí e fiquei na porta do outro esperando.

A largada foi muito estranha. Ao entrar no acampamento uma staff me disse que largaríamos às 10:30. Aí ao me aproximar do pórtico às 10:10 vi que já tinha gente largando. Escaldado de duas largadas no fundo, fui lá pra frente e larguei nas primeiras ondas. Só ali, em cima da faixa é que fui ouvir de outra staff que o percurso seria o original menos a cratera do vulcão. Não parecia ter gelo nenhum, só umas faixas de neve, mas cortaram mesmo assim. Acho que foi também devido ao adiantado da hora, pois o previsto era largar do próprio campo 2 às sete e viemos de latão do 1 e só começamos a largar às 10.

Me perdi do povo e não vi ninguém, larguei sozinho e forte pra caramba. Corri uns 5 km morro acima sem parar e peguei os bastões numa rampa mais inclinada abaixo de um teleférico de esqui. Foi como ter tração dupla, subi de novo tratorando e passando todo mundo. Logo depois do topo veio uma descida forte em encosta e vi uma estrada lá embaixo no vale. Olhei a altimetria e vi apenas 500 m de ascensão, fiquei achando que seria só aquilo mas 'felizmente' logo subimos outra rampa de pedras vulcânicas e aí a brincadeira ficou séria. Terreno altamente técnico, blocos de pedras, dunas de brita vulcânica, cristas e descidas fortes para então entrar numa floresta espetacular.

Dentro de uma cratera

Eu mereço alguns minutos a menos no tempo por essas imagens...

A floresta mais corrível que eu já vi

Aquilo ali deveria ser locação de comercial de tênis de corrida. Um bosque perfeito e um trilha larga e totalmente perfeita para correr em todos os sentidos. Segui quase que rindo, filmando e curtindo a corrida. Mas a perfeição durou pouco, na parte mais baixa do vale tinha muita água na trilha, várias árvores caídas e pedras, além de lama em boa quantidade. Ali já tinha aprendido a correr na coisa pegajosa ao conversar com o Chico Santos no almoço do primeiro dia: vai pelo meio, corre como se a lama não estivesse alí. Deu algum resultado. Despenquei montanha abaixo e só parei uma vez pra arrumar o tênis. Foram cerca de 15 km descendo sempre, um percurso espetacular.

A chegada foi no meio da trilha, numa clareira que dava para uma estrada de terra. Ali o chip de crono era computado e fomos colocados num ônibus para ir até a chegada 'oficial', basicamente um baita campo com tendas de alimentação, pódio, etc. Lá havia outro pórtico de chegada com fotógrafos e câmeras, mas achei bem estranho chegar não chegando, tendo chego de verdade em lugar nenhum.

Almocei, peguei a mochila principal e troquei de roupa, fiz a saída do Chile no posto policial instalado ali mesmo para facilitar a logística de quem ia para a Argentina. Encontrei o Anastácio e nos despedimos da galera antes de ir para o ônibus. Mas ainda estávamos no Chile, de modo que ainda havia uma fronteira para fazer. E isso nos custou outra novela, uma burocracia burra que nos fez sair às 17 horas e chegar em Bariloche só às dez da noite. Não dá pra entender essa mania sul americana de complicar as fronteiras.

Uma vez em Bariloche ainda encontramos tempo pra achar uma cervejaria artesanal que foi visitada três vezes e fizemos a trilhinha do Cerro Campanário na manhã antes de pegar o vôo de volta junto com o Fábio Leme, também conhecido como "oito e meia", para diferenciar do Espíndola de Floripa :-). Foi outra pernada longa com pernoite em Guarulhos devidamente acantonado debaixo dos bancos.

Mais um cume patagônico no currículo do Anastácio, graças e minha genialidade
O Lago ! Bariloche sempre sencional.
Viagem, montanha, corrida, acampamentos e amigos malucos reunidos, só posso dizer que foi excelente ! Agora vamos ao próximo desafio. Antes só preciso arrumar tempo para editar o vídeo, ainda não consegui ver todos os pedaços, que dirá editar o longa-metragem, mas vai sair. Até mais.

Praça de alimentação do Cruce com a galera reunida
Tomando conta do campo 1
Dados técnicos

Aqui estão os tracks do GPS dos dias 1, 2 e 3. Como o percurso sempre muda, não vai servir pra nada a não ser registro do que foi. Como já falado, a alteração do dia 2 reduziu em muito a distância e altimetria da prova. Isso fez com que eu forçasse o que não forçaria naquele dia, talvez tenha impactado no terceiro. Além disso, o primeiro dia com aquilo tudo de lama e mais 3 km foi totalmente fora do planejado e tive que adaptar o ritmo. Terminei com o tempo total de 11h01min15seg na 77ª colocação na categoria sub-40 anos e 112 geral dentre 1102 concluintes, sendo o 14º brasileiro. O que dá a entender que os argentinos, que dominam em quantidade, correm pra caramba e estão todos com menos de 40 anos :-).

Não tive dor nenhuma exceto alguma muscular logo após as provas, que resolvia na tenda de massagem ou no lago gelado. Incrivelmente consegui consertar de vez o tendão de aquiles correndo o maior volume que já corri, em morros e trilhas.

A suplementação foi bem simples: carbup em pó diluído em água, mariolas e capsulas de bcaa durante a corrida. No primeiro dia também comi um punhado de castanhas e duas bananas com gatorade no posto de apoio. As quantidades de carbo foram no esquema 0,7gr/kg/h e deu certo.

Sobre os equipos, esta prova exige um bocado. Do tênis à mochila, é preciso selecionar com cuidado o que será usado, pois além de ser no fim do mundo, o fato de ser um dia depois do outro e mais outro correndo faz com que qualquer problema apareça e seja amplificado. Nisso, o resultado foi melhor do que a encomenda, tudo 100% perfeito.

Usei o Salomon Sense Mandra, um tênis low drop espetacular (O Dakota Jones também usava um hehehe). Bermuda de competição com bolsos laterais e a camiseta da prova nos três dias, alternando o corta-vento e a camiseta primeira pele em função do clima. Também corri com meias de compressão todos os dias e foi show.

A mochila foi a Quechua Extend, que surpreendeu. Conseguir enfiar nela corta-vento, polartec, primeira pele, manta de sobrevivência e saco de bivaque, óculos escuro, boné, bolsa dágua de 2L, GoPro e castanhas além do par de bastões preso por fora. Não dá pra acreditar que cabe aquilo tudo, e quando você esvazia, volta ao tamanho minúsculo normal.

A tralha toda coube na mochilinha preta.. exceto a lata do carbup, claro.
Falando em corta-vento o que usei também foi excelente, um top de linha da Quechua muito leve, logo sai um review dele. O bastão também é fundamental. Embora tenha usado pouco, se pagou totalmente na subida do terceiro dia onde engatei a reduzida, olhei pra cima e só parei no topo de uma subida deveras empinada e enorme. Usei um modelo da Aztec não regulável, feito de duralumínio conectado por elásticos (como armação de barraca), com 240 gr o par. Forte e leve.

Além das coisas de corrida, corri também com a GoPro, as garrafinhas de gel, RoadID, Buff da prova e boné e um saco estanque com o passaporte, dinheiro e cartão. Uma tralha danada mas que foi toda utilizada, nada sobrou (exceto as castanhas no terceiro dia e a grana ;-).

Campo 1, Osorno !